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FOTOGRAFIA
Maison des Amériques Latines abre mostra sobre a cidade brasileira
Paris assiste a construção e "diluição" da capital Brasília
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Coube a Oscar Niemeyer e às
formas de Brasília, ícone do movimento moderno e obra máxima
do arquiteto, inaugurar a ponte
que celebrará a cultura brasileira
em mais de 450 diferentes atividades durante este Ano do Brasil na
França. Ontem, foi oficialmente
aberta a mostra fotográfica "Brasilia: Une Metaphore de la Liberté" (Brasília, uma metáfora da liberdade), dos fotógrafos Jair Lanes, 37, e Alberto Ferreira, 72, na
Maison des Amériques Latines,
em Paris.
Desde sua inauguração, em
1960, Brasília atrai artistas, estudantes de arquitetura e fotógrafos
de todo o mundo que querem
presenciar os volumes e os vazios
daquilo que, segundo Paola Antonelli, curadora de arquitetura e
design do MoMA (Museu de Arte
Moderna de Nova York), "é a realização mais dramática da grandiosidade e do narcisismo do movimento moderno".
Para o curador da mostra e diretor da Maison des Amériques Latines, o brasileiro Luiz Ferreira, a
escolha de Brasília como tema para iniciar o Ano do Brasil na França se deu "porque a cidade representa nosso país no seu aspecto
contemporâneo, voluntariamente voltado para o futuro. Ao mesmo tempo, o público francês se
interessa por esta cidade saída do
nada, construída em cinco anos e
badalada nas imagens do filme "O
Homem do Rio", de Philippe de
Broca, com Jean-Paul Belmondo,
nos anos 60".
A "cidade saída do nada" pode
ser percebida melhor nas imagens
de Alberto Ferreira, enquanto o
"aspecto contemporâneo" está
mais fluído no trabalho de Lanes.
Alberto Ferreira, que em 1960
trabalhava no "Jornal do Brasil",
foi um dos muitos fotógrafos que
acorreram ao Planalto Central para documentar o reluzente nascimento da cidade feita de concreto
e vidro em meio ao cerrado. Graças à pesquisa realizada por Luiz
Ferreira, as imagens de Alberto
Ferreira -não há parentesco entre eles-, somam-se agora às já
lendárias fotografias da construção e inauguração da capital federal realizadas por Thomaz Farkas
e Marcel Gautherot (1910-1996).
O trabalho de cunho jornalístico e documental de Alberto possui alguns preciosismos como a
imagem que ilustra o convite da
mostra, na qual vemos apenas os
pés calçados de pessoas sentadas
sobre uma marquise, na verdade
uma das muitas arestas criadas
por Niemeyer, que serve também
de ponto de contemplação para o
Palácio do Itamaraty, que se vê ao
fundo. Toda a cena é duplicada
pelo reflexo do espelho d'água, resultando numa imagem em caleidoscópio, uma vertigem visual.
Dessa forma, a abordagem de
Alberto Ferreira se vale da linguagem da fotografia moderna para
retratar seu equivalente na arquitetura. "Uma visão ao mesmo
tempo jornalística, artística e social", segundo o curador.
"O Silêncio das Formas" é o título do extenso ensaio realizado
por Jair Lanes durante várias visitas à cidade. O uso de uma câmera
polaróide acrescida de filtros coloridos colocados na frente da
lente, além do uso deliberado do
desfoque, remete o conjunto das
imagens à tradição da fotografia
pictórica, na qual há uma busca
de confluência dos conceitos da
própria fotografia com a pintura.
Trata-se de uma visão lírica sob
a qual as formas desenhadas por
Niemeyer têm seus contornos esmaecidos e perdem a solidez do
concreto. É como se Lanes partisse não da obra acabada do arquiteto, mas sim dos desenhos da
prancheta deste. O uso dos filtros
coloridos cria uma atmosfera falsa, uma luminosidade estranha
que reforça ainda mais o impacto
de Brasília como uma cidade "saída do nada", como assinala o curador, ou mesmo como uma cidade-maquete. O que, para Alberto,
Ferreira era construção em 1960,
para Lanes, é apenas diluição no
século 21.
Antes de chegarem à exposição,
as imagens de Lanes foram publicadas nas revistas "Big" (EUA) e
"Minotaure" (França) -seis delas foram adquiridas pelo Museu
de Fotografia de Houston (EUA).
Agora tanto seu ensaio quanto o
de seu companheiro de mostra
serão transformados em livros
pela Editions de L'Oleil e estarão à
venda durante a exposição.
No segundo semestre a fotografia brasileira estará presente na
França com mostras de Pierre
Verger, Sebastião Salgado, Miguel
Rio Branco e da ONG Olhares do
Morro, uma agência de fotografia
criada pelo francês Vincent Rosenblat com adolescentes do morro Dona Marta, no Rio de Janeiro.
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