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Filmes celebram os 60 anos de poder comunista
Onda de produções patrióticas alcançou a segunda maior bilheteria da China
Diretor Jia Zhangke reclama à Folha da concentração de blockbusters nacionais e internacionais, sem espaço para diversidade nas telas
DE PEQUIM
2009 foi o ano dos filmes patrióticos na China, comemorando os 60 anos da chegada
dos comunistas ao poder. "A
Fundação da República", que
estreou em setembro, é a segunda maior bilheteria da história do país (equivalente a R$
106 milhões, ou 2,1 vezes "Se Eu
Fosse Você 2").
Mais de 22 milhões de chineses viram o filme nas telas -
mas sindicatos e escolas distribuíram ingressos gratuitos e
com desconto, e por semanas a
TV estatal passava trailers da
produção incansavelmente.
O filme foi dirigido por Han
Sanping, que é presidente da
maior produtora estatal, China
Film Group. Quase todas as estrelas do cinema chinês atuaram no filme sem cobrar cachê.
Até cineastas famosos como
Zhang Yimou e Chen Kaige fazem pontas no longa.
O atual líder na bilheteria é
"Uma Simples História de Noodles", remake de "Gosto de
Sangue", dos irmãos Coen, dirigido por Zhang Yimou. A ação
deixou um bar no Texas do original e foi transportada para
um restaurante de noodles da
China antiga - já apelidado por
críticos locais como o mais bizarro remake já feito na história do cinema.
Em apenas três dias de exibição no último fim de semana, o
filme levou 4 milhões de chineses aos cinemas.
O cineasta, que no início dos
anos 90 foi rebelde com os filmes "Lanternas Vermelhas" e
"Tempos de Viver", passou a dirigir filmes de propaganda patriótica, como "Herói", com o
ator Jet Li. Zhang foi o responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada de Pequim e pela festa
dos 60 anos do Partido Comunista no poder, realizada no dia
1º de outubro.
Sem variedade
Superproduções para os padrões locais financiadas com
dinheiro público se tornaram
regra, de produções históricas
dirigidas por Zhang e Chen, a
coproduções com talentos de
Hong Kong e Taiwan, como
John Woo e Ang Lee.
O cinema chinês de qualidade é figurante nesse boom. Cineastas premiados no exterior,
como Jia Zhangke ("Em Busca
da Vida", "O Mundo") e Li Yang
("Montanha Cega") são desconhecidos no país.
O filme mais visto de Jia nos
cinemas, "A Cidade de 24 Horas" (2008), vendeu menos de
100 mil ingressos. "Em Busca
da Vida", Leão de Ouro em Veneza em 2006, vendeu 60 mil.
"Não vejo o atual boom econômico trazer variedade de
propostas nas telas. Os investidores querem retorno rápido,
então blockbusters nacionais e
estrangeiros dominam os cinemas na China", afirma à Folha
Jia Zhangke.
"Os maiores consumidores
de cinema na China têm entre
16 e 23 anos e acabam tendo
mais opção com a pirataria e os
downloads ilegais. Falta muito,
além de combater a pirataria,
para termos uma cena cinematográfica mais diversa", diz.
(RAUL JUSTE LORES)
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