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TELEVISÃO
E Chiquinha Gonzaga virou Gabriela Duarte...
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
²
Muito parecida com a rainha
Vitória na comemoração do jubileu, Regina Duarte segue em direção ao Teatro Municipal para, no
ano de 1935, comemorar seu apogeu como Chiquinha Gonzaga.
Na rua, alguns passaram cantando "Ó Abre Alas". Em qualquer
outro lugar, não se canta nada.
No palco do teatro, a vida de
Chiquinha é narrada em forma de
pantomima. Felizes os da platéia.
Para quem será informado a respeito da música e rebeldia da compositora na minissérie da televisão, o sofrimento será, no mínimo,
incomensurável. Bem que os pais
de Francisca Edwiges, uma senhora de pele escura e um militar, quiseram colocá-la na roda, mas, no
último instante, desistiram. Não
podiam adivinhar que o bebê viraria a Gabriela Duarte.
Minúscula, mas muito posuda,
ela vive uma batalha constante
com seu pai, o major Basileu, que o
ator Odilon Wagner interpreta
com as maneiras muito corretas de
um homem da Corte. Os dois chegam a um baile oferecido pelo Barão de Mauá, o homem mais rico
da Corte, nem por isso capaz de
comprar uma peruca digna para o
Gracindo Jr., que o interpreta.
Francisca vai dançar valsa com o
ótimo partido Jacintho Ribeiro do
Amaral. Como é minúscula, ela só
tem o queixo para empinar. Dançam valsa, ela pede polca. Quer
impor o vulgar. Embora o Jacintho
seja o Marcelo Novaes, a nanica
não acha a menor graça nele.
Ela gosta é de um tal de João Batista, que trabalha no cabaré mais
badalado da cidade e é interpretado por Carlos Alberto Ricceli, que
parece ter sido maquiado numa
agência funerária de Los Angeles.
Francisca chega a dançar lundu
com o Novaes, mas dá beijo e quase tudo mais para o Ricceli. Precursora de feminismo e do chorinho society, está atordoada.
Não tem jeito. Quem não se impressiona com o Barão de Mauá, o
Marquês de Caxias e o Marcelo
Novaes tem mesmo é que ir ao convento. Afogar-se num riacho como
a Ofélia, talvez fosse mais indicado. Mas ela tem de compor muita
música para ser a Chiquinha Gonzaga que se cultua quando a Gabriela Duarte não está por perto.
Na falta do que fazer, o Jacintho
Novaes volta ao Alcazar Cabaret,
para sua despedida de solteiro. Se
o can-can estava um desastre, o
show da francesa Aimée estava
pior. Não há para onde virar nessa
minissérie. Para a biografia de
uma compositora, nunca se ouviu
tão pouca música. É preciso a Clara Sverner, no fim de cada capítulo, trazer o piano para acompanhar cantores como Daniel ou
aquela Olívia -um absurdo-
que não é a Byington. Aqui ficam
as nossas esperanças. Ou Rosamaria Murtinho ainda anda por aí?
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