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Plástica divide diretores e atrizes
Muitos criticam as pressões para "plastificar" o rosto, mas há quem defenda o bisturi, como a veterana Tônia Carrero
Nomes como Norma Bengell, Beatriz Tragtemberg e Laura Cardoso rejeitam operações e apostam em
"beleza atemporal"
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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LAURA CARDOSO, 79, NUNCA FEZ PLÁSTICAS (E NEM PRETENDE)
Atriz superativa, que fez recentemente três filmes, diz que desconhece "isso de não ter trabalho porque não fez plástica"; ela completa: "Eu gosto da minha cara, com as rugas que tem, e do meu corpo. É comovente acumular marcas, é bonito"
LENISE PINHEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o diretor de teatro Rodolfo García Vázquez, do grupo
Satyros, as atrizes são como
dois tipos de flor: as de plástico
e as naturais. As de plástico, diz,
têm todas o mesmo aspecto,
são industrializadas e carregam
"uma certa beleza brega, até serem queimadas e destruídas".
Por outro lado, as naturais registrariam o tempo, seriam
sensíveis ao vento e à umidade,
transpirariam vida. "Ter uma
atriz que fez plástica em um espetáculo meu seria como dar
uma flor artificial a uma pessoa
que eu amasse. Isso nem passa
pela minha cabeça", conclui.
Se Vázquez é da turma dos
radicais, a questão sobre manter ou não as rugas é uma constante entre atrizes e diretores
de teatro e cinema. Há quem
defenda a cirurgia, como a veterana atriz Tônia Carrero. E há quem acredite que os traços da passagem
dos anos podem dar mais credibilidade aos papéis.
A maioria, entretanto, concorda num ponto. A TV e sua
"estética de elite", segundo
Eduardo Tolentino (grupo Tapa), é a grande responsável por
forçar as atrizes mais velhas a
tentar parecer mais jovens.
"Quando encontro uma ruga,
aproveito a oportunidade e jogo mesmo o foco nela", conta a
cineasta Laís Bodansky, que estréia em agosto seu filme "Chega de Saudade", ambientado
num baile da terceira idade. Bodansky acha que as rugas ajudam a dar legitimidade às personagens mais idosas.
Beleza atemporal
Mantê-las ou não ainda é
uma opção bastante pessoal.
Norma Bengell, 71, aposta na
sua beleza atemporal. "Nunca
fiz plástica, porque sempre quis
ver a vida passar pelo meu rosto", diz a atriz. E isso faz diferença? "Sim. A TV, por exemplo, pára de chamar você."
O diretor Márcio Aurélio
conta que teve dificuldades para encontrar uma atriz mais velha para protagonizar "Digníssimo Filho da Mãe", de Leilah
Assumpção. Hoje, diz ele, as
atrizes com mais de 70 querem
fazer papel de 40, "aí fazem um
monte de plástica e ficam com a
cara toda torta, desfiguram a si
mesmas e aos personagens".
José Celso Martinez Corrêa
também condena o exagero da
plástica. "Quando as atrizes fazem isso demais, perdem a vibração, o "star appeal", viram
uma coisa morta, a gente até leva um susto quando olha pra
cara delas", diz.
Beatriz Tragtemberg, 71, outra "invicta", ataca o que considera "abusos" do mercado. "Sei
de diretores que ligam para as
atrizes e, antes de falar "Bom
dia", perguntam: "Você está bonita?"." Tragtemberg fala da
vontade de deixar os "traços do
tempo" brotarem. "Acho bonito. Temos de ficar bem por uma
questão de saúde, não para obedecer ao mercado."
Pressão do mercado
Miriam Mehler, 71, que está
em "Chega de Saudade", fez
plástica nos olhos há 12 anos.
Depois, não se importou mais.
"Quero aparentar minha idade,
mas o mercado quer a gente
com menos rugas. Se não está
bonitinha, não entra."
Convocada por Bodansky,
Conceição Senna nunca fez nenhuma intervenção e acha que
o mercado deve ser menos exigente, pois corre o risco de os
personagens perderem credibilidade. Senna diz que vive resistindo a pedidos de amigos e familiares: "Me dizem que tenho
que tirar a papada, puxar aqui
ou ali. Não me interesso. Na minha cara está a história da minha vida. Isso não tem preço".
Para Maria Della Costa, 80,
que já fez plástica nos olhos "há
muito tempo", as pessoas em
geral, não só a mídia ou o mercado, andam se preocupando
com a idade dos outros. "É a
primeira pergunta que se faz
quando se chega a algum lugar
novo." Vivendo em Paraty e
longe dos palcos, Costa conta
como sua época era diferente.
"Não tinha silicone nem botox, então ninguém se importava. Como eu era muito bonita,
minha preocupação era fazer
personagens diferentes a toda
hora, mais velhos ou mais novos, para provar que também
era boa atriz. Era com isso que
eu me importava", diz.
Veterana da TV, Laura Cardoso, 79, nunca fez plástica
nem pretende fazer. "A plástica
deforma as pessoas, as caras ficam sem expressão." Superativa, acaba de fazer três filmes
("Muito Gelo e Dois Dedos d'Água"; "Fica Comigo Esta Noite"
e "A Casa da Mãe Joana"). "Não
conheço isso de não ter trabalho porque não fez plástica. Eu
não paro de trabalhar, para
mim valem o talento e a qualidade do papel."
"Uma boa atriz pode representar um personagem muito
mais velho ou muito mais novo.
E eu gosto da minha cara, com
as rugas que tem, e do meu corpo como ele é. As rugas mostram a vida que eu tenho e a vida que vou ter. É comovente
acumular marcas, é bonito, a
gente vê o que aconteceu com a
gente, a vida que passou."
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