São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA DE SP

Análise

Retrospectiva traz versatilidade de Kihachi Okamoto

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Ao longo do ano, circularam rumores de que a 32ª edição da Mostra comemoraria o centenário da imigração japonesa com uma retrospectiva peso-pesado do cinema nipônico.
Ao anunciar os títulos selecionados, muita gente deve ter se perguntado onde estavam os grandes nomes históricos do cinema do Japão. A resposta para os não-iniciados: bastava um, o do pouco conhecido Kihachi Okamoto, com 14 títulos de uma filmografia de 39 longas.
Além da comunidade nipônica, o nome de Okamoto faz parte do repertório dos freqüentadores do mítico circuito de salas da Liberdade. Iniciada no fim dos anos 40, a exibição no circuito composto pelos cines Niterói, Tóquio (depois Nikkatsu), Jóia e Nippon coroou um processo iniciado em 1929, quando a presença de imigrantes passou a estimular a importação de filmes japoneses, cuja circulação nutriu gerações de uma cultura cinematográfica que só passou a circular na Europa a partir dos anos 50.
Com o centenário era a hora de recapitular parte dessa história, e a escolha de Okamoto, se pode não soar perfeita, não deixa de ser estimulante.
Pode parecer forçado identificar em Okamoto um "autor", no sentido em que se aplica o termo às obras de Ozu, Mizoguchi, Kurosawa ou Naruse. Mas basta acompanhar sua trajetória ao longo dos 14 títulos selecionados para verificar uma personalidade que se consolida a partir tanto de temas como de um expressionismo visual que caracteriza fortemente o cinema feito no Japão.
Tal assinatura torna-se ainda mais singular na medida em que sua filmografia foi executada sob o regime do sistema de estúdios, com suas regras rígidas de ascensão via assistência e, depois de alçado ao posto de direção, a obediência aos códigos de gêneros. Não à toa, o cinema de Okamoto salta à vista prioritariamente como exercício de estilo dentro de gêneros como os filmes de yakuza, os de guerra e as comédias.

Vários gêneros
A veia de Okamoto pode aparecer com uma versatilidade que transita desde a comédia de costumes de "Tudo sobre Casamento" (sua estréia na direção) e na fina ironia sobre situações de cotidiano, como em "A Vida Elegante do Sr. Comum" até o burlesco mais rasgado de "Oh, Minha Bomba!".
Mas é no âmbito do filme de ação que Okamoto sente-se mais à vontade, e a regra vale tanto para os policiais quanto para os dramas de guerra que consolidaram seu renome.
Do primeiro time, a mostra traz alguns destaques. Em "O Último Tiroteio", Okamoto dialoga com as soluções híbridas de gêneros que Seijun Suzuki havia posto em prática.
Já em "A Era dos Matadores", considerado obra-prima, a história de um agente que se infiltra num hospício para neutralizar os planos de um maníaco justifica as comparações do cinema de Okamoto com o do americano Samuel Fuller.
Deste parentesco brotam as mais indispensáveis presenças nesta retrospectiva: a dos filmes de guerra com abordagem antibelicista. O recorte na obra de Okamoto começa com "Desperado - Posto Avançado", passa por "Forte Sepultura" e "Bala Humana" e culmina em "O Imperador e um General", painel quase intimista dos bastidores da rendição japonesa no fim da Segunda Guerra.

OKAMOTO NA MOSTRA

"O Último Tiroteio"
hoje, às 14h30; dom., às 18h, na Cinemateca; 16 anos

"Desperado"
dia 26, às 21h30; dia 30, às 20h20, na Cinemateca; 16 anos

"O Imperador e um General"
dia 24, às 14h30; dia 30, às 18h10, na Cinemateca; 16 anos

"Bala Humana"
dia 23, às 18h; dia 26, às 19h10, na Cinemateca; 16 anos


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