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Cena de "Fragmentos Troianos", montagem de "As Troianas", no palco do teatro Sesc Anchieta

Peça, que teve estréia mundial na Turquia, reabre hoje o teatro Sesc Anchieta, em SP, com a tragédia das vítimas de guerra

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Já se vão quase seis meses da estréia mundial de "Fragmentos Troianos", em Istambul, na Turquia. Finalmente a tragédia chega ao Brasil.
Ainda assim, sexta-feira, num intervalo de ensaio, Antunes Filho não tinha decidido o que fazer com o deus Poseidon -se manteria no final, se voltaria ao início, se cortaria de uma vez.
O diretor diz considerar "Fragmentos", versão de "As Troianas", de Eurípides (495-407 a.C.), sua encenação mais perfeita, porque simples e carregada de ação, sob a capa do lamento religioso das troianas.
Na peça, os gregos vencem a guerra de Tróia e decidem o que fazer com as troianas, entre elas Hécuba, viúva do rei Príamo, e Andrômaca, mãe de Astiânax, possível herdeiro do trono -se restaurado. Os gregos, por fim, dividem entre eles as troianas escravizadas e jogam Astiânax, criança, do alto das muralhas.
A tragédia, na encenação, se reflete no grande crime do século 20, os campos de concentração da Segunda Guerra; nos conflitos étnicos de regiões como os Bálcãs; e no Brasil, em São Paulo, no holocausto cotidiano da cidade miserável e violenta.
"O texto parece estático, choramingas, mas tem ação o tempo todo", diz Antunes. "E não é ação para fazer efeito. É de desespero. Não vou gritar e correr porque é bonito. Vou gritar e correr porque estou desesperado."
"Parece uma peça que não tem nada", prossegue. "Mas, quando não tem nada, é que está funcionando. É nessa simplicidade que eu acho a mise-en-scène uma das melhores que já fiz na vida. Porque ela não chama atenção, as coisas fluem."
A estréia para convidados, hoje às 21h, reabre o Sesc Anchieta depois de um ano e oito meses de reforma. A estréia para o público é amanhã, às 21h30.