São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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RELÂMPAGOS
Enseada

JOÃO GILBERTO NOLL
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Tragam meus filhos, a mulher pediu ao sair escoltada. Era a última vez que os veria fora do cárcere. A mulher precisou insistir: tragam meus filhos, por favor. Eu não passava de um reles funcionário da Justiça; portanto, procurar ouvir seu pedido, lembrá-lo diante de um superior, isso de nada adiantaria. Nem sei bem o que eu era, se estafeta, faxineiro, linha auxiliar dos seguranças. Quando ela repetiu pela terceira vez o desejo, resolvi me afastar, ir para o almoço. No boteco, aquela bendita pintura na parede mostrando uma enseada. O amigo ao lado parecia ruminar um destempero.



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