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Srur veste colete salva-vidas em estátuas de SP
De Camões a Borba Gato, "Sobrevivência" chama a atenção para monumentos
Artista ficou conhecido por intervenções públicas, como as garrafas PET no rio Tietê; ele diz usar o "sistema" para realizar suas idéias
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O artista Eduardo Srur lança
mais um enigma aos moradores de São Paulo, desta vez menos óbvio que as garrafas PET
gigantes que ele instalou este
ano no rio Tietê, mas de visual
tão interessante quanto. Srur
escolheu 16 monumentos públicos para instalar 24 salva-vidas, como nas estátuas de Camões, Rui Barbosa e Borba Gato (veja o mapa ao lado).
A intervenção, autorizada
por órgãos públicos e detentores dos direitos das obras, começou a ser feita ontem. Os coletes, feitos de espuma e nylon,
ficarão por dois meses.
De salva-vidas, as estátuas
tratadas por Srur parecem esperar pelo pior. Talvez o dilúvio
anunciado do aquecimento global? Ou as famosas enchentes
de uma cidade que naufraga?
Na verdade, explica o artista,
muitas delas já estão na pior,
maltratadas pelo tempo, pichadores, políticas públicas.
E, com os adereços laranja e
apitos gigantes, o artista quer
retirá-las do esquecimento.
"O colete simboliza o salvamento, mas também vai além
disso", diz Srur, que chamou o
trabalho de "Sobrevivência".
"Faço uma provocação ao
público. Não é só o problema do
monumento, mas também da
memória daquele que passa pelo monumento. A gente caminha anestesiado! Então proponho um resgate dos sentidos
para quem se desloca por SP."
Srur diz que cada colete tem
estrutura de fixação com cabos
de aço encapados para não danificar as obras. O do bandeirante Borba Gato (Zona Sul) será o maior, com seis metros.
Um vídeo do processo será
exibido de domingo até 14/12,
no Centro Cultural Banco do
Brasil, patrocinador do projeto.
Usando o sistema
Srur, 34, virou um especialista em realizar obras pela cidade. Neste ano, apresentou seu
trabalho de maior porte, com
garrafas PET gigantes e iluminadas nas margens do rio Tietê,
num alerta à degradação do rio.
Formado pela Faculdade de
Artes Plásticas da Faap, Srur é
artista da galeria Vermelho e
hoje consegue descolar patrocínios de grandes empresas
-ele que começou como o artista "rebelde" que detonava
bombas de tinta em outdoors
da cidade, para fazer o vídeo
"Atentado", ou colocava, sem
autorização, uma âncora no
Monumento às Bandeiras.
"Essa postura rebelde funciona dependendo muito da estratégia de cada projeto. Esse
das estátuas seria inviável sem
o apoio dos órgãos públicos e da
iniciativa privada", diz à Folha.
"São empreendimentos
grandes, que exigem dinheiro,
pessoas profissionais. Não vejo
problema algum em estar associado a instituições culturais
que banquem minhas idéias. O
sistema está aí para nos servir."
Mas Srur conta que tem outros projetos que vão caminhar
sem autorização. E promete
um já para o primeiro semestre
de 2009. Ele faz suspense, diz
que ainda é cedo, mas dá duas
dicas: "É indoor", e tem a ver
com "supermercado."
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