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Álbuns trazem a velha bossa nova
Gravadora Albatroz, de Menescal, leva ao mercado releituras do gênero e relança discos antigos
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Roberto Menescal é um baluarte da bossa nova. Como instrumentista, gravou com muita
gente, lançou discos solo e deu aulas de violão no auge da batida
moderna, nos anos 50. Como
compositor, é autor (com o letrista Ronaldo Bôscoli) dos
principais clichês barquinho-céu-azul-zona-sul da bossa.
O gênero foi uma revolução
não só na música brasileira, mas
na própria vida de Menescal,
que até hoje vive dos respaldos
da bossa. Há cerca de dez anos,
ele fundou (com Raymundo
Bittencourt) a gravadora Albatroz, "exclusivamente dedicada
à bossa nova em todas as suas
infinitas formas de expressão".
Agora, com a criação do selo
Bossa58 e a série de discos ao
vivo "Momentos Bons da Bossa", a Albatroz coloca no mercado um pacote de oito lançamentos, entre artistas novos e
antigos. Há remixes de Marcos
Valle, João Suplicy cantando
Elvis em bossa, estréia de Marcela Mangabeira e ainda Leny
Andrade, César Camargo Mariano, Pery Ribeiro, Os Cariocas e Maria Creuza.
Tudo muito novo, tudo muito velho. Apostando no espírito
passadista ou na modernização
cafona, os lançamentos caem
no limbo de discos no meio do
caminho das intenções, que
morrem nas praias do clichê de
"música de qualidade", cheia de
acordes e teclados, mas sem
personalidade. Uma das explicações: muitos dos discos são
feitos para o exterior e têm o
Brasil como mercado secundário -tendência desde pelo menos os anos 90 que gera todo tipo de bossa genérica.
Afinal, a bossa continua nova? "Na verdade, acho que ela
só começa a ser assimilada agora", opina Menescal. "O resgate, o sucesso no exterior, isso
são coisas recentes. Estamos
vivendo o fim de uma era. Está
na hora de surgir algo novo."
Com teclados, programações
eletrônicas e clichês requentados, o novo certamente não parece que vai sair do velho mato
da bossa -que continua moderna só nas mãos e voz de seu
criador máximo, João Gilberto.
O próprio Menescal explica a
supremacia da estética vazia:
"A emoção não é o que move as
pessoas hoje. Veja como elas
choravam vendo um filme do
Fred Astaire. Hoje, vão ver o
Cirque du Soleil e, assim que
saem, a emoção acaba." Como
discos que anunciam o novo
sem qualquer novidade.
SELO BOSSA58 E SÉRIE MOMENTOS BONS DA BOSSA
Artistas: vários
Gravadora: Albatroz
Quanto: R$ 25 cada, em média
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