São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Mônica Bergamo

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Bruno Mazzeo estreia série cômica na Globo, filma o segundo longa e diz que gostaria de "viver um vilão de Gilberto Braga"

Fotos Luciana Whitaker/Folhapress
Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio, no Palácio Capanema, no centro doRio

Dois homens estão sentados no parapeito da cobertura do Palácio Capanema, no centro do Rio. "Você já disse eu te amo?", um pergunta, enquanto mira o horizonte nublado naquela tarde de sábado. "Já. Pra minha mãe. E pra todas que eu queria comer", responde o outro, rindo. O espectador não irá ver, mas enquanto dialogam ambos estão sendo segurados por um cabo de aço.

 


"Nunca fiquei tão cagado na minha vida", diz o roteirista, ator e humorista Bruno Mazzeo, no 16º andar, a Augusto Madeira, seu colega nesta cena do longa-metragem "Cilada.Com". "Ontem, quando a cena era de sexo, estava me sentindo o David Cardoso, o rei da pornochanchada. Hoje tô me achando o Bruce Willis. E pensar que, uma vez gravando o Sítio do Picapau Amarelo, eu fiquei com medo de me equilibrar num trampolim com altura de dois andares", diz à repórter Lígia Mesquita.

 


Bruno, 33, é o criador da série que inspirou o filme. "Cilada" foi exibida em seis temporadas no canal pago Multishow e depois adaptada para o "Fantástico". Agora, ao lado do diretor José Alvarenga, leva a atração para as telas de cinema. "Quando a série saiu em DVD fiquei muito feliz. Me incomoda o fato de a TV ser tão descartável. Você fica um tempão fazendo uma coisa, um dia vai ao ar e depois acaba."

 


Trabalhar com humor, diz, foi "um caminho natural". Desde criança, acompanhava o pai, Chico Anysio, nas gravações dos humorísticos dele. Na adolescência, começou a mostrar as piadas que fazia e conseguiu que algumas fossem utilizadas na "Escolinha do Professor Raimundo". "Sempre fui um cara humorado, com visão crítica. E acho um problema gravíssimo quem não tem humor." O que começou quase como brincadeira, virou trabalho. Foi redator de "Sai de Baixo" e "A Diarista", entre outras atrações.

 


"Vai uma água?", pergunta um produtor. "Só se for cheia de açúcar", responde Bruno, enquanto é ajudado a descer do parapeito da cobertura. "Nossa, tava tudo bem até que resolvi dar uma "manjada" e olhei pra baixo. Pra quê?" Tira os óculos do personagem, acende um cigarro e pega seu iPhone. Minutos depois, coloca em sua página no Twitter uma foto da cena à la Bruce Willis.

 


Bruno faz parte da chamada nova geração de humoristas, que atua em diferentes mídias e se utiliza muito do contato direto com o público por meio da internet. "Acho que o descompromisso é a característica dessa turma de não atores e de não personagens. Falamos muito do cotidiano. É quase uma pessoa física falando umas besteiras", diz, largado no sofá do set com os pés em cima de uma mesinha, tomando mais um copo de café enquanto espera a chuva passar para filmar.

 


"Vamos lá, gente! Abriu o tempo e saiu um solzinho", pede o diretor José Alvarenga. Bruno se posiciona em cena e ensaia uma vez. Na segunda, um avião decola no aeroporto Santos Dumont, que fica ao lado do edifício. Corta. "Bruno, essa não foi boa. Vamos pegar ritmo!", pede Alvarenga. "Agora tá perfeito!", diz o diretor. "Ficou fofo?", pergunta o ator.

 


"É o meu projeto "Quero ser Selton Mello"." É a resposta que o humorista dá a quem lhe pergunta sobre sua recente experiência com o cinema. Antes de "Cilada.Com", Bruno escreveu, coproduziu e atuou em "Muita Calma Nessa Hora", que estreia em novembro. E já está escalado para um longa com texto de Marcelo Rubens Paiva, a ser rodado em 2011. Há alguns anos, ele, que estudou teatro no Tablado e fez faculdade de jornalismo, tem gostado mais de atuar. Chegou, inclusive, a fazer a novela "Beleza Pura", em 2008.

 


Usuário do Twitter, com um perfil que é acompanhado por 480 mil seguidores, diz que já foi "massacrado" com xingamentos de fãs de um cantor por causa de uma piada na rede social. "Um dia vi o Luan Santana cantando na TV e postei no Twitter: "O Luan Santana é o Wagner Moura vesgo"." O comentário se espalhou pela internet e gerou muitas reclamações. "Hoje em dia existe patrulhazinha pra tudo. Se você fizer uma piada com um vendedor de videolocadora, alguém já enche o saco."

 


Em tempos de eleição, Bruno não segue os colegas do meio artístico que se posicionam politicamente na internet. "Como trabalho com humor, a princípio, sou contra todos [políticos]. Como cidadão tenho minhas convicções, mas não divulgo pelo bem das minhas piadas."

 


Assim como as opiniões políticas, ele também gosta que sua vida pessoal não seja escancarada. "Não sou celebridade. Acho cafona quando me fotografam na praia tomando água de coco com meu filho. Mas o que tá em voga é o interesse por coisas desinteressantes." Ele, que disse que gostaria de ver no Google seu nome relacionado a trabalhos legais, hoje se depara com notícias como "Bruno Mazzeo beija morena misteriosa". "Isso me incomoda como artista. E é muito chato, porque nada melhor que beijar na boca dançando em uma festa."

 


Há três semanas, Bruno estreou na TV Globo a série "Junto & Misturado", em que escreve e atua. O programa mostra seis amigos que, entre uma conversa e outra sobre temas do cotidiano como burocracia e sexo, aparecem em esquetes absurdos.

 


De jeans e camiseta, ele chega para as gravações no Projac, central de estúdios da Globo, no Rio. Em pouco tempo o figurino casual dá lugar a paletó, gravata e peruca grisalha para uma cena em que é um apresentador de telejornal. Entra no cenário, ensaia uma vez, grava e, em menos de dez minutos, segue novamente para o camarim, onde uma nova mudança de figurino o transforma em um policial militar. "Não sou muito engraçado. Nunca fui. Posso ter uma tirada ou outra, mas se tem uma roda aqui, não sou eu que vou estar de pé fazendo graça. Não sou gaiato", diz ao repórter Vitor Moreno, que acompanhou a gravação.

 


Bruno afirma que teve liberdade para escolher com quem queria trabalhar. "É um programa de galera. A gente várias vezes se pega em mesa de bar do Baixo Gávea e fala: "Pô, tem metade do elenco aqui". É uma turma que vem junto de várias coisas." Tão junto e misturado, que Bruno inclusive indicou a ex-mulher, Renata Castro Barbosa, para o elenco. "Somos melhores amigos. Nos conhecemos nesse meio."

 


Enquanto almoça no camarim e se desculpa por falar de boca cheia, fala da possível comparação com o pai. "Tem muita coisa que acho parecida com ele: gestos, pausas, respiração, preparar para matar uma piada." Mesmo assim, muitos não o relacionam com Chico Anysio, já que ele usa o sobrenome da mãe, a atriz Alcione Mazzeo.

 


Assim como o pai, diz ter vontade de experimentar outros gêneros. "Quero fazer um papel dramático, um monólogo. Tenho vontade de arriscar, sair da zona de conforto. Meu sonho é viver um vilão do Gilberto Braga."


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