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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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CINEMA SECO

Gilvan Barreto/Divulgação
O ator Guilherme Weber, que faz seu primeiro grande papel no cinema, durante filmagem em Arcoverde, Pernambuco



Em novo filme, Lírio Ferreira, diretor do premiado longa "Baile Perfumado", trata da falta de água no Brasil


FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O que une São Paulo à minúscula Rocha, no sertão de Pernambuco? Para o cineasta Lírio Ferreira, a falta d'água. A ironia do recente racionamento na megalópole que transborda tecnologia e concreto caiu como uma luva para o que se quer dizer em "Árido Movie", longa que o co-diretor de "Baile Perfumado" roda há nove dias.
"É um filme sobre falta de água e excesso de informação", explica Ferreira, de Arcoverde, primeira das cinco cidades pernambucanas que concentrarão as locações.
Em torno da história de Jonas, interpretado por Guilherme Weber, consagrado pela curitibana Sutil Companhia de Teatro, é que se desenvolve esse road movie.
Jonas nasce na fictícia Rocha (ambientada em Mimoso, agreste de PE), de onde sai criança, primeiro para o Recife, depois para São Paulo. Vira homem do tempo de uma rede nacional de TV, uma celebridade. É obrigado a retornar pela morte do pai, interpretado por Paulo César Pereio.
Um estrangeiro na sua cidade natal é estimulado pela avó a vingar o assassinato. Mas a água é que permeia tudo. "Arcoverde, Recife ou São Paulo são cidades que têm internet, parabólica, celular... e não têm água. Ela virou, em muitos desses lugares, a moeda do milênio", diz o diretor.
Assim, são abordadas sua utilização política (para comprar votos), econômica (plantar maconha no sertão) e religiosa. Na liturgia da água, o líquido não é usado só para matar a sede, mas para purificar os seguidores de uma seita no Vale do Rocha.
É o nome fictício do real Vale do Catimbau, no agreste pernambucano, onde o líder místico Meu Rei, morto em 99, criou a Fazenda Metafísica e Teológica Princípio de um Reinado. Lá, armazenava água num palácio.
Meu Rei virou Meu Velho e será vivido por José Celso Martinez Corrêa. "Adoro Lírio, adoro Pernambuco, adoro sertão, bode, mandioca", diz o diretor teatral. "Então vou emprestar ao filme a barbona de Antônio Conselheiro", brinca, referindo-se ao papel que faz na peça "Os Sertões".
Como Meu Velho, personagens alegóricos jorram feito água em "Árido Movie". José Dumont faz o índio Zé Elétrico, dono de uma borracharia de beira de estrada. Aramis Trindade é Márcio Greyck, irmão bastardo de Jonas, assim batizado pois a mãe, uma babá, é fã do cantor brega.
Selton Mello interpreta Bob, inspirado no cantor Otto. Giulia Gam é Soledad, artista plástica que vai ao Vale do Rocha pesquisar para criar uma instalação -e vive um romance com Jonas.
O filme tem ainda Luiz Carlos Vasconcelos, Matheus Nachtergaele, Renata Sorrah, Mariana Lima, Jones Melo, Gustavo Falcão, Magdale Alves, a top model cafuza Suyane Moreira, os músicos Lirinha e Ortinho e participação especial de Renato e Seus Blue Caps.
As estrelas, festeja Ferreira, "apostaram no projeto", o que significa dizer que toparam ganhar bem menos que costumam.
A fotografia é do diretor Murilo Salles, que volta à função após 20 anos -depois de "Tabu", de Julio Bressane- e co-produz o filme.
O roteiro, escrito a oito mãos (Ferreira, Sérgio Oliveira, Hilton Lacerda e Eduardo Nunes), foi premiado pelo Ministério da Cultura para a categoria baixo orçamento (até R$ 1 milhão). O diretor negocia aportes que devem elevá-lo a R$ 1,5 milhão.


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