São Paulo, Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999


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Temporada de caça aos 'baixinhos'

Divulgação
Renato Aragão é Didi Mocó no filme "O Trapalhão e a Luz Azul", que será exibido por 240 salas



Xuxa e Didi lançam novos filmes hoje


Didi X Xuxa


Renato Aragão estréia seu 40º longa-metragem no mesmo dia em Xuxa volta aos cinemas, após nove anos afastada; conheça as estratégias de cada um dos lados para garantir milhões de crianças (e milhões de reais) nestas férias


IVAN FINOTTI
da Reportagem Local


ilhões de crianças estão em jogo. A disputa é entre três pesos-pesados e começa hoje.
No canto direito, pesando o equivalente a mais de 110 milhões de espectadores em 39 filmes, está o cearense Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumo, também conhecido como Renato Aragão. "Não me preocupo com a concorrência", diz ele.
No esquerdo, com exuberantes 17,6 milhões de espectadores em sete fitas, a gaúcha Xuxa, ou Maria da Graça Meneghel. "O Renato é meu ídolo. Nunca vou deixar de gostar dele", diz ela.
Embolando a disputa brasileira, chega dos Estados Unidos o senhor Walt Disney, cuja balança acusa 20,5 milhões de espectadores brasileiros apenas nos últimos sete anos, tempo em que foram exibidos dez de seus desenhos animados.
Então ficamos assim: Didi, Xuxa e Disney. Juntos, eles ocupam a partir de hoje metade dos cerca de 1.600 cinemas que existem no Brasil.

O que eles têm?
Renato Aragão chega com "O Trapalhão e a Luz Azul", uma produção de R$ 2,5 milhões. Trata-se do 40º filme protagonizado pelo humorista, na estrada desde 1965.
O filme mostra Didi e o cantor de rock David (André Segatti) sendo transportados para um mundo paralelo, onde um pacífico reino sofre nas mãos de bandidos sanguinários e de um vizir (Dedé Santana, em seu primeiro papel de vilão).
David acaba confundido com um príncipe, e Didi é tratado com um poderoso mago. Os dois acabam liderando o reino na luta contra os malfeitores.
"Dei-me esse filme de presente, com uma produção maravilhosa, porque, quando fiz o 20º, comentei brincando que nunca chegaria ao 40º", disse Aragão, que inaugurou nessas filmagens seu novo estúdio de cinema e televisão, de cerca de R$ 25 milhões, em Vargem Grande, no Rio de Janeiro.
Maria da Graça Meneghel volta às telas com "Xuxa Requebra", nove anos após seu sucesso "Lua de Cristal", que esbarrou os 4 milhões de espectadores.
No filme, que custou R$ 2,9 milhões, Xuxa é uma jornalista chamada Nena que descobre um plano maligno de uma traficante de drogas (Elke Maravilha) para demolir uma escola de dança.
Ajudada pelo enteado da traficante (o cantor romântico Daniel) e por dezenas de adolescentes dançarinas, Nena acaba com o plano diabólico.
Em entrevista na semana passada, a diretora Tizuka Yamasaki defendeu as aparições de diversos produtos no filme, alguns deles focalizados em close: "A gente tem de considerar o merchandising como parte integrante do cinema. No futebol, ninguém reclama. Os filmes americanos têm, mas a gente não conhece os produtos, por isso não percebemos. Eu acho legal porque eles ajudam pagar o filme."
Já Walt Disney apresenta "Toy Story 2", uma produção de US$ 90 milhões (cerca de R$ 166 milhões), valor suficiente para produzir 66 filmes iguais ao de Renato Aragão ou 57 como o de Xuxa (leia sobre "Toy Story 2" à pág. 4-13).

