São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2007

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Réplica

Meu projeto para o MuBE é mostrar arte

JACOB KLINTOWITZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Neste momento o Museu Brasileiro da Escultura, MuBE, apresenta duas mostras. A primeira é do escultor uruguaio Pablo Atchugarry, com 41 mármores e um bronze. A segunda é de 53 pinturas de César Romero, colorista brasileiro.
O crítico da Folha Fabio Cypriano afirmou que o MuBE é incoerente por, em mostra anterior (marco inicial), apresentar a pintura de Sérgio Lucena -e se chamar Museu da Escultura. Dupla confusão: a primeira mostra na minha gestão foi de Adriana Oliveira, jovem pesquisadora, que apresentou "De Pessoas, Peixes e Pássaros", onde registra o movimento do ser no planeta.
Mostra de poucos recursos, mas extremamente poética.
A segunda confusão é inacreditável: acredita o crítico que, por se chamar Museu da Escultura, o espaço só possa receber escultura. Fosse assim, a Pinacoteca não poderia ter exposto Rodin. Os museus, destinados à guarda de obras, não poderiam ter mostras temporárias...
E, também, com um simples telefonema, poderia ter minorado a sua angústia terminológica e saberia que o MuBE tem acertado exposições nos próximos meses dos escultores Caciporé Torres, Yutaka Toyota, Rainaldi Oliviero, Newton Mesquita (pinturas, esculturas), Yukio Suzuki (retrospectiva também com obras tridimensionais) e Paulino Lazur.
Mas o seu único telefonema foi para saber se a cenografia fora da minha filha e afirmar, posteriormente, que dificilmente o arquiteto do MuBE, Paulo Mendes da Rocha, teria previsto uma parede baixa como espaço expositivo. Vulgar insinuação de nepotismo e ignorância do crítico.
Paulo e eu fizemos muitos trabalhos juntos. E as montagens dele são sempre inovadoras. E a arquiteta Danielle Klintowitz fez a montagem a convite do artista e conhece muito bem o pensamento do Paulo, pois esteve por um ano em seu escritório e é estudiosa da sua obra. Naturalmente, os que ignoram tendem a falar de como os que, para eles, são distantes mitos, pensariam. E, curiosamente, sempre dizem que os sábios condenariam... Eles gostam de restrições.
O crítico diz que apresento trabalhos que não costumam ser exibidos em instituições museológicas e pouco inscritos na produção contemporânea. E esta afirmação tendo visto uma única exposição! Ora, há uma ditadura, uma hegemonia, um pensamento único, que este senhor nos impõe? Freqüentador a vida inteira de museus, neles já vi de tudo, do sublime ao imaturo. E discuti a linguagem contemporânea da arte e da cultura em mais de cem livros. Só não li este manual que orienta tão rigidamente o crítico e diz que todos devemos fazer as mesmas coisas.
Diz o repórter que eu não sou ruptura, mas continuidade, numa pretensa guerra no MuBE.
Felizmente, não quero destruir ninguém. Fui convidado inúmeras vezes e, quando aceitei, fui referendado por unanimidade, em três ocasiões, pela diretoria e por uma assembléia extraordinária. Eu sou apenas a favor da arte, da sensibilidade e da liberdade de expressão. E o meu projeto para o MuBE é igualmente simples: o museu mostrará arte. Ah, um dado espantoso e inédito: Fabio Cypriano, em sua crítica a Sérgio Lucena, não diz uma única frase sobre a sua pintura.


JACOB KLINTOWITZ é curador do Museu Brasileiro da Escultura


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