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Crítica/cinema/"Babel"
Trama segmentada explora movimentos no tempo e no espaço
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Como em "Amores Brutos" (2000) e "21 Gramas" (2003), as duas
parcerias anteriores entre o diretor Alejandro González Iñárritu e o roteirista Guillermo Arriaga (que escreveu também
"Três Enterros", de Tommy
Lee Jones), o espaço e o tempo
são movediços em "Babel".
Os três núcleos da trama -no
deserto do Marrocos, na fronteira dos EUA com o México e
em Tóquio (Japão)- se alternam sem que, de início, haja ligação entre eles. As convenções
narrativas sugerem que os
eventos de cada subtrama
ocorrem simultaneamente.
Nem uma coisa nem outra
-e o espectador já familiarizado com a estrutura circular dos
filmes de Iñárritu e Arriaga tem
motivos para esperar por isso.
Aqui, no entanto, as conexões e
ilusões são menos complexas,
como se o virtuosismo do entrelaçamento fosse secundário
em relação à força dramática
individual dos segmentos.
Dois deles são pautados por
um tom de tragédia anunciada
que já se vislumbra quando um
rifle vai parar nas mãos de dois
garotos marroquinos e uma governanta mexicana resolve viajar dos EUA para seu país com
duas crianças que não são suas.
Telegrafar o andamento
compromete o resultado porque as estratégias de sedução
de Iñárritu e Arriaga costumam se alimentar da vertigem
do desconhecido -e, nesses
dois núcleos, renunciam um
pouco a ela, como bem o demonstra a esquemática via-crúcis marroquina do casal de
turistas americanos (Brad Pitt
e Cate Blanchett).
Em contrapartida, a força do
núcleo japonês vem do fato de
que tudo ali é ambíguo, incerto,
tortuoso e, em boa medida, irremediável. Há personagens
mais ricos -um pai distante
(Kôji Yakusho) e sua filha adolescente (Rinko Kikuchi)-, exploração mais radical das dificuldades de comunicação, intervenções do passado no
presente.
Além da idéia-base contida
no título, o que mais integra no
conjunto as três subtramas é a
distinta beleza formal com que
Iñárritu as ergue, com a ajuda
valiosa de outros dois parceiros
regulares, o diretor de fotografia Rodrigo Prieto e o compositor Gustavo Santaolalla.
Nos filmes de Iñárritu, o
mundo parece muitas vezes
inapreensível e sujeito a desígnios superiores graças à dramaturgia e à combinação de imagens e música segundo movimentos errantes, voltados para
deixar significados em aberto,
sem conduzir a lugar nenhum
específico.
É o que ajuda a entender por
que, no mercado norte-americano, ele foi vendido como o
"filme sério" da temporada,
preocupado com temas sociais
urgentes e com uma visão artística incomum em Hollywood.
De fato, a sobreposição de situações aponta para diversas
idéias, algumas divergentes,
mas o que sustenta mesmo
"Babel" lembra a eloqüência
dos contadores de história cuja
contação é mais atraente do
que a história em si.
BABEL
Direção: Alejandro González Iñárritu
Produção: EUA, México, 2006
Com: Brad Pitt, Cate Blanchett
Quando: estréia amanhã nos cines Bristol, Jardim Sul e circuito
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