São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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SÃO PAULO FASHION WEEK

Maria Bonita busca no circo o Brasil universal

Estilista Danielle Jensen encontra nos artistas populares e na fotógrafa Diane Airbus a fonte para a nova coleção da grife carioca

DO EDITOR DE MODA

Na última SPFW, em junho de 2008, um desfile arrebatou público e crítica, o da grife carioca Maria Bonita, com sua coleção inspirada no mundo dos jangadeiros.
Na trilha sonora, clássicos de Dorival Caymmi. No chão da passarela, estonteantes mosaicos feitos com areia de praia. No corpo das modelos, looks que reuniam, numa alquimia extraordinária, a substância regional do Nordeste com um design muito contemporâneo e internacional.
O cenário e a "encenação" tinham a mão da cineasta Daniela Thomas; as roupas foram concebidas por Danielle Jensen, estilista da grife _tudo coincidindo na criação de um forte momento da moda brasileira, em que ela afirmava, ao mesmo tempo, a sua singularidade e a sua universalidade.
Danielle é hoje um dos principais talentos do prêt-à-porter do país. Discreta, cultivada e exigente, ela busca, com o novo desfile da Maria Bonita, outro tema nacional: o circo Nerino, que circulou pelas cidades do país entre 1913 e 1964 e chegou a ser considerado "o mais querido do Brasil".
As pesquisas da estilista partiram do livro "Circo Nerino", de Roger Avanzi e Verônica Tamaoki (editado pela Códex e a Pindorama Circus), que reúne uma ótima pesquisa iconográfica, inclusive com trabalhos de Pierre Verger.
A estilista carioca continuou por outros caminhos, esbarrando também na obra da fotógrafa americana Diane Airbus (1923-1971). "Meu propósito é buscar o que está próximo da gente, mas de uma outra maneira, universalizando. As pessoas têm preconceito com o que é regional e deixam de ver como se trata de um mundo rico e fascinante", diz.
Formada em moda pela Universidade Veiga de Almeida, no Rio, há apenas quatro anos, Danielle comanda a equipe de criação da Maria Bonita, mas está na grife desde 2003. Não tinha ainda 28 anos quando foi convidada pela estilista Maria Cândida Sarmento e por Melba Pimentel Paiva, criadoras da marca (em 1975), para cuidar da parte de acessórios.
Em pouco tempo, transformou-se na assistente direta de Cândida. Quando ela morreu, em 2002, Melba e o novo sócio, Alexandre Aquino, convidaram Danielle para assumir o posto principal.
"Se não fosse por Cândida, talvez eu não tivesse continuado na moda. Ela me ensinou a ter prazer nesse trabalho, o que a roupa quer dizer numa pessoa", diz Danielle, que hoje coordena a coleção que é mostrada nos desfiles, a linha comercial (com mais de 200 modelos) e a criação de acessórios.
Ousadia
Cândida criou uma identidade forte para a Maria Bonita, marcada por ousadias formais, liberdade de construção e um estilo atemporal, não muito preso a tendências.
No meio da moda, a marca costuma ser definida como "intelectual". Mas Danielle é cautelosa com o clichê. "Não sei o que querem dizer com isso. Toda roupa é um acessório do intelecto da pessoa, não só a da Maria Bonita", afirma.
O clichê não dá conta de explicar o que de fato fundamenta o trabalho da grife e de Danielle: a busca por um charme diferente para as mulheres, em que a roupa não é apenas um invólucro decorativo, mas a expressão de um modo de vida inteligente.
(ALCINO LEITE NETO)



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