São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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Restaurador descobriu mescla de versões

Profissional brasileiro identificou que trechos atribuídos a "Cabiria" de 1914 pertenciam ao filme de 1931

DA REPORTAGEM LOCAL

"Acho que a primeira restauração de "Cabiria" foi feita pelo próprio [diretor Giovanni] Pastrone", diz o restaurador brasileiro João Sócrates de Oliveira, que acaba de recuperar a obra do cineasta italiano.
Oliveira se refere à segunda versão de "Cabiria", lançada por Pastrone em 1931. O diretor refez a partitura musical -depois de desavenças com o autor da trilha original, Ildebrando Pizzetti-; acoplou a música ao filme, num momento em que o cinema se tornava sonoro, e acrescentou cenas filmadas posteriormente, para dar mais clareza e agilidade à história, que encurtou em quase uma hora em relação à original.
Ao analisar o material de "Cabiria", Oliveira fez uma descoberta que havia passado despercebida nas restaurações anteriores da obra. "No filme que contém as cenas feitas dentro do templo de Moloch há sinais indicativos de uma tecnologia que não existia em 1914", diz.
A desatenção fez com que a versão considerada "original" de "Cabiria" incluísse cenas que Pastrone filmou em algum momento entre 1920 e 1926.
"Em todos os trabalhos de restauração que fiz, sempre acrescentei mais coisas do que tirei. "Cabiria" foi o primeiro em que tirei mais do que adicionei", diz Oliveira, agora dedicado à restauração de "Os Nibelungos" (1924), de Fritz Lang.
O Museu de Turim reputa a versão de Oliveira como "95% confiável em relação ao original". O restaurador acha que o índice é maior, "de 99%".
A Mostra de Cinema de São Paulo exibirá ambas as versões. O filme original, de 1914, com 195 minutos de duração, terá duas sessões, nos dias 26/10 e 28/10, no Cinesesc. A versão de 1931, com 122 minutos, será apresentada nos dias 30/10 e 1º/11, no Cinesesc e na Sala Cinemateca, respectivamente.
"Persuadi o Leon [Cakoff, diretor da Mostra de SP] a apresentar as duas versões, porque gosto mais da do Pastrone do que da minha", diz Oliveira, divertindo-se ao chamar de sua a versão restaurada de 1914.
O que desagrada o restaurador no resultado que ele mesmo obteve são "certos desastres de imagem que estão ali para completar o filme, mas que não fluem bem sempre e às vezes mais incomodam do que informam [o espectador]".
A Folha acompanhou a sessão de "Cabiria" promovida pelo Festival de Cannes, em maio passado, e comprovou que há variação na qualidade e na tonalidade das imagens.
"Colocamos o filme o mais perto possível do original, mas fica uma colcha de retalhos", diz Oliveira, que utilizou material oriundo de museus e países distintos. Ainda assim, "Cabiria" é um monumento. (SA)


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