|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEMÓRIA
Cantor e compositor morreu ontem, aos 77 anos, após 80 dias internado
Velório de Bezerra reúne músicos
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O velório do cantor Bezerra da
Silva reuniu a malandragem musical carioca ontem à tarde no teatro João Caetano, no centro do
Rio. Dicró, Monarco da Portela,
Marcelo D2 e vários compositores
de samba foram ao local. O cantor
morreu na manhã de ontem, aos
77 anos, em um hospital público,
após 80 dias de internação. Teve
uma parada cardíaca, seguida de
falência múltipla dos órgãos.
"É muito difícil falar, ele era como se fosse um pai. Além de ser
um dos maiores nomes do samba,
era um grande amigo e acabei até
entrando para sua família. Bezerra era a voz do morro, o legítimo
da Silva. Lutou até o final e não
deu mole para a morte", disse o
cantor Marcelo D2, o primeiro a
chegar ao velório.
O cantor Dicró, um dos parcerias preferidos de Bezerra, era um
dos mais emocionados. "Fica
uma lacuna muito grande para o
samba, principalmente para o
samba de gozação", afirmou.
O compositor do primeiro sucesso do sambista, "Pega Eu", Jorge Silva, o Crioulo Doido, disse
que Bezerra será "insubstituível".
"Ele inventou uma linguagem.
Dizia o que não podia ser dito
abertamente, com a graça do
samba", afirmou Crioulo Doido.
"Ele foi de uma generosidade
muito grande. Fez questão de subir o morro de Vila Isabel só para
escutar a minha música. Aquele
dia foi bom. Tomamos batida de
coco, de jaca, e, na descida do
morro, uma do camburão."
A viúva Regina Oliveira, no entanto, fez questão de dizer que o
cantor não usava drogas. "Ele experimentou apenas uma vez maconha e cocaína e não gostou nem
um pouco. A maconha ele disse
que dava muita fome e a cocaína o
deixou sem dormir. Por isso ele
falou que nunca mais queria usar
aquelas coisas."
Regina foi uma das responsáveis pela conversão do cantor, há
cerca de três anos, à religião evangélica. No ano passado, Bezerra
gravou o CD "Caminho de Luz",
de música gospel em ritmo de pagode por seu selo próprio.
O corpo de Bezerra da Silva chegou escoltado por dois carros, um
deles guiado por um dos filhos do
cantor. O veículo, um Renault Laguna azul, tinha duas marcas de
tiro na lataria, próximas ao pneu
traseiro esquerdo. O sepultamento será realizado às 15h, no cemitério da Ordem Terceira do Carmo, zona norte do Rio.
Texto Anterior: Isto é Bezerra Próximo Texto: Eletrônica: Hawtin e Villalobos levam 3.500 cariocas ao "delírio" Índice
|