especial para a Folha


"Xuxa Requebra" é menos um filme e mais um comercial de duas horas de duração. Conceitos básicos de cinema, como história e narrativa, parecem não importar muito. O objetivo é espremer o máximo de merchandising possível na tela e fazer propaganda de músicos e "famosos" da TV, contratados da empresa de Xuxa.
O filme parece um videoclipe gigante. Artistas como Vinny, Terrasamba, Fat Family, Claudinho e Buchecha, Cheiro de Amor e Daniel revezam-se cantando recentes sucessos. Luciano Huck, Tiazinha, Carla Perez, Feiticeira e as Paquitas também aparecem.
Não existe um roteiro, mas uma sucessão atabalhoada de cenas, escritas às pressas para dar a cada amigo de Xuxa seus 15 segundos (é muita gente!) de fama.
A história do filme é simples: Xuxa interpreta Nena, uma jornalista que luta para salvar uma escola de dança. A escola está sendo ameaçada por Macedão (Elke Maravilha), traficante de drogas. A salvação da escola depende de um concurso de danças que distribui nota preta em prêmios.
"Xuxa Requebra" está sendo vendido como uma superprodução, mas o que está na tela parece mais um improviso. A própria Tizuka Yamasaki confessou que o par romântico de Xuxa no filme, o cantor Daniel, chegou ao set sem saber as falas, e filmou tudo em cinco dias. Nota-se.
Os diálogos não têm a menor graça. Será que ninguém consegue escrever algo melhor que "se ganharmos o concurso, prometo ficar um ano sem comer pipoca" ou "achei que 15 horas eram cinco da tarde"? O pouco humor do filme é totalmente involuntário e de mau gosto, como na cena em que um rapaz diz para uma cega: "Poxa, você enxerga melhor que eu!"
Ao optar por um elenco recheado de astros da televisão e da música, a diretora ficou sem nenhum ator de peso para dar alguma credibilidade aos personagens. Há algo de muito errado com um filme em que o personagem menos caricato é interpretado por Elke Maravilha. O merchandising irrita: nunca, na história do cinema, se espremeu um tubo de pasta de dentes tão próximo à câmera.
Outro pecado é o excesso de violência: numa cena, a gangue sadomasô de Macedão dispara tiros de metralhadora contra crianças; em outra, Xuxa é espancada até sair sangue pela boca.
O filme segue aos trancos e barrancos: uma cena de merchandising aqui, um pedaço de videoclipe ali, um astro da TV jogado ao acaso em alguma cena incompreensível, tudo roteirizado com uma calculadora em punho. O cinema de autor já era; "Xuxa Requebra" é cinema de contador.
(AB)

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