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FERNANDO BONASSI
Pequenos grandes homens
Nesses monarcas potenciais, poder e solidão reforçam-se mutuamente
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SÃO HOMENS solitários e cheios
de poder...
Esses homens cujo supremo
querer concentra, reflete ou explora
os demais menores prazeres da
maioria dos outros iguais.
De longe podem ser considerados
normais, mas são homens ligados
demais à terra de onde brotaram,
nasceram e foram arrancados para
vencer.
Lavados e ungidos para aparecer,
são guindados ao estrelato por urnas
de votação e comerciais de televisão,
levados à administração direta dos
interesses mais contraditórios.
Em seus múltiplos lados opostos
são meros empregados dos patrões
que lhes pagaram as eleições ou representantes dos pesadelos e anseios das multidões, comportando-se como pregadores empedernidos,
atletas republicanos ou místicos
cheios de planos, fornidos por compêndios de auto-ajuda e seduzindo-se com a ira dos deuses que juraram
abjurar em nome dos cidadãos que
almejam governar, parasitar ou destruir.
São, ainda assim, homens educados nas artes do poder solidário pelas vias esquisitas dessa democracia
de baixos salários que ajudamos a
constituir, por constituições que podem não ser desastrosas, mas são
sim monstruosas aberrações jurídicas e muito judiciosamente preparadas pelos que legislam no conluio
de permanecer no poder.
Acontece que nesses monarcas
potenciais, poder e solidão reforçam-se mutuamente em fricções de
cunhos genitais, como tensões pré-menstruais, que explodem nos contatos populares.
São líderes seculares e passionais
como heróis épicos e marginais patéticos como todos os boçais que se
afeiçoam à autoridade delegada.
Estão então, por força dessa devoção, ou servidão, presos às letras das
leis que viabilizaram suas candidaturas e legislaturas, o que não significa que não tenham lá os seus sonhos senhoriais, em que reinam como generais de ditaduras, essas épocas que todos odiamos e ao mesmo
destempero sentimos falta, como se
um estuprador romano afagasse e
afogasse nosso desencanto de escravos.
Mas aqui não se trata de seres banais!
Tratamos é desses homens de inspirações geniais, venenosas ou simplesmente venais, que também são
seus defeitos morais congênitos e
cuja mistura, boa ou má, dependerá
da trajetória que pretendem traçar,
desfazer ou recontar.
Arrivistas de palavras arrebatadas, suas favas descontadas precisam ser tomadas com certo duplo
sentido, já que são seres errantes entre a poesia, a prosa vazia e as piadas
desgraçadas dessas coisas peripatéticas da política.
São espartanos viciados na velocidade da juventude, sociólogos troianos de caducos, filósofos doutores
da dupla personalidade, funcionários carolas da mediocridade ou apenas operários da desesperança, entre lampejos grandiosos, destemperança e perversões horrorosas.
São corajosos como terroristas
suicidas, moralistas como marxistas
aposentados ou mesmo indefesos
como Marats doentes em burguesas
banheiras quentes, tratados por enfermeiras de convênios escusos, assessores publicitários obscuros ou
prostitutas assassinas.
Inocentes como meninas, são
igualmente psicopatas que não sentem culpa pelo tormento que provocam às suas vítimas, assimilando,
quando muito, a íntima e infinita
confusão de sua ação em discursos
sem sentido.
São homens que se vêem por dentro de tudo do que querem se excluir, com esse medo psiquiátrico e
vaidoso de sumir ou serem postos de
fora do jogo e de algo em que se consideram o centro.
São poderosos visionários como
lobos legionários que pastam no deserto, ou galinheiro, da esperteza;
pastores de ovelhas da avareza ou
maníacos depressivos em seus sonhos lesivos à natureza da humanidade que cativam.
De forma que também são esses
homens pacatos aqueles cuja inclemência devemos temer, pois a pequenez de sua coragem aliada à
grandeza dos seus desejos pessoais
podem se transformar em vertigem
contagiosa quando encantam e
traumatizam as forças psicossociais!
São, portanto, esses homens eventuais e extraordinários de verdade
que conduzem no peito a violenta
racionalidade da revolução, a reação
agourenta da fé ou se põem a dar tiros nos pés, cujo efeito é um rastro
de sangue deixado para localizar
seus fatos e feitos históricos.
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