São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Microssérie que estréia em junho de 2007 usa tom de fábula

Equipes de arte, cenografia e figurino são compostas por artesãos locais

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Venta em Taperoá, cenário de "A Pedra do Reino", microssérie de oito capítulos, em fase final de filmagem, dirigida por Luiz Fernando Carvalho e baseada no romance de Ariano Suassuna.
O vento constante engana. Em Taperoá, a meio caminho entre João Pessoa e Patos, coração do sertão paraibano, as nuvens não se precipitam, passam rápido. A produção encanta o lugarejo parado.
A versão televisiva do romance, com estréia prevista para junho de 2007, promete ser bastante diferente da adaptação teatral em cartaz em São Paulo, com direção de Antunes Filho.
A peça é de um realismo despojado, minimalista. A série adota um tom de fábula, denso em qualidade plástica. Interpretações viscerais, por atores nordestinos, aliadas a cenários e figurinos elaborados, compõem um universo hiperbólico.
A Taperoá da microssérie lembra a Macondo de "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez. Lá, chovia sem parar. Aqui, impera a seca e a estagnação. Ambas compartilham a atmosfera fantástica.
Sob o comando de Raimundo Rodrigues, João Irênio e Luciana Buarque, veteranos de "Hoje é Dia de Maria", as equipes de arte, cenografia e figurino são compostas de artesãos locais.
No elenco também, quase só há nordestinos. Marcélia Cartaxo ressalta o peso do trabalho de preparação de atores, a cargo de Ricardo Blat e Tiche Vianna: "A gente vê os personagens nascerem, nossos companheiros evoluírem em suas alegorias de interpretação."
Luiz Carlos Vasconcellos e o genial Cacá Carvalho contribuíram para a febre teatral que assola a cidade com apresentações de seus espetáculos, um circense Piolin e um monólogo de Pirandello.
Além deles, há cerca de 40 atores nordestinos entusiasmados. Eles integram grupos como a Companhia Bahiana de Patifaria ou o potiguar Arruaça.
A auxiliar de enfermagem Beatriz Lélis, 27, três filhas, faz a "mãe ancestral". A emoção com que interpreta o desespero materno vem das entranhas. Ela sonha com uma "casa de cultura, que faça crescer o teatro em cada um dos taperoenses, pois o teatro é mágico".
Formosa, a professora Claudete de Andrade, 29, vive Joana Quaderna, irmã do protagonista. Ela preside um grupo de dança folclórica que, espera, saia fortalecido da aventura.
Irandhir Santos, pernambucano, faz um Quaderna longilíneo e desengonçado, como o autor do romance. As primeiras seqüências semi-editadas revelam aventuras hilárias do anti-herói em uma caçada na Serra do Pico -rara incursão fora dos limites da cidade.
Destaque para os cavalos reciclados de "Hoje é Dia de Maria", que se multiplicaram e ganharam decoração personalizada, feita com sucata.
Mas há também tensão. José Tadeu Ribeiro, competente diretor de fotografia que fez "Hoje é Dia de Maria", deixou as filmagens em novembro. Adrian Teijido passa a assinar a microssérie. Talvez o maior desafio para o trabalho seja superar o tranco da substituição. (ESTHER HAMBURGER)


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