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LITERATURA
Cervantes
vai para memorialista político
SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada
O escritor chileno Jorge Edwards, 68, que venceu o Prêmio
Cervantes deste ano, anunciado
terça-feira última em Madri, é
um adepto dos romances históricos e renega o realismo mágico, vertente tão difundida na
América Latina por nomes como o cubano Alejo Carpentier,
o colombiano Gabriel García
Márquez e os argentinos Jorge
Luis Borges e Julio Cortázar.
Edwards, que prefere se definir como um memorialista ou
um historiador da vida privada,
admite que sempre trabalhou
com a tênue linha que separa a
ficção da não-ficção.
Desde o início de sua carreira,
nos anos 50, Edwards se dedicou a satirizar a oligarquia chilena e as contradições da sociedade, tendo a história política do
país como agente transformador de comportamentos.
O prêmio, concedido pelo Ministério da Cultura espanhol,
chega num momento delicado
das relações diplomáticas entre
o Chile e a Espanha. O país latino-americano não aceita a posição da Justiça espanhola, que
quer julgar o ex-ditador chileno
Augusto Pinochet em Madri
por crimes de tortura e conspiração cometidos durante o período em que ele esteve no poder no Chile (1973-1990). O general está detido em Londres
desde outubro de 98, correndo o
risco de ser extraditado.
O escritor peruano Mario
Vargas Llosa, membro da comissão julgadora do Prêmio
Cervantes, negou que a decisão
de premiar Edwards esteja relacionada com a questão diplomática entre Chile e Espanha.
Porém, o próprio Edwards
disse ao jornal "El País" que a
premiação poderia ser vista como um gesto da Espanha para
mostrar que o caso Pinochet
não significa um ataque a todos
os chilenos.
A história política da América
Latina sempre esteve presente
na obra de Edwards. Seu livro
mais famoso, "Persona Non
Grata" (1973), foi escrito a partir
da experiência que o autor teve
ao exercer um cargo diplomático em Cuba em 1970, durante o
governo socialista de Salvador
Allende no Chile.
Edwards deixou de ser um admirador de Fidel Castro para,
aos poucos, assumir uma postura crítica ao seu regime.
Depois do golpe militar que
derrubou Allende, em 1973, Edwards foi para o exílio na Espanha, fixando-se em Barcelona.
A questão da ruptura de valores, tema de seus romances políticos, também invade obras que
tratam de questões morais e sociais, como o sexo e a pobreza.
Sem abandonar o estilo, Edwards usou a política para comentar a premiação. Logo após
a divulgação, o autor declarou à
imprensa: "Parece que sou eu o
único vencedor". O autor se referia ao empate entre os candidatos a presidente do Chile no
primeiro turno das eleições, no
último final de semana (o esquerdista Ricardo Lagos e o
conservador Joaquín Lavín).
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