São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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TELEVISÃO
E Chiquinha Gonzaga virou Gabriela Duarte...

TELMO MARTINO

Colunista da Folha
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Muito parecida com a rainha Vitória na comemoração do jubileu, Regina Duarte segue em direção ao Teatro Municipal para, no ano de 1935, comemorar seu apogeu como Chiquinha Gonzaga.
Na rua, alguns passaram cantando "Ó Abre Alas". Em qualquer outro lugar, não se canta nada.
No palco do teatro, a vida de Chiquinha é narrada em forma de pantomima. Felizes os da platéia. Para quem será informado a respeito da música e rebeldia da compositora na minissérie da televisão, o sofrimento será, no mínimo, incomensurável. Bem que os pais de Francisca Edwiges, uma senhora de pele escura e um militar, quiseram colocá-la na roda, mas, no último instante, desistiram. Não podiam adivinhar que o bebê viraria a Gabriela Duarte.
Minúscula, mas muito posuda, ela vive uma batalha constante com seu pai, o major Basileu, que o ator Odilon Wagner interpreta com as maneiras muito corretas de um homem da Corte. Os dois chegam a um baile oferecido pelo Barão de Mauá, o homem mais rico da Corte, nem por isso capaz de comprar uma peruca digna para o Gracindo Jr., que o interpreta.
Francisca vai dançar valsa com o ótimo partido Jacintho Ribeiro do Amaral. Como é minúscula, ela só tem o queixo para empinar. Dançam valsa, ela pede polca. Quer impor o vulgar. Embora o Jacintho seja o Marcelo Novaes, a nanica não acha a menor graça nele.
Ela gosta é de um tal de João Batista, que trabalha no cabaré mais badalado da cidade e é interpretado por Carlos Alberto Ricceli, que parece ter sido maquiado numa agência funerária de Los Angeles. Francisca chega a dançar lundu com o Novaes, mas dá beijo e quase tudo mais para o Ricceli. Precursora de feminismo e do chorinho society, está atordoada.
Não tem jeito. Quem não se impressiona com o Barão de Mauá, o Marquês de Caxias e o Marcelo Novaes tem mesmo é que ir ao convento. Afogar-se num riacho como a Ofélia, talvez fosse mais indicado. Mas ela tem de compor muita música para ser a Chiquinha Gonzaga que se cultua quando a Gabriela Duarte não está por perto.
Na falta do que fazer, o Jacintho Novaes volta ao Alcazar Cabaret, para sua despedida de solteiro. Se o can-can estava um desastre, o show da francesa Aimée estava pior. Não há para onde virar nessa minissérie. Para a biografia de uma compositora, nunca se ouviu tão pouca música. É preciso a Clara Sverner, no fim de cada capítulo, trazer o piano para acompanhar cantores como Daniel ou aquela Olívia -um absurdo- que não é a Byington. Aqui ficam as nossas esperanças. Ou Rosamaria Murtinho ainda anda por aí?



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