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Restaurador descobriu mescla de versões
Profissional brasileiro identificou que trechos atribuídos a "Cabiria" de 1914 pertenciam ao filme de 1931
DA REPORTAGEM LOCAL
"Acho que a primeira restauração de "Cabiria" foi feita pelo
próprio [diretor Giovanni] Pastrone", diz o restaurador brasileiro João Sócrates de Oliveira,
que acaba de recuperar a obra
do cineasta italiano.
Oliveira se refere à segunda
versão de "Cabiria", lançada
por Pastrone em 1931. O diretor
refez a partitura musical -depois de desavenças com o autor
da trilha original, Ildebrando
Pizzetti-; acoplou a música ao
filme, num momento em que o
cinema se tornava sonoro, e
acrescentou cenas filmadas
posteriormente, para dar mais
clareza e agilidade à história,
que encurtou em quase uma
hora em relação à original.
Ao analisar o material de
"Cabiria", Oliveira fez uma descoberta que havia passado despercebida nas restaurações anteriores da obra. "No filme que
contém as cenas feitas dentro
do templo de Moloch há sinais
indicativos de uma tecnologia
que não existia em 1914", diz.
A desatenção fez com que a
versão considerada "original"
de "Cabiria" incluísse cenas
que Pastrone filmou em algum
momento entre 1920 e 1926.
"Em todos os trabalhos de
restauração que fiz, sempre
acrescentei mais coisas do que
tirei. "Cabiria" foi o primeiro em
que tirei mais do que adicionei", diz Oliveira, agora dedicado à restauração de "Os Nibelungos" (1924), de Fritz Lang.
O Museu de Turim reputa a
versão de Oliveira como "95%
confiável em relação ao original". O restaurador acha que o
índice é maior, "de 99%".
A Mostra de Cinema de São
Paulo exibirá ambas as versões.
O filme original, de 1914, com
195 minutos de duração, terá
duas sessões, nos dias 26/10 e
28/10, no Cinesesc. A versão de
1931, com 122 minutos, será
apresentada nos dias 30/10 e
1º/11, no Cinesesc e na Sala Cinemateca, respectivamente.
"Persuadi o Leon [Cakoff, diretor da Mostra de SP] a apresentar as duas versões, porque
gosto mais da do Pastrone do
que da minha", diz Oliveira, divertindo-se ao chamar de sua a
versão restaurada de 1914.
O que desagrada o restaurador no resultado que ele mesmo obteve são "certos desastres de imagem que estão ali
para completar o filme, mas
que não fluem bem sempre e às
vezes mais incomodam do que
informam [o espectador]".
A Folha acompanhou a sessão de "Cabiria" promovida pelo Festival de Cannes, em maio
passado, e comprovou que há
variação na qualidade e na tonalidade das imagens.
"Colocamos o filme o mais
perto possível do original, mas
fica uma colcha de retalhos",
diz Oliveira, que utilizou material oriundo de museus e países
distintos. Ainda assim, "Cabiria" é um monumento.
(SA)
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