São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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MEMÓRIA

Cantor e compositor morreu ontem, aos 77 anos, após 80 dias internado

Velório de Bezerra reúne músicos

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O velório do cantor Bezerra da Silva reuniu a malandragem musical carioca ontem à tarde no teatro João Caetano, no centro do Rio. Dicró, Monarco da Portela, Marcelo D2 e vários compositores de samba foram ao local. O cantor morreu na manhã de ontem, aos 77 anos, em um hospital público, após 80 dias de internação. Teve uma parada cardíaca, seguida de falência múltipla dos órgãos.
"É muito difícil falar, ele era como se fosse um pai. Além de ser um dos maiores nomes do samba, era um grande amigo e acabei até entrando para sua família. Bezerra era a voz do morro, o legítimo da Silva. Lutou até o final e não deu mole para a morte", disse o cantor Marcelo D2, o primeiro a chegar ao velório.
O cantor Dicró, um dos parcerias preferidos de Bezerra, era um dos mais emocionados. "Fica uma lacuna muito grande para o samba, principalmente para o samba de gozação", afirmou.
O compositor do primeiro sucesso do sambista, "Pega Eu", Jorge Silva, o Crioulo Doido, disse que Bezerra será "insubstituível". "Ele inventou uma linguagem. Dizia o que não podia ser dito abertamente, com a graça do samba", afirmou Crioulo Doido. "Ele foi de uma generosidade muito grande. Fez questão de subir o morro de Vila Isabel só para escutar a minha música. Aquele dia foi bom. Tomamos batida de coco, de jaca, e, na descida do morro, uma do camburão."
A viúva Regina Oliveira, no entanto, fez questão de dizer que o cantor não usava drogas. "Ele experimentou apenas uma vez maconha e cocaína e não gostou nem um pouco. A maconha ele disse que dava muita fome e a cocaína o deixou sem dormir. Por isso ele falou que nunca mais queria usar aquelas coisas."
Regina foi uma das responsáveis pela conversão do cantor, há cerca de três anos, à religião evangélica. No ano passado, Bezerra gravou o CD "Caminho de Luz", de música gospel em ritmo de pagode por seu selo próprio.
O corpo de Bezerra da Silva chegou escoltado por dois carros, um deles guiado por um dos filhos do cantor. O veículo, um Renault Laguna azul, tinha duas marcas de tiro na lataria, próximas ao pneu traseiro esquerdo. O sepultamento será realizado às 15h, no cemitério da Ordem Terceira do Carmo, zona norte do Rio.


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