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Réplica
Meu projeto para o MuBE é mostrar arte
JACOB KLINTOWITZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Neste momento o Museu Brasileiro da Escultura, MuBE, apresenta duas mostras. A primeira
é do escultor uruguaio Pablo
Atchugarry, com 41 mármores
e um bronze. A segunda é de 53
pinturas de César Romero, colorista brasileiro.
O crítico da Folha Fabio
Cypriano afirmou que o MuBE
é incoerente por, em mostra
anterior (marco inicial), apresentar a pintura de Sérgio Lucena -e se chamar Museu da
Escultura. Dupla confusão: a
primeira mostra na minha gestão foi de Adriana Oliveira, jovem pesquisadora, que apresentou "De Pessoas, Peixes e
Pássaros", onde registra o movimento do ser no planeta.
Mostra de poucos recursos,
mas extremamente poética.
A segunda confusão é inacreditável: acredita o crítico que,
por se chamar Museu da Escultura, o espaço só possa receber
escultura. Fosse assim, a Pinacoteca não poderia ter exposto
Rodin. Os museus, destinados
à guarda de obras, não poderiam ter mostras temporárias...
E, também, com um simples
telefonema, poderia ter minorado a sua angústia terminológica e saberia que o MuBE tem
acertado exposições nos próximos meses dos escultores Caciporé Torres, Yutaka Toyota,
Rainaldi Oliviero, Newton
Mesquita (pinturas, esculturas), Yukio Suzuki (retrospectiva também com obras tridimensionais) e Paulino Lazur.
Mas o seu único telefonema
foi para saber se a cenografia
fora da minha filha e afirmar,
posteriormente, que dificilmente o arquiteto do MuBE,
Paulo Mendes da Rocha, teria
previsto uma parede baixa como espaço expositivo. Vulgar
insinuação de nepotismo e ignorância do crítico.
Paulo e eu fizemos muitos
trabalhos juntos. E as montagens dele são sempre inovadoras. E a arquiteta Danielle Klintowitz fez a montagem a convite do artista e conhece muito
bem o pensamento do Paulo,
pois esteve por um ano em seu
escritório e é estudiosa da sua
obra. Naturalmente, os que ignoram tendem a falar de como
os que, para eles, são distantes
mitos, pensariam. E, curiosamente, sempre dizem que os
sábios condenariam... Eles gostam de restrições.
O crítico diz que apresento
trabalhos que não costumam
ser exibidos em instituições
museológicas e pouco inscritos
na produção contemporânea. E
esta afirmação tendo visto uma
única exposição! Ora, há uma
ditadura, uma hegemonia, um
pensamento único, que este senhor nos impõe? Freqüentador a vida inteira de museus,
neles já vi de tudo, do sublime
ao imaturo. E discuti a linguagem contemporânea da arte e
da cultura em mais de cem livros. Só não li este manual que
orienta tão rigidamente o crítico e diz que todos devemos fazer as mesmas coisas.
Diz o repórter que eu não sou
ruptura, mas continuidade, numa pretensa guerra no MuBE.
Felizmente, não quero destruir
ninguém. Fui convidado inúmeras vezes e, quando aceitei,
fui referendado por unanimidade, em três ocasiões, pela diretoria e por uma assembléia
extraordinária. Eu sou apenas
a favor da arte, da sensibilidade
e da liberdade de expressão. E o
meu projeto para o MuBE é
igualmente simples: o museu
mostrará arte. Ah, um dado espantoso e inédito: Fabio
Cypriano, em sua crítica a Sérgio Lucena, não diz uma única
frase sobre a sua pintura.
JACOB KLINTOWITZ é curador do Museu Brasileiro da Escultura
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