São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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Mônica Bergamo

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Moda de rainha

Pedro Carrilho/Folha Imagem
Grazi Massafera no ensaio da Grande Rio: "O brilho da fantasia faz a gente se sentir uma rainha"


Laquê no bumbum, rabos de raposa, cristais da Áustria e gel americano nas pernas são algumas das armas das rainhas de bateria para sair bem na foto e na telinha em seu breve reinado na Sapucaí

"Relaxa, Lu, que você vai arrasar!" É o estilista Carlinhos Barzellai, que, deitado na cama entre broches de cristal, atende a apresentadora Luciana Gimenez ao telefone, em seu ateliê, em Copacabana. "Ela vai vestir só rabos de raposa. São 70 rabos. Rabos de raposa! Ra-po-sa! Você não tá entendendo, minha filha! Eu trouxe de NY! A cabeça dela tem 4% de ouro pra dar aquele brilho." Luciana, diz ele, "está insegura, coitadinha. Ela só vai usar pele [na fantasia]. Ela nunca saiu sem penas".

 

O Carnaval é o momento de glória de Carlinhos Barzellai, especialista em fantasias. Além de costurar para Luciana, que será rainha da Imperatriz, ele cria as roupas de Juliana Paes (Viradouro), Grazi Massafera (Grande Rio), Janaína Barbosa (Mocidade), Graciane Barbosa (Salgueiro) e Suzana Vieira (destaque da Grande Rio). "Procuro marcar todas separadas. Porque quando se cruzam no corredor... Aí é problema. Uma acha que a outra vai copiar, tenho que colocar uma em cada quarto... É bafafá, minha filha!" Só a mão-de-obra, segundo as clientes, não sai por menos de R$ 15 mil. "Money, no problem, meu bem", diz ele.
 

E continua: "Existe faisão real e faisão imperial. A pena do faisão real vai de 30 cm a 1,80 m e custa entre R$ 25 e R$ 120 cada. Uso uma base de 300 a 400 penas por fantasia. O faisão imperial é branco, mais raro. Uma pena custa R$ 70. Vem tudo da China, tá? Pode até usar boá, mas não é aquele lambido da 25 [de Março], tipo rabo de macaco. É boá de Paris, grosso. Bom, continuando: basicamente, todo mundo quer usar o que a Juliana [Paes] usou." E, no ano passado, ela usou fantasia com 600 rabos de galo da China e 300 penas de faisão, também importadas. "Mas não dá. Porque é só pra poderosa. Morro de pena. Mas as pobrezinhas não podem pagar."
 

Segundo ele, "poderosa usa cristal. Cristal acende na avenida, é mais nobre. Tem uma lapidação que ilumina. É básico isso, meu bem. A biju da Juliana, por exemplo. A dela veio do Vietnã do Sul. O cristal da Grazi. Bom, o dela vem da Áustria, terra do cristal. Cada pacote de Swarovski tem 288 pedras e custa R$ 400".
 

"São 400 penas de faisão albino. Al-bi-no! Uma coooisa! E você sabe que tem que ser pena caída, né? Não pode ser arrancada. Jamais." A descrição é de Adriane Galisteu, sobre sua fantasia de Carnaval, feita por um estilista só para a noite de amanhã, quando será rainha de bateria da Unidos da Tijuca. Claro que não é o mesmo estilista de Luciana Gimenez: Galisteu contrata Henrique Filho -o mesmo que sempre desenhou para de Luma de Oliveira.
 

"Fantasia, não! É uma obra de arte", diz Galisteu. "Eu, aliás, estou prestigiando um artista plástico", completa, referindo-se a Filho, que assinou o macacão com 90 mil cristais que ela usou no último Carnaval. "Você não tá entendendo: a fantasia ficou exposta na Áustria, na fábrica da Swarovski, sabe?"
 

Além das penas de faisão e dos cristais, Adriane só pisa na Sapucaí acompanhada do maquiador Cacá Moraes, de seu produtor Tide e do assessor Nelson Sacho, que cuida da imprensa que invade a avenida para fotografá-la. "A preparação é supersimples", diz. "Só uso cílios [postiços] e faço uma pele legal, porque sua demais. Cabelo solto em hipótese alguma! Fica feio, gruda nas penas, enche de nó." No corpo, usa óleo em gel trazido dos Estados Unidos. "Já desfilei com laquê no bumbum, mas não dura nada. Segura só na hora e, depois, vira uma meleca a mais."
 

Foi uma dessas "melecas" que derrubou Adriane do salto -uma sandália de 12 cm, de Fernando Pires- na avenida. "Ela inventou de lambuzar a perna de óleo. O negócio escorreu e o pé virou uma manteiga. Saiu carregada de lá, com o pé cheio de bolhas", lembra Pires, que assina as sandálias da maioria das rainhas da Sapucaí. "Mandei uns 30 pares para serem adereçados no Rio. Todos em couro dourado e prata, com fivela de strass."
 

"Faz parte do glamour do Carnaval, né?", diz Grazi Massafera sobre sua fantasia. "O brilho faz a gente se sentir uma rainha naquele momento. É pra ser uma coisa que você não é", diz ela, que, na última terça, chegou escoltada por três carros ao ensaio da Grande Rio, em Duque de Caxias. "É tudo segurança do Jaider [Soares, presidente da escola]. Eles dizem que, em tempo de Carnaval, é perigoso." Grazi garante que, exceto pelos seguranças, sua rotina não mudou por ser rainha de bateria. "Estou comendo normal. E não faço bronzeamento porque tenho medo de ficar manchada com essa coisarada."
 

Preta Gil, rainha da Mangueira, resolveu "fashionweekizar" na avenida. Escolheu um estilista de SP, Amir Slama, da Rosa Chá, para desenhar sua roupa: um corselet verde e rosa coberto com 35 mil cristais e uma saia. Ela levará o maquiador Celso Kamura à Sapucaí e usará botas de Francesca Giobbi. "É muito Fashion Week, meu amor! A Grazi é só passar um rimelzinho e 'tá" linda. Eu me monto, que nem uma drag!"
 

A cantora Cláudia Leitte, do Babado Novo, também procurou um estilista da SPFW para seu figurino de Carnaval. Nos trios de Salvador, vestirá roupas de Carlos Tufvesson. "Ela passou aqui para a prova, mas estava fazendo descanso de voz. Ficou oito horas provando e escrevendo num papel o que queria que eu mudasse", diz ele, que usou uma malha de cristal -a R$ 1.800 o metro- para confeccionar os shorts da cantora. "É um figurino de editorial de moda. Usamos 6.000 cristais e 12 mil paetês."
 

Já a rainha da Mocidade, Janaína Barbosa, além do estilista, contratou uma "personal Carnaval". "Ela me apresentou o costureiro, me explicou que eu precisava de uma roupa para cada ensaio, me levou pra conhecer a comunidade", conta. E completa: "Se eu não pegar cor, faço jet bronze. Vou passar anestésico nos ombros e nos pés pra não doer e um pó para dar brilho no corpo. Eu deixo tudo correr naturalmente."

AUDREY FURLANETO (reportagem)

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