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Brasil desafinado
Mercado nacional de música se atrasa na corrida ao mundo virtual que deve substituir a indústria de CDs
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
No redemoinho de mudanças
radicais que cobre o atual mundo
da música, o Brasil se vê diante de
uma dúvida cruel: a indústria local sobreviverá até que se defina
um modelo econômico viável de
substituição ao moribundo CD?
As vendas de CDs despencam e
garantem cada vez menos a sustentação da indústria musical. No
mundo a ordem do dia é a distribuição de música pela internet.
Na contramão, o Brasil engatinha
na revolução virtual.
O único site local especializado,
iMusica, comercializa cerca de 15
mil downloads por mês -o modelo internacional, iTunes, vendeu cerca de 20 milhões de downloads em menos de um ano.
Gerente-geral da Universal, José
Antônio Eboli é um dos que afirmam que não há o que fazer, a
não ser esperar e contar com o
que resta de consumo da matéria
física (CD, DVD etc.).
Ele diz que a Universal, dita gravadora número um no país, não
poderia explorar seu extenso catálogo nacional numa loja virtual
equivalente ao modelo vitorioso
da Apple (o iTunes, que vende
downloads de música a U$ 0,99).
"Não há como intervir e entrar
nisso agora. A gente é só parte de
uma multinacional, esbarraria em
normas e procedimentos que ainda não estão definidos", diz Eboli.
Ele enumera objeções à inclusão
imediata do Brasil na nova era.
Argumenta que apenas 2% dos
brasileiros têm acesso a internet
de banda larga, vital para a velocidade dos downloads. Lembra que
o aparelhinho-sensação iPod (capaz de armazenar até 10 mil músicas) custa cerca de R$ 3.000.
Conclui que uma gravadora como a Universal suportará a travessia sustentada, ainda, pelo decrescente mercado físico de CDs.
João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora nacional Trama, bate de frente com essa visão.
"A indústria esvaiu o modelo até
matá-lo, construiu edifícios enormes sustentados por uma caixinha de plástico (o CD)", critica.
"As empresas quebraram, e seus
dirigentes estão milionários."
Ele continua: "As pessoas têm
raiva das gravadoras, mas é preciso separar. Quem está doente é a
indústria, não é a música. Precisamos voltar a dissociar o que é indústria do que é música e artista".
Filho de Elis Regina, Bôscoli critica também o acomodamento
dos próprios artistas: "O artista
alienado, que só quer sair na revista "Caras", é co-responsável por
essa situação".
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