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ANÁLISE
Sobre a poesia Barros
da Redação
O poeta mato-grossense Manoel de Barros tem uma dúzia
de livros publicados, nove deles
reunidos em "Gramática Expositiva do Chão - Poesia Quase
Toda" (Civilização Brasileira).
Alguns estão sendo reeditados,
inclusive em formatos para
crianças, como "Poeminhas
Pescados de uma Fala de João"
(Record).
O novo livro, "Exercícios de
Ser Criança", funciona como
uma lição introdutória à obra
do autor. Sua poética tem um
compasso regular, no sentido
de "avançar para o começo",
para "pegar no estame do
som", para ficar com as palavras de seus versos.
A poesia de Manoel de Barros
inscreve-se na melhor tradição
do modernismo brasileiro.
Um exemplo: o sentido de
construção de seus poemas
aproxima-se do Carlos Drummond de Andrade do poema
"Áporo" e das metamorfoses
de Guimarães Rosa, caracterizadas por Haroldo de Campos
como "perturbação do instrumento lingüístico" quando esse poeta-crítico analisa a metamorfose do homem em onça
no conto "Meu Tio, o Iauaretê".
Uma chave para a compreensão da poesia de Barros é perceber para que serve a aparente
desarticulação das expressões.
Elas transfiguram o sentido comunicativo e corriqueiro da
língua.
Barros é um inventor, como
Rosa e o próprio Haroldo de
Campos, com suas galáxias em
transformação, em partículas
subatômicas, pedras e cristais.
O amálgama entre ser e palavra nos poemas de Manoel de
Barros se dá devido a uma contestação do discurso oficial e/
ou preestabelecido. A partir dela o poeta cria uma nova lógica
para a relação entre as imagens
e os objetos que elas representam.
Na introdução à "Gramática
Expositiva do Chão", a professora Berta Waldman destaca a
retomada do olhar da infância
e "a busca da palavra que se
ajuste ao máximo da matéria".
Na poesia dele, o encontro
com a materialidade da palavra
ou a auto-referência lingüística
são análogos a uma forma de
experiência concreta, como a
que ocorre no processo de cognição infantil -uma espécie
de errar a vida ou "aprender a
errar a língua", tautológica e
sincrética.
Com suas invenções, por vezes paradoxais para o discurso
fático, os versos de Manoel de
Barros acusam a consciência
da separação entre arte e mundo.
O paradoxal é que seus poemas brincam com a idéia de
mimetismo animal. Os animais
representados adquirem a cor
do lugar onde estão; o lagarto
funde-se com a pedra, a borboleta confunde-se com a folha.
Com a Menina Avoada e seus
amigos do novo livro acontece
a mesma coisa. Duas rodas de
lata de goiabada transformam
um caixote em um carro puxado por dois bois. "Eu comandava os bois: - Puxa, Maravilha! - Avança Redomão!"
A imaginação literária de
Manoel de Barros, para trazer à
cena Gaston Bachelard, permanece revelando o fenômeno da
metamorfose de um ser para
outro, e acontece no "mistério
da matéria". "Se examinamos
uma imagem literária com
uma consciência de linguagem,
recebemos dela um dinamismo psíquico novo. Portanto,
acreditamos ter a possibilidade
(...) de descobrir uma ação
eminente da imaginação", diz
Bachelard. E o que é melhor para a criança do que isso?
(MRC)
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