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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003
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Portuguesa com certeza
Canadense de ascendência lusitana, Nelly Furtado afirma suas raízes em álbum com Caetano Veloso SHIN OLIVA SUZUKI DA REDAÇÃO Ano da Eurocopa, 2004 é quando Portugal espera recuperar o orgulho nacional, enterrado há séculos, e finalmente voltar a se impor entre ingleses, franceses e espanhóis, ao menos nos campos de futebol. Como trilha sonora da caminhada rumo ao título, a escolha recaiu sobre uma artista de nacionalidade... canadense. Não chega a ser estranho se a canadense é Nelly Furtado, 25, cantora que estreou discretamente no cenário pop, incendiou sua trajetória após o sucesso da canção "I'm Like a Bird" e contabilizou 5 milhões de cópias no mundo inteiro de seu primeiro disco, "Whoa, Nelly!" (2000), que lhe deu um prêmio Grammy. Desde o início, Furtado não se limitou a carregar seu sobrenome de óbvia origem lusitana e sempre declarou em entrevistas a influência das raízes familiares em sua formação musical. A cantora não esperou o avanço de sua carreira e, em seu segundo registro, não por coincidência chamado de "Folklore", adiciona banjos e bandolins ao pop descompromissado de sua estréia e distribui por várias faixas frases soltas da língua-mãe de seus pais, açorianos que emigraram para a Província canadense de British Columbia. Entre elas, a música "Força", cujo refrão "com uma força / com uma força que ninguém pode parar", cantado em português, poderá ser "o tema da vitória" da seleção dirigida por Luiz Felipe Scolari na Eurocopa do ano que vem. Mesclando inglês e português, Nelly Furtado explica à Folha, por telefone, que a idéia era tingir de tradição sua sonoridade inicial. "Alguns anos atrás, eu tive a idéia de gravar um disco folk, mas um álbum de pós-folk, algo moderno, que possuísse um viés folclórico e com simplicidade na forma." Mas é na temática de suas letras que Furtado explora suas origens. Em "Fresh Off the Boat", que primeiramente intitularia seu segundo trabalho, a cantora alude às primeiras impressões quando se chega a uma nova terra. "Saturdays" relembra seus anos de adolescência como camareira em um hotel. "Eu sou orgulhosa da minha origem trabalhadora, o que me faz ter elo com boa parte do mundo. É honroso ganhar dinheiro com trabalho braçal." Uma ambição da canadense é ser referência para a comunidade lusa na América do Norte, carente, segundo ela, de afirmação cultural e de representatividade entre os artistas de destaque. "Uma das minhas metas sempre foi compartilhar o que eu assimilei e tentar abrir a cabeça das pessoas para o diferente. Muitas pessoas dizem que os portugueses são uma minoria invisível, especialmente na América do Norte. Há um grande problema nos EUA, porque, em pesquisas de censo, por exemplo, os descendentes de portugueses não sabem se fazem parte do grupo latino ou do grupo caucasiano. Há uma crise de identidade muito grande." O aprendizado da língua portuguesa também a fez travar contato com a música brasileira, de onde nasceu a admiração por Caetano Veloso. Furtado afirma ter vencido o nervosismo e enviado uma demo com a canção "Island of Wonder" -que remete às ilhas açorianas- para Caetano, que gostou e topou a participação. "Tenho "Terra" e aquela que diz "onde está você agora..." ["Sozinho'] entre as minhas favoritas. Foi uma honra tê-lo no disco." Informada de que a última música foi considerada no Brasil uma guinada de Caetano em direção aos sons melosos, a cantora só vê qualidades na decisão de gravar a composição de Peninha. "Mas é isso que eu gosto nele. Caetano não tem medo de gravar esse tipo de material. E é algo que me identifico porque, para mim, se a emoção é algo tão real, por que negar isso e tentar bancar o "intelectual" o tempo inteiro? Se nós passarmos a vida inteira tentando ser "intelectuais", vamos perder grandes momentos da vida. Eu fico feliz por não me bloquear e mostrar o lado brega da vida, que é lindo!" Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Nelly Furtado começa disco juvenil e termina adulta Índice |
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