|
Texto Anterior | Índice
Drama chinês vence o Festival de Berlim
Filme de Wang Quan'an, sobre família na Mongólia, ganha o Urso de Ouro; "O Ano", de Cao Hamburger, sai sem prêmios
"El Otro", do argentino Ariel Rotter, fica com o Grande Prêmio do Júri e tem Julio Chávez como melhor ator; israelense é o melhor diretor
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Com a entrega de prêmios de
sua 57ª edição, ontem, o Festival de Berlim demarcou um
território de vencedores distante de Hollywood e dos decanos de todos os quadrantes.
O Urso de Ouro de melhor filme ficou com o chinês "Tuya's
Marriage", terceiro longa do diretor Wang Quan'an, 41.
Ensaio sobre os vínculos
amorosos e éticos numa família, "Tuya's Marriage" tem como pano de fundo o modo de
vida dos povos no interior da
Mongólia. É lá que Tuya (Yu
Nan) se vê obrigada a cuidar da
casa, dos filhos e do marido,
executando também as tarefas
masculinas -como abastecer a
casa de água içada de um poço-, após seu marido torna-se
inválido num acidente.
Ainda jovem, Tuya é cobiçada por vários homens da região.
Para aceitar um novo casamento, ela exige que o primeiro marido a acompanhe -imposição
inaceitável para a maioria dos
pretendentes.
Ao receber seu Urso de Ouro,
Quan'an lembrou que ontem
era o Ano Novo chinês e disse
que a vitória em Berlim fazia o
seu ano começar com a realização de um sonho. "Na escola de
cinema, aprendi que os filmes
devem proporcionar às pessoas
um sonho. Hoje, "Tuya's Marriage" tornou um sonho meu
realidade", afirmou.
O israelense Joseph Cedar,
38, premiado como melhor diretor por "Beaufort", seu terceiro longa, fez um discurso
mais abrangente. ""Beaufort" é
sobre como uma guerra termina e os complicados sentimentos que envolvem a volta para
casa. É também um filme sobre
o medo. O meu próprio medo.
Gostaria que os líderes sentissem medo e tivessem coragem
de terminar as guerras", disse.
Beaufort é o nome do forte
militar israelense na montanha
homônima, no Líbano. O longa
de Cedar enfoca o cotidiano dos
últimos soldados israelenses a
servir no forte, antes de o alto
comando decidir por sua desocupação e implosão, em 2000.
Com o respaldo do Urso de
Prata de melhor ator para o
protagonista Julio Chávez e do
Grande Prêmio do Júri para o
seu "El Otro", o diretor argentino Ariel Rotter, 33, proclamou
a primazia do cinema de autor
em relação ao industrial.
"Entendo que esse prêmio
reconhece um determinado cinema, afastado dos elementos
econômicos que o rodeiam."
O coreano Park Chan-wook ,
43, que recebeu o troféu Alfred
Bauer -para "filmes que
abrem novos rumos para o cinema"- por "I'm a Cyborg, but
That's OK", dedicou o prêmio à
sua mulher: "Espero que, quando voltarmos para casa, ela diga
aos amigos: Meu marido é cineasta, mas OK".
O Brasil, que concorria com
"O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, saiu do Festival de Berlim sem prêmios. Também não
houve troféus para os longas
nacionais que participaram de
seções paralelas à disputa pelo
Urso de Ouro -"A Casa de Alice", de Chico Teixeira, "Antônia", de Tata Amaral, e "Deserto Feliz", de Paulo Caldas.
A disputa principal contou
com 22 filmes, incluindo títulos de veteranos como Jacques
Rivette e André Téchiné.
Texto Anterior: Oscarizáveis tratam de temas explosivos Índice
|