São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Cinema dos EUA deixa de mostrar China vilã

Medida amplia participação em mercado restrito que mais cresce no mundo

Dos 20 filmes estrangeiros autorizados pelo governo no ano, 18 são americanos, em país onde as bilheterias duplicam a cada três anos

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Monges tibetanos e uma arca de Noé construída pelos chineses salvam o mundo no filme "2012". Hollywood deixou de retratar os chineses como vilões ou torturadores -a China é o mercado de cinema que mais cresce no mundo.
Há dez anos, a China tinha cerca de mil cinemas, o mesmo número da Argentina (no Brasil, há 2.200). Hoje, são 5.801 salas, número que deve chegar a 10 mil em 2013. A bilheteria cresce 30% ao ano.
Em 2009, os chineses já gastaram o equivalente a R$ 1,5 bilhão em ingressos. A cada três anos, o número dobra.
O assédio de Hollywood é maior porque a indústria de cinema é das mais fechadas do mundo. Apenas 20 filmes estrangeiros podem estrear por ano no país -cenas de sexo, violência ou mensagens políticas justificam veto automático.
Diretores e astros comparecem rigorosamente a qualquer pré-estreia no país e deixam de lado o habitual discurso pró-dalai-lama.
O primeiro filme americano a estrear oficialmente na China desde 1949 foi "O Fugitivo", com Harrison Ford, em 1994 -filmes de Hollywood eram proibidos até então.
Mesmo com as limitações e a censura, quase 50% da bilheteria do país já é para filmes estrangeiros - a outra metade fica com os 400 filmes produzidos por ano no país. Depois de Nigéria, Índia e EUA, a China é o quarto maior produtor de longas-metragens do mundo. Na maioria, são filmes de kung fu, comédias de costumes e propaganda patriótica.

Recorde e piratas
Dos 20 filmes estrangeiros autorizados pelo governo por ano, 18 são americanos. A maior bilheteria da história da China é "Transformers: A Vingança dos Derrotados", lançado este ano, que rendeu o equivalente a R$ 108 milhões.
Por conta do controle à entrada de produtos culturais no país, a indústria da pirataria floresceu. Filmes que acabam de estrear nos EUA já são comercializados em cópias falsas por um preço equivalente a R$ 2,50. Uma caixa com uma temporada completa de seriados americanos como "Lost" ou "Mad Men" custa R$ 15.
Até mesmo filmes como "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, e "A Mulher sem Cabeça", da argentina Lucrecia Martel, são vendidos nas lojas de DVDs piratas, com legendas em inglês e em chinês.
"Apesar da pirataria, a China vive sua época dourada do cinema", disse à Folha Leon Gao, vice-presidente da consultoria EntGroup. "Na China, o multiplex confortável é novidade."

Investimento estrangeiro
O investimento estrangeiro é limitado por lei a 49% tanto na produção como na distribuição. Apesar do visual Las Vegas nos carpetes, iluminação e pipoca, os multiplexes chineses pertencem a grandes estatais chinesas, como o grupo Wanda, presente em construção civil, shoppings e cinemas.
Nas primeiras três décadas de comunismo, o cinema foi usado como forma de propaganda pelo regime, e projeções podiam acontecer em vilarejos, em praça pública ou no interior de fábricas. O país chegou a ter 40 mil "pontos de projeção", que desapareceram nas últimas décadas.
Para o cineasta Jia Zhangke, "a bilheteria chinesa se concentra em apenas dez cidades. Há umas cem cidades grandes esperando novos cinemas, então o potencial é enorme".


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