São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTI-ROCKSTAR

Divulgação
O cantor americano Lenny Kravitz, que toca no Brasil em março


À véspera da turnê brasileira, Lenny Kravitz fala sobre a infância, defende a idéia de que rock é "black music" e evita comentar sobre as mulheres que já namorou

THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Em seu último álbum, "Baptism", Lenny Kravitz fala de espiritualidade, redenção, liberdade e mais um tanto de outras coisas, mas o que roubou a atenção do disco foi uma canção: "I Don't Want to Be a Star". Desde maio de 2004, época do lançamento do CD, em praticamente toda entrevista que dá o cantor é chamado a responder: como alguém como ele, com tudo o que tem, com a vida que leva, teria o atrevimento de se lamentar desse jeito?
Lenny Kravitz mora em Miami, num condomínio em uma pequena ilha de South Beach, na parte sul da cidade. A casa tem muros enormes. No jardim, ao lado de uma estátua em tamanho natural de Miles Davis, há um enorme Rolls Royce. A sala principal da mansão foi decorada pelo próprio cantor: sofás, lareiras e tapetes são todos em tons brancos e acrílicos, assim como o piano de cauda.
O jardim dos fundos é cercado por árvores, que servem de sustentação para redes de descanso; ao lado da piscina, em forma de "T", chama a atenção uma jacuzzi. O fundo dá para uma baía, que é explorada por Kravitz com um barco ou com de seus dois jet-skis, ancorados ali mesmo.
E há as mulheres... Kravitz já namorou, ou teve casos rápidos, com Kylie Minogue, Vanessa Paradis, Naomi Campbell, Kate Moss, Madonna e, até recentemente, Nicole Kidman. Em 2002, esteve por alguns meses com a modelo baiana Adriana Lima.
"Não sou cínico. Nesta música, não digo que não gosto da minha vida. É que eu não me defino como um rockstar; prefiro me classificar como um artista. Sou um cara simples, gosto de levar uma vida normal, de sair para passear na rua... Fazer o que qualquer outra pessoa faz", diz Lenny Kravitz à Folha, em entrevista motivada por sua turnê brasileira, que passa por Porto Alegre (no estádio Olímpico, em 15/3), São Paulo (Pacaembu, 17/3) e Brasília (Mané Garrincha, 19/3). O artista está em negociação com patrocinadores e com a Prefeitura do Rio para a realização de um show na praia de Copacabana, gratuito, em 21/3.
Mas Lenny Kravitz não gosta de falar sobre as mulheres que já teve. É um dos assuntos que o deixam irritado. Outro é quando contestam que rock, a música que ele faz, seja "black music".
"Quem não acredita nisso são pessoas que não conhecem a história do rock. Todos os roqueiros brancos, até mesmo Elvis -e Elvis era muito bom-, pegaram tudo dos negros. Essa é a verdade. O que acontecia é que os brancos não deixavam seus filhos ouvirem "black music", então eles arrumaram caras brancos para imitá-los. E hoje é assim que o rock é representado. Mas o interessante é que essas pessoas continuaram tendo problemas, pois depois diziam que o rock era música do demônio, música sexual demais..."
O rock de Lenny Kravitz é retrô, com forte influência do hard rock dos anos 70, mas também arruma espaço para a soul e o funk, herança de sua infância.
Kravitz nasceu em 1964, filho da atriz Rixie Roker (morta em 1995) e de Sy Kravitz, então produtor da rede NBC. Morando em Nova York, cresceu cercado por gente do mundo artístico.
"Cresci tendo ao lado um monte de artistas, escritores, dançarinos, dramaturgos, músicos. Nova York, nos anos 70, tinha um astral muito bom", lembra. "Quando tinha cinco anos, senti que queria fazer parte daquilo. Foi quando ouvi os Jackson 5. Veio o "clique"."
Kravitz diz ter mergulhado em Prince, Curtis Mayfield e Miles Davis. Mas, aos 11 anos, veio um novo "clique": quando seus pais mudaram para Los Angeles.
"Ali eu fui introduzido ao rock'n'roll. Ouvia Zeppelin, Hendrix, Sabbath... todos eles. Era tudo muito novo, estava descobrindo coisas novas. Foi ótimo."
Aos 15 anos, nova mudança. Kravitz deixa a casa dos pais para viver em seu carro, viajando pelos EUA. "Eu queria crescer, conhecer o mundo, aprender. Vivia em todo lugar: no carro, na rua, no sofá de outras pessoas, no estúdio... em todos os lugares. E isso por anos. Aprendi bastante."
Na estrada, sem muito dinheiro, quando Kravitz resolveu montar uma banda, viu-se isolado. "Não tinha dinheiro, não conseguia encontrar ninguém para tocar. Por isso fiz meu primeiro disco sozinho. E eu adoro tocar todos os instrumentos. É assim até hoje."
Sete discos e 16 anos depois, ele afirma ainda sentir a mesma inspiração dos tempos de "Let Love Rule", o primeiro CD, e que não tem medo de envelhecer.
"Olhe para caras como BB King, Bob Dylan, Mick Jagger... Eles ainda são ótimos. Com relação a mim, vamos ter que esperar e ver. Mas não é porque você ficou velho que deixou de ser bom. Ao contrário: você poderá estar melhor, pois terá mais experiência, mais coisas a dizer."
Autor de hits como "Are You Gonna Go My Way", "Fly Away" e "Always on the Run", Kravitz é compositor também da polêmica "Justify My Love", que ganhou vida na voz de Madonna. Além do forte apelo erótico da letra, a música ganhou um vídeo com a "material girl" em cenas ousadas.
"A repercussão na época [1990] foi enorme. Fiz essa música logo depois de "Let Love Rule", que foi um sucesso. Então eu era "o" cara novo no pedaço. Escrevi a canção no estúdio e assim que terminei, pensei: "Isso não é para mim". Não conhecia Madonna, mas liguei para ela e disse: "Tenho um hit número um para você". Ela disse: "Ah é?". E eu: "É. Um hit número um". Então ela pediu para encontrá-la no estúdio e tocar a música. Ela ouviu uma primeira vez, depois ouviu de novo, e disse: "OK. Vamos gravar". Então gravamos, lançamos e chegou ao número um. Foi uma loucura. Foi meu primeiro hit que chegou ao primeiro lugar das paradas."

O repórter Thiago Ney viajou a convite da organização do evento

LENNY KRAVITZ. Shows no Brasil nos dias 15/3 (Porto Alegre; R$ 50/R$ 200), 17/3 (São Paulo; 20h; R$ 120/R$ 800), 19/3 (Brasília; R$ 60/R$ 400) e 21/3 (Rio; a definir). Inf.: tel. 0/xx/11/3523-3838.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.