São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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Missão cumprida

No desembarque no Brasil, o diretor José Padilha diz que Urso de Ouro confirma evolução técnica do cinema brasileiro desde os anos 90

David Prichard/Divulgação
O aspirante André, personagem interpretado por André Ramiro,
em cena do filme de José Padilha, segundo título brasileiro vencedor
do Urso de Ouro em Berlim


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O cineasta José Padilha desembarcou ontem à tarde no aeroporto de Congonhas, com o Urso de Ouro de melhor filme dado ao seu filme "Tropa de Elite", no sábado, no Festival de Berlim. "O mais importante para mim é a vitória do cinema brasileiro. Na equipe de "Tropa de Elite", estavam pessoas que trabalharam em "Central do Brasil", em "Cidade de Deus"; uma equipe técnica que se formou ao longo da retomada [da produção nacional, a partir de 1994]. Esse prêmio não é para mim, é para o cinema brasileiro", disse.
Foi a segunda vez na história do festival -um dos três mais importantes do mundo, ao lado de Cannes e Veneza- que o Brasil ganhou o prêmio máximo. "Central do Brasil", de Walter Salles, venceu em 1998.
A vitória de "Tropa de Elite" inverteu o final de uma história que começou cheia de atropelos. Dos 21 concorrentes ao Urso de Ouro, nenhum apanhara da crítica tão violentamente como o concorrente brasileiro.
O filme de Padilha foi também o único da disputa a enfrentar um problema técnico na exibição para a imprensa.
Depois de um inexplicado sumiço da cópia legendada em inglês, ele foi projetado com legendas em alemão e tradução mais consecutiva do que simultânea, acompanhada pelos jornalistas em fones de ouvido.
"Eu fiquei chateado, é claro. E os americanos de fato não entenderam o filme. Tanto que perguntavam por que aqueles policiais trabalhavam numa oficina. As críticas foram todas negativas. Depois de uma segunda exibição [com legendas em inglês], as críticas melhoraram muito".
A sessão oficial ocorreu no primeiro e menos nobre horário da agenda (às 16h), para uma platéia desfalcada, que reagiu friamente ao filme.
Mas o júri da disputa teve "completa aceitação" a "Tropa de Elite", como salientou seu presidente, o cineasta grego radicado na França Constantin Costa-Gavras, quando anunciou a vitória do longa.
Padilha ouviu o anúncio sentado numa das primeiras fileiras do Berlinale Palast, o palácio-sede do festival, ao lado da mulher -a quem mais tarde mandaria do palco um recado: "Jô, eu te amo!".
O ator Wagner Moura (Capitão Nascimento), que esteve na estréia do filme em Berlim, já havia voltado ao Brasil. Acompanhavam Padilha seu sócio e produtor do filme, Marcos Prado, a atriz Maria Ribeiro, o produtor-executivo James D'Arcy e o co-produtor argentino, Eduardo Constantini Jr.
Na sexta-feira, a organização do festival sondou a equipe sobre sua permanência em Berlim, para se certificar de que iriam à premiação, dando a entender que "Tropa de Elite" receberia algum troféu.
O aviso prévio não diminuiu a emoção de Padilha com seu Urso de Ouro. A voz do diretor oscilava quando ele agradeceu, em português, inglês e alemão: "Muito obrigado! Thank you! Danke! É muito difícil explicar o que estou sentindo agora".
Constantini Jr. contou à Folha que investiu no filme 50% de seu orçamento. "Tropa de Elite" custou R$ 10,5 milhões. "O projeto me interessou desde o primeiro dia em que ouvi falar nele, há dois anos e meio. Eu havia visto "Cidade de Deus", um filme muito importante para a América Latina, e achei que "Tropa de Elite" também teria essa importância."
A Argentina é o próximo país em que "Tropa de Elite" será lançado, no próximo 2 de abril. A estréia nos Estados Unidos deve ser a seguinte, em maio.
Na noite da premiação, Padilha classificou seu Urso de Ouro como "a vitória de um jeito brasileiro de filmar". O rótulo de filme "hollywoodiano", que alguns críticos aplicam a "Tropa de Elite", é equivocado, na opinião do diretor.
"Procuramos usar nesse filme características da linguagem documental. Ele é feito com câmera na mão e improvisação dos atores. Não há nada de hollywoodiano nisso."
Depois da premiação, Padilha e sua equipe foram jantar no Borchardt, um restaurante famoso por sua cozinha francesa e seus clientes VIPs. A confraternização reuniu todos os premiados, o diretor do festival, Dieter Kosslick, e o presidente do júri.


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