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32ª MOSTRA DE SP
Análise
Retrospectiva traz versatilidade de Kihachi Okamoto
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Ao longo do ano, circularam rumores de que a
32ª edição da Mostra
comemoraria o centenário da
imigração japonesa com uma
retrospectiva peso-pesado do
cinema nipônico.
Ao anunciar os títulos selecionados, muita gente deve ter
se perguntado onde estavam os
grandes nomes históricos do cinema do Japão. A resposta para
os não-iniciados: bastava um, o
do pouco conhecido Kihachi
Okamoto, com 14 títulos de
uma filmografia de 39 longas.
Além da comunidade nipônica, o nome de Okamoto faz parte do repertório dos freqüentadores do mítico circuito de salas da Liberdade. Iniciada no
fim dos anos 40, a exibição no
circuito composto pelos cines
Niterói, Tóquio (depois Nikkatsu), Jóia e Nippon coroou
um processo iniciado em 1929,
quando a presença de imigrantes passou a estimular a importação de filmes japoneses, cuja
circulação nutriu gerações de
uma cultura cinematográfica
que só passou a circular na Europa a partir dos anos 50.
Com o centenário era a hora
de recapitular parte dessa história, e a escolha de Okamoto,
se pode não soar perfeita, não
deixa de ser estimulante.
Pode parecer forçado identificar em Okamoto um "autor",
no sentido em que se aplica o
termo às obras de Ozu, Mizoguchi, Kurosawa ou Naruse. Mas
basta acompanhar sua trajetória ao longo dos 14 títulos selecionados para verificar uma
personalidade que se consolida
a partir tanto de temas como de
um expressionismo visual que
caracteriza fortemente o cinema feito no Japão.
Tal assinatura torna-se ainda
mais singular na medida em
que sua filmografia foi executada sob o regime do sistema de
estúdios, com suas regras rígidas de ascensão via assistência
e, depois de alçado ao posto de
direção, a obediência aos códigos de gêneros. Não à toa, o cinema de Okamoto salta à vista
prioritariamente como exercício de estilo dentro de gêneros
como os filmes de yakuza, os de
guerra e as comédias.
Vários gêneros
A veia de Okamoto pode aparecer com uma versatilidade
que transita desde a comédia
de costumes de "Tudo sobre
Casamento" (sua estréia na direção) e na fina ironia sobre situações de cotidiano, como em
"A Vida Elegante do Sr. Comum" até o burlesco mais rasgado de "Oh, Minha Bomba!".
Mas é no âmbito do filme de
ação que Okamoto sente-se
mais à vontade, e a regra vale
tanto para os policiais quanto
para os dramas de guerra que
consolidaram seu renome.
Do primeiro time, a mostra
traz alguns destaques. Em "O
Último Tiroteio", Okamoto
dialoga com as soluções híbridas de gêneros que Seijun Suzuki havia posto em prática.
Já em "A Era dos Matadores", considerado obra-prima, a
história de um agente que se infiltra num hospício para neutralizar os planos de um maníaco justifica as comparações do
cinema de Okamoto com o do
americano Samuel Fuller.
Deste parentesco brotam as
mais indispensáveis presenças
nesta retrospectiva: a dos filmes de guerra com abordagem
antibelicista. O recorte na obra
de Okamoto começa com "Desperado - Posto Avançado", passa por "Forte Sepultura" e "Bala Humana" e culmina em "O
Imperador e um General", painel quase intimista dos bastidores da rendição japonesa no
fim da Segunda Guerra.
OKAMOTO NA MOSTRA
"O Último Tiroteio"
hoje, às 14h30; dom., às 18h,
na Cinemateca; 16 anos
"Desperado"
dia 26, às 21h30; dia 30, às
20h20, na Cinemateca; 16
anos
"O Imperador e um General"
dia 24, às 14h30; dia 30, às
18h10, na Cinemateca; 16
anos
"Bala Humana"
dia 23, às 18h; dia 26, às
19h10, na Cinemateca; 16
anos
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