São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Filmes celebram os 60 anos de poder comunista

Onda de produções patrióticas alcançou a segunda maior bilheteria da China

Diretor Jia Zhangke reclama à Folha da concentração de blockbusters nacionais e internacionais, sem espaço para diversidade nas telas

DE PEQUIM

2009 foi o ano dos filmes patrióticos na China, comemorando os 60 anos da chegada dos comunistas ao poder. "A Fundação da República", que estreou em setembro, é a segunda maior bilheteria da história do país (equivalente a R$ 106 milhões, ou 2,1 vezes "Se Eu Fosse Você 2").
Mais de 22 milhões de chineses viram o filme nas telas - mas sindicatos e escolas distribuíram ingressos gratuitos e com desconto, e por semanas a TV estatal passava trailers da produção incansavelmente.
O filme foi dirigido por Han Sanping, que é presidente da maior produtora estatal, China Film Group. Quase todas as estrelas do cinema chinês atuaram no filme sem cobrar cachê. Até cineastas famosos como Zhang Yimou e Chen Kaige fazem pontas no longa.
O atual líder na bilheteria é "Uma Simples História de Noodles", remake de "Gosto de Sangue", dos irmãos Coen, dirigido por Zhang Yimou. A ação deixou um bar no Texas do original e foi transportada para um restaurante de noodles da China antiga - já apelidado por críticos locais como o mais bizarro remake já feito na história do cinema.
Em apenas três dias de exibição no último fim de semana, o filme levou 4 milhões de chineses aos cinemas.
O cineasta, que no início dos anos 90 foi rebelde com os filmes "Lanternas Vermelhas" e "Tempos de Viver", passou a dirigir filmes de propaganda patriótica, como "Herói", com o ator Jet Li. Zhang foi o responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada de Pequim e pela festa dos 60 anos do Partido Comunista no poder, realizada no dia 1º de outubro.

Sem variedade
Superproduções para os padrões locais financiadas com dinheiro público se tornaram regra, de produções históricas dirigidas por Zhang e Chen, a coproduções com talentos de Hong Kong e Taiwan, como John Woo e Ang Lee.
O cinema chinês de qualidade é figurante nesse boom. Cineastas premiados no exterior, como Jia Zhangke ("Em Busca da Vida", "O Mundo") e Li Yang ("Montanha Cega") são desconhecidos no país.
O filme mais visto de Jia nos cinemas, "A Cidade de 24 Horas" (2008), vendeu menos de 100 mil ingressos. "Em Busca da Vida", Leão de Ouro em Veneza em 2006, vendeu 60 mil.
"Não vejo o atual boom econômico trazer variedade de propostas nas telas. Os investidores querem retorno rápido, então blockbusters nacionais e estrangeiros dominam os cinemas na China", afirma à Folha Jia Zhangke.
"Os maiores consumidores de cinema na China têm entre 16 e 23 anos e acabam tendo mais opção com a pirataria e os downloads ilegais. Falta muito, além de combater a pirataria, para termos uma cena cinematográfica mais diversa", diz. (RAUL JUSTE LORES)


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