São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Museu no interior gaúcho ganha prêmios de arquitetura

Conjunto também chama a atenção de crítico espanhol por unir desenho contemporâneo a moinho de 1930 restaurado

Em Ilópolis, cidade de 4.000 habitantes no vale do Taquari, museu é dedicado ao pão

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A ILÓPOLIS (RS)

Uma arquitetura projetada para a experiência dos sentidos. Assim o espanhol Josep Maria Montaner, um dos principais críticos de arquitetura do mundo, sintetiza as qualidades do Museu do Pão.
Localizado em Ilópolis, cidade pouco conhecida do interior gaúcho, o prédio de pequenas proporções, em concreto e vidro, é ligado a um moinho de madeira inaugurado em 1930 e que estava em situação de abandono, mas que foi recuperado -o conjunto foi entregue no ano passado. As linhas contemporâneas do novo edifício, junto com a antiga construção, renovada, deram um novo perfil à área central da cidade de 4.000 habitantes, com fortes traços de colonização italiana e situada no vale do Taquari, a 189 km de Porto Alegre.
Não só Montaner, no jornal espanhol "La Vanguardia", faz elogios ao projeto do escritório paulistano Brasil Arquitetura.
Em âmbito nacional, o museu começa a ganhar reconhecimento, exemplificado em dois prêmios importantes dados no final do ano passado: o Prêmio Rino Levi, conferido pela seção São Paulo do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), e o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), na categoria preservação de bens móveis e imóveis.
"As premiações por aqui e os textos publicados no exterior nos surpreenderam. Desenvolvemos bem o projeto, que é simples, mas o reconhecimento veio mais rapidamente do que era pensado", conta o arquiteto Marcelo Ferraz, que assina o projeto junto de Francisco Fanucci e Anselmo Turazzi.
Ferraz conheceu a região em 2003 e se impressionou com os moinhos espalhados por Ilópolis e pelas cidades vizinhas de Arvorezinha, Anta Gorda e Putinga. "Quando foram feitos, eram construções que representavam a técnica mais avançada. E, mesmo em situação de abandono, a população tinha grande ligação com eles. Por isso, escolhemos um projeto contemporâneo para marcar essa recuperação", afirma ele.
Em 2005, um dos moinhos, o Colognese, começou a ser recuperado. "Estava completamente degradado e à venda. Foi salvo da destruição por pouco", diz o arquiteto, que conseguiu que a Fundação Nestlé bancasse a reforma de R$ 600 mil.
Estudantes da cidade receberam capacitação para atuar na obra, em uma parceria da Associação dos Amigos dos Moinhos do Alto Vale do Taquari com o Instituto Ítalo Latino-Americano, vinculado ao Ministério da Cultura italiano.

Museu vivo
Ferraz acredita que o êxito do projeto está no envolvimento da população local com o museu. "Imaginamos um museu vivo, não pode se ater somente à exposição. Então, criamos uma oficina de panificação, que é o coração do museu." O conjunto reúne um módulo de concreto e vidro, que é "descolado" do chão, integrando um espaço com objetos e instrumentos usados nos moinhos, painéis sobre a história dos prédios e um pequeno auditório. "A italianada estranhou no começo. Era uma estrutura muito nova para a cidade. Mas agora já virou ponto turístico", conta Ismael Rosset, funcionário da instituição. A oficina se localiza em uma nova estrutura retangular, ligada ao antigo moinho, onde deve ser inaugurado em março um café e uma loja. Os equipamentos de moagem funcionam normalmente e são ativados a pedido dos visitantes.

O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da Fundação Nestlé


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