São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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Srur veste colete salva-vidas em estátuas de SP

De Camões a Borba Gato, "Sobrevivência" chama a atenção para monumentos

Artista ficou conhecido por intervenções públicas, como as garrafas PET no rio Tietê; ele diz usar o "sistema" para realizar suas idéias


FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O artista Eduardo Srur lança mais um enigma aos moradores de São Paulo, desta vez menos óbvio que as garrafas PET gigantes que ele instalou este ano no rio Tietê, mas de visual tão interessante quanto. Srur escolheu 16 monumentos públicos para instalar 24 salva-vidas, como nas estátuas de Camões, Rui Barbosa e Borba Gato (veja o mapa ao lado).
A intervenção, autorizada por órgãos públicos e detentores dos direitos das obras, começou a ser feita ontem. Os coletes, feitos de espuma e nylon, ficarão por dois meses.
De salva-vidas, as estátuas tratadas por Srur parecem esperar pelo pior. Talvez o dilúvio anunciado do aquecimento global? Ou as famosas enchentes de uma cidade que naufraga? Na verdade, explica o artista, muitas delas já estão na pior, maltratadas pelo tempo, pichadores, políticas públicas.
E, com os adereços laranja e apitos gigantes, o artista quer retirá-las do esquecimento.
"O colete simboliza o salvamento, mas também vai além disso", diz Srur, que chamou o trabalho de "Sobrevivência".
"Faço uma provocação ao público. Não é só o problema do monumento, mas também da memória daquele que passa pelo monumento. A gente caminha anestesiado! Então proponho um resgate dos sentidos para quem se desloca por SP."
Srur diz que cada colete tem estrutura de fixação com cabos de aço encapados para não danificar as obras. O do bandeirante Borba Gato (Zona Sul) será o maior, com seis metros.
Um vídeo do processo será exibido de domingo até 14/12, no Centro Cultural Banco do Brasil, patrocinador do projeto.

Usando o sistema
Srur, 34, virou um especialista em realizar obras pela cidade. Neste ano, apresentou seu trabalho de maior porte, com garrafas PET gigantes e iluminadas nas margens do rio Tietê, num alerta à degradação do rio.
Formado pela Faculdade de Artes Plásticas da Faap, Srur é artista da galeria Vermelho e hoje consegue descolar patrocínios de grandes empresas -ele que começou como o artista "rebelde" que detonava bombas de tinta em outdoors da cidade, para fazer o vídeo "Atentado", ou colocava, sem autorização, uma âncora no Monumento às Bandeiras.
"Essa postura rebelde funciona dependendo muito da estratégia de cada projeto. Esse das estátuas seria inviável sem o apoio dos órgãos públicos e da iniciativa privada", diz à Folha.
"São empreendimentos grandes, que exigem dinheiro, pessoas profissionais. Não vejo problema algum em estar associado a instituições culturais que banquem minhas idéias. O sistema está aí para nos servir."
Mas Srur conta que tem outros projetos que vão caminhar sem autorização. E promete um já para o primeiro semestre de 2009. Ele faz suspense, diz que ainda é cedo, mas dá duas dicas: "É indoor", e tem a ver com "supermercado."


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