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Microssérie que estréia em junho de 2007 usa tom de fábula
Equipes de arte, cenografia e figurino são compostas por artesãos locais
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Venta em Taperoá, cenário
de "A Pedra do Reino", microssérie de oito capítulos, em fase
final de filmagem, dirigida por
Luiz Fernando Carvalho e baseada no romance de Ariano
Suassuna.
O vento constante engana.
Em Taperoá, a meio caminho
entre João Pessoa e Patos, coração do sertão paraibano, as
nuvens não se precipitam, passam rápido. A produção encanta o lugarejo parado.
A versão televisiva do romance, com estréia prevista para junho de 2007, promete ser bastante diferente da adaptação
teatral em cartaz em São Paulo,
com direção de Antunes Filho.
A peça é de um realismo despojado, minimalista. A série
adota um tom de fábula, denso
em qualidade plástica. Interpretações viscerais, por atores
nordestinos, aliadas a cenários
e figurinos elaborados, compõem um universo hiperbólico.
A Taperoá da microssérie
lembra a Macondo de "Cem
Anos de Solidão", de Gabriel
García Márquez. Lá, chovia
sem parar. Aqui, impera a seca
e a estagnação. Ambas compartilham a atmosfera fantástica.
Sob o comando de Raimundo
Rodrigues, João Irênio e Luciana Buarque, veteranos de "Hoje é Dia de Maria", as equipes de
arte, cenografia e figurino são
compostas de artesãos locais.
No elenco também, quase só
há nordestinos. Marcélia Cartaxo ressalta o peso do trabalho
de preparação de atores, a cargo de Ricardo Blat e Tiche
Vianna: "A gente vê os personagens nascerem, nossos companheiros evoluírem em suas alegorias de interpretação."
Luiz Carlos Vasconcellos e o
genial Cacá Carvalho contribuíram para a febre teatral que
assola a cidade com apresentações de seus espetáculos, um
circense Piolin e um monólogo
de Pirandello.
Além deles, há cerca de 40
atores nordestinos entusiasmados. Eles integram grupos
como a Companhia Bahiana de
Patifaria ou o potiguar Arruaça.
A auxiliar de enfermagem
Beatriz Lélis, 27, três filhas, faz
a "mãe ancestral". A emoção
com que interpreta o desespero
materno vem das entranhas.
Ela sonha com uma "casa de
cultura, que faça crescer o teatro em cada um dos taperoenses, pois o teatro é mágico".
Formosa, a professora Claudete de Andrade, 29, vive Joana
Quaderna, irmã do protagonista. Ela preside um grupo de
dança folclórica que, espera,
saia fortalecido da aventura.
Irandhir Santos, pernambucano, faz um Quaderna longilíneo e desengonçado, como o
autor do romance. As primeiras
seqüências semi-editadas revelam aventuras hilárias do anti-herói em uma caçada na Serra
do Pico -rara incursão fora dos
limites da cidade.
Destaque para os cavalos reciclados de "Hoje é Dia de Maria", que se multiplicaram e ganharam decoração personalizada, feita com sucata.
Mas há também tensão. José
Tadeu Ribeiro, competente diretor de fotografia que fez "Hoje é Dia de Maria", deixou as filmagens em novembro. Adrian
Teijido passa a assinar a microssérie. Talvez o maior desafio para o trabalho seja superar
o tranco da substituição.
(ESTHER HAMBURGER)
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