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Missão cumprida
No desembarque no Brasil, o diretor José Padilha diz que Urso de Ouro confirma evolução técnica do cinema brasileiro desde os anos 90
David Prichard/Divulgação
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O aspirante André, personagem interpretado por André Ramiro, em cena do filme de José Padilha, segundo título brasileiro vencedor do Urso de Ouro em Berlim
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O cineasta José Padilha desembarcou ontem à tarde no
aeroporto de Congonhas, com
o Urso de Ouro de melhor filme
dado ao seu filme "Tropa de
Elite", no sábado, no Festival
de Berlim. "O mais importante
para mim é a vitória do cinema
brasileiro. Na equipe de "Tropa
de Elite", estavam pessoas que
trabalharam em "Central do
Brasil", em "Cidade de Deus";
uma equipe técnica que se formou ao longo da retomada [da
produção nacional, a partir de
1994]. Esse prêmio não é para
mim, é para o cinema brasileiro", disse.
Foi a segunda vez na história
do festival -um dos três mais
importantes do mundo, ao lado
de Cannes e Veneza- que o
Brasil ganhou o prêmio máximo. "Central do Brasil", de
Walter Salles, venceu em 1998.
A vitória de "Tropa de Elite"
inverteu o final de uma história
que começou cheia de atropelos. Dos 21 concorrentes ao Urso de Ouro, nenhum apanhara
da crítica tão violentamente como o concorrente brasileiro.
O filme de Padilha foi também o único da disputa a enfrentar um problema técnico
na exibição para a imprensa.
Depois de um inexplicado sumiço da cópia legendada em inglês, ele foi projetado com legendas em alemão e tradução mais consecutiva do que simultânea, acompanhada pelos jornalistas em fones de ouvido.
"Eu fiquei chateado, é claro.
E os americanos de fato não entenderam o filme. Tanto que
perguntavam por que aqueles
policiais trabalhavam numa
oficina. As críticas foram todas
negativas. Depois de uma segunda exibição [com legendas
em inglês], as críticas melhoraram muito".
A sessão oficial ocorreu no
primeiro e menos nobre horário da agenda (às 16h), para
uma platéia desfalcada, que
reagiu friamente ao filme.
Mas o júri da disputa teve
"completa aceitação" a "Tropa
de Elite", como salientou seu
presidente, o cineasta grego radicado na França Constantin
Costa-Gavras, quando anunciou a vitória do longa.
Padilha ouviu o anúncio sentado numa das primeiras fileiras do Berlinale Palast, o palácio-sede do festival, ao lado da
mulher -a quem mais tarde
mandaria do palco um recado:
"Jô, eu te amo!".
O ator Wagner Moura (Capitão Nascimento), que esteve na
estréia do filme em Berlim, já
havia voltado ao Brasil. Acompanhavam Padilha seu sócio e
produtor do filme, Marcos Prado, a atriz Maria Ribeiro, o produtor-executivo James D'Arcy
e o co-produtor argentino,
Eduardo Constantini Jr.
Na sexta-feira, a organização
do festival sondou a equipe sobre sua permanência em Berlim, para se certificar de que
iriam à premiação, dando a entender que "Tropa de Elite" receberia algum troféu.
O aviso prévio não diminuiu
a emoção de Padilha com seu
Urso de Ouro. A voz do diretor
oscilava quando ele agradeceu,
em português, inglês e alemão:
"Muito obrigado! Thank you!
Danke! É muito difícil explicar
o que estou sentindo agora".
Constantini Jr. contou à Folha que investiu no filme 50%
de seu orçamento. "Tropa de
Elite" custou R$ 10,5 milhões.
"O projeto me interessou desde o primeiro dia em que ouvi
falar nele, há dois anos e meio.
Eu havia visto "Cidade de
Deus", um filme muito importante para a América Latina, e
achei que "Tropa de Elite" também teria essa importância."
A Argentina é o próximo país
em que "Tropa de Elite" será
lançado, no próximo 2 de abril.
A estréia nos Estados Unidos
deve ser a seguinte, em maio.
Na noite da premiação, Padilha classificou seu Urso de Ouro como "a vitória de um jeito
brasileiro de filmar". O rótulo
de filme "hollywoodiano", que
alguns críticos aplicam a "Tropa de Elite", é equivocado, na
opinião do diretor.
"Procuramos usar nesse filme características da linguagem documental. Ele é feito
com câmera na mão e improvisação dos atores. Não há nada
de hollywoodiano nisso."
Depois da premiação, Padilha e sua equipe foram jantar
no Borchardt, um restaurante
famoso por sua cozinha francesa e seus clientes VIPs. A confraternização reuniu todos os
premiados, o diretor do festival, Dieter Kosslick, e o presidente do júri.
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