São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Índice

Drama chinês vence o Festival de Berlim

Filme de Wang Quan'an, sobre família na Mongólia, ganha o Urso de Ouro; "O Ano", de Cao Hamburger, sai sem prêmios

"El Otro", do argentino Ariel Rotter, fica com o Grande Prêmio do Júri e tem Julio Chávez como melhor ator; israelense é o melhor diretor

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Com a entrega de prêmios de sua 57ª edição, ontem, o Festival de Berlim demarcou um território de vencedores distante de Hollywood e dos decanos de todos os quadrantes.
O Urso de Ouro de melhor filme ficou com o chinês "Tuya's Marriage", terceiro longa do diretor Wang Quan'an, 41.
Ensaio sobre os vínculos amorosos e éticos numa família, "Tuya's Marriage" tem como pano de fundo o modo de vida dos povos no interior da Mongólia. É lá que Tuya (Yu Nan) se vê obrigada a cuidar da casa, dos filhos e do marido, executando também as tarefas masculinas -como abastecer a casa de água içada de um poço-, após seu marido torna-se inválido num acidente.
Ainda jovem, Tuya é cobiçada por vários homens da região. Para aceitar um novo casamento, ela exige que o primeiro marido a acompanhe -imposição inaceitável para a maioria dos pretendentes.
Ao receber seu Urso de Ouro, Quan'an lembrou que ontem era o Ano Novo chinês e disse que a vitória em Berlim fazia o seu ano começar com a realização de um sonho. "Na escola de cinema, aprendi que os filmes devem proporcionar às pessoas um sonho. Hoje, "Tuya's Marriage" tornou um sonho meu realidade", afirmou.
O israelense Joseph Cedar, 38, premiado como melhor diretor por "Beaufort", seu terceiro longa, fez um discurso mais abrangente. ""Beaufort" é sobre como uma guerra termina e os complicados sentimentos que envolvem a volta para casa. É também um filme sobre o medo. O meu próprio medo. Gostaria que os líderes sentissem medo e tivessem coragem de terminar as guerras", disse.
Beaufort é o nome do forte militar israelense na montanha homônima, no Líbano. O longa de Cedar enfoca o cotidiano dos últimos soldados israelenses a servir no forte, antes de o alto comando decidir por sua desocupação e implosão, em 2000.
Com o respaldo do Urso de Prata de melhor ator para o protagonista Julio Chávez e do Grande Prêmio do Júri para o seu "El Otro", o diretor argentino Ariel Rotter, 33, proclamou a primazia do cinema de autor em relação ao industrial.
"Entendo que esse prêmio reconhece um determinado cinema, afastado dos elementos econômicos que o rodeiam."
O coreano Park Chan-wook , 43, que recebeu o troféu Alfred Bauer -para "filmes que abrem novos rumos para o cinema"- por "I'm a Cyborg, but That's OK", dedicou o prêmio à sua mulher: "Espero que, quando voltarmos para casa, ela diga aos amigos: Meu marido é cineasta, mas OK".
O Brasil, que concorria com "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, saiu do Festival de Berlim sem prêmios. Também não houve troféus para os longas nacionais que participaram de seções paralelas à disputa pelo Urso de Ouro -"A Casa de Alice", de Chico Teixeira, "Antônia", de Tata Amaral, e "Deserto Feliz", de Paulo Caldas.
A disputa principal contou com 22 filmes, incluindo títulos de veteranos como Jacques Rivette e André Téchiné.


Texto Anterior: Oscarizáveis tratam de temas explosivos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.