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crítica
Babenco acerta com suspense sentimental
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"O amor pode ser
recíproco,
mas o fim do
amor, não, nunca", escreve
Alan Pauls a certa altura
de seu romance "O Passado". Desse descompasso
dramático se alimentam o
livro do escritor argentino
e o filme que Hector Babenco extraiu dele.
Depois de 12 anos de
harmonia quase inverossímil, os jovens Rímini (Gael
García Bernal) e Sofía
(Analía Couceyro) se separam. Rímini quer começar
vida nova; Sofía quer mantê-lo preso ao passado.
Belo, inteligente, sedutor, Rímini tem todas as
possibilidades da vida
abertas à sua frente. Cada
mulher com quem se envolve -Vera, Carmem,
Nancy- é uma porta para
um recomeço. Mas, no
meio do caminho, há uma
pedra chamada Sofía.
O embate entre a esperança de futuro e o peso
opressivo do passado torna o presente de Rímini
(de cujo ponto de vista a
história é narrada) um terreno tenso e perigoso. Há
no romance uma espécie
de suspense sentimental
que Babenco captou admiravelmente, e este é um
dos méritos de seu filme.
Outro acerto essencial
do cineasta e de sua co-roteirista Marta Góes foi deixar de lado a maioria das
subtramas e digressões do
livro. O romance é caudaloso; o filme é enxuto.
O Brasil que aparece na
tela, por exemplo, é um
primor de síntese. Rímini
compra óculos escuros
num camelô da Luz; em
seguida aparece no prédio
da Bienal. A miséria e a sofisticacão, o moderno e o
arcaico: o Brasil como um
grande camelódromo com
ilhas de civilização. Houve
quem acusasse livro e filme de misoginia, houve
quem os visse como odes
às múltiplas faces do feminino. Esse desacordo mostra que ambos estão vivos.
O PASSADO
Direção: Hector Babenco
Com: Gael García Bernal, Analía Couceyro, Moro Anghileri,
Paulo Autran
Quando: hoje, às 21h, só para
convidados no Auditório Ibirapuera; na Mostra: 24/10, às
22h10, no Cinesesc, 26/10, às
18h10, no Cine Bombril, 28/
10, às 19h, no Eldorado; estréia em 26/10 nos cinemas
Avaliação: ótimo
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