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Cinema dos EUA deixa de mostrar China vilã
Medida amplia participação em mercado restrito que mais cresce no mundo
Dos 20 filmes estrangeiros autorizados pelo governo no ano, 18 são americanos, em país onde as bilheterias duplicam a cada três anos
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Monges tibetanos e uma arca
de Noé construída pelos chineses salvam o mundo no filme
"2012". Hollywood deixou de
retratar os chineses como vilões ou torturadores -a China
é o mercado de cinema que
mais cresce no mundo.
Há dez anos, a China tinha
cerca de mil cinemas, o mesmo
número da Argentina (no Brasil, há 2.200). Hoje, são 5.801
salas, número que deve chegar
a 10 mil em 2013. A bilheteria
cresce 30% ao ano.
Em 2009, os chineses já gastaram o equivalente a R$ 1,5 bilhão em ingressos. A cada três
anos, o número dobra.
O assédio de Hollywood é
maior porque a indústria de cinema é das mais fechadas do
mundo. Apenas 20 filmes estrangeiros podem estrear por
ano no país -cenas de sexo,
violência ou mensagens políticas justificam veto automático.
Diretores e astros comparecem rigorosamente a qualquer
pré-estreia no país e deixam de
lado o habitual discurso pró-dalai-lama.
O primeiro filme americano
a estrear oficialmente na China
desde 1949 foi "O Fugitivo",
com Harrison Ford, em 1994
-filmes de Hollywood eram
proibidos até então.
Mesmo com as limitações e a
censura, quase 50% da bilheteria do país já é para filmes estrangeiros - a outra metade fica com os 400 filmes produzidos por ano no país. Depois de
Nigéria, Índia e EUA, a China é
o quarto maior produtor de
longas-metragens do mundo.
Na maioria, são filmes de kung
fu, comédias de costumes e
propaganda patriótica.
Recorde e piratas
Dos 20 filmes estrangeiros
autorizados pelo governo por
ano, 18 são americanos. A
maior bilheteria da história da
China é "Transformers: A Vingança dos Derrotados", lançado
este ano, que rendeu o equivalente a R$ 108 milhões.
Por conta do controle à entrada de produtos culturais no
país, a indústria da pirataria
floresceu. Filmes que acabam
de estrear nos EUA já são comercializados em cópias falsas
por um preço equivalente a R$
2,50. Uma caixa com uma temporada completa de seriados
americanos como "Lost" ou
"Mad Men" custa R$ 15.
Até mesmo filmes como "Linha de Passe", de Walter Salles
e Daniela Thomas, e "A Mulher
sem Cabeça", da argentina Lucrecia Martel, são vendidos nas
lojas de DVDs piratas, com legendas em inglês e em chinês.
"Apesar da pirataria, a China
vive sua época dourada do cinema", disse à Folha Leon Gao,
vice-presidente da consultoria
EntGroup. "Na China, o multiplex confortável é novidade."
Investimento estrangeiro
O investimento estrangeiro é
limitado por lei a 49% tanto na
produção como na distribuição. Apesar do visual Las Vegas
nos carpetes, iluminação e pipoca, os multiplexes chineses
pertencem a grandes estatais
chinesas, como o grupo Wanda,
presente em construção civil,
shoppings e cinemas.
Nas primeiras três décadas
de comunismo, o cinema foi
usado como forma de propaganda pelo regime, e projeções
podiam acontecer em vilarejos,
em praça pública ou no interior
de fábricas. O país chegou a ter
40 mil "pontos de projeção",
que desapareceram nas últimas
décadas.
Para o cineasta Jia Zhangke,
"a bilheteria chinesa se concentra em apenas dez cidades. Há
umas cem cidades grandes esperando novos cinemas, então
o potencial é enorme".
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