O que eles querem?
"Espero chegar aos 2 milhões dessa vez. Se fizer mais, eu agradeço", afirmou Renato Aragão, referindo-se ao fato de que, desde que voltou a filmar, em 97 -após o blecaute do cinema nacional-, o número de espectadores de seus filmes está no patamar do milhão e meio.
O produtor do filme, Francisco Paulo Aragão (irmão de Renato), é muito mais enfático. "Chegaremos a 2,5 milhões de espectadores em sete semanas. Pode escrever aí", diz, enquanto busca embasamento matemático para o seu cálculo.
Paulo Aragão mostra que os filmes de seu irmão abocanham no mínimo 2,5% do mercado: "Tivemos 1,5 milhão de espectadores em 97, quando o público total no Brasil foi de 52 milhões. No ano seguinte, tivemos 1,66 milhão de um total de 70 milhões".
"Neste ano", continua, "o número de brasileiros que estão indo ao cinema vai ficar entre 100 milhões e 110 milhões. Portanto, chegaremos a 2,5 milhões de espectadores".
O produtor de "Xuxa Requebra", Diler Trindade, fala em 2 milhões de espectadores em três meses. E não teme que o filme do trapalhão atrapalhe seus planos. "Acho benéfico. Quando Xuxa e Trapalhões vêm para o cinema, agregam espectadores, um para o filme do outro. Essa quantidade, com qualidade, é que vai fazer o público voltar a gostar do cinema brasileiro."
Segundo Trindade, tão importante quanto isso é dar retorno aos investidores, que pagaram dois terços do filme. "Se tivermos 2 milhões de espectadores, para cada ação que eles compraram por R$ 1, vão ganhar R$ 0,57. Já é lucro, porque o R$ 1 que eles pagaram, na verdade foi descontado do Imposto de Renda. E depois, ainda tem o público da Argentina, México, vendas para TV e vídeo."
Por fim, "Toy Story 2" pode não chegar aos 5,1 milhões de "Rei Leão" (94), mas espera-se público superior ao 1,3 milhão de "Toy Story" (96).

Como eles fazem?
A rigor, "O Trapalhão e a Luz Azul" não estréia hoje, mas na semana que vem, quando estará em 240 cinemas. Hoje, entretanto, 226 cópias já estão distribuídas pelo Brasil. "Por ser semana de pré-estréia, o exibidor não está obrigado a programar o filme durante o dia inteiro", afirma Bruno Wainer, diretor-executivo da Lumière, quer distribui o filme.
O produtor de "Xuxa Requebra" -que estréia efetivamente hoje, com 250 cópias- não considera essa uma pré-estréia. "Estamos com essa data marcada desde maio. A deles era 24 de dezembro. Eles é que estão correndo para o dia 17", diz Diler Trindade.
"Fizemos isso para assegurar o circuito para o filme do Renato", rebate Wainer. Além de antecipar, a Lumière negociou com os exibidores uma porcentagem menor para a semana de pré-estréia. Em vez dos tradicionais 50% da bilheteria, a distribuidora vai cobrar 45%. "A gente ofertou a 45% para que o exibidor tivesse um argumento contra as grandes", diz.
Após isso, a Fox, que distribui "Xuxa Requebra", teria diminuído sua porcentagem a partir da terceira semana de exibição, baixando de 50% para 40% em alguns locais. O diretor-geral da Fox do Brasil, Marcos de Oliveira, não respondeu à entrevista sobre o assunto, enviada por e-mail, conforme sua assessoria solicitou.
Rodrigo Saturnino, gerente-geral da Columbia no Brasil, afirma que "Toy Story 2" foi oferecido a 50% e nem pensou em mudar. "Nos animados da Disney, sempre oferecemos a 50%. Sabemos que o filme vai correr as férias inteiras. É uma fórmula justa".
Para Paulo Sérgio Almeida, da Filme B, única empresa especializada em consultoria de mercado cinematográfico do país, "essas negociações mostram que o cinema brasileiro está quente. O mercado estava com teias de aranha há anos".
"Há 30 anos que a negociação de filmes nacionais é meio a meio. Acho interessante tentar mudar."


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