São Paulo, quarta, 18 de fevereiro de 1998

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NETVOX
Artistas embaralham interface

MARIA ERCILIA
do Universo Online

O melhor da Milia passou longe dos estandes embandeirados, dos Bunnymen da Intel, dos CD-ROMs do Louvre e dos euroboys multimídia de rabo-de-cavalo e blazer.
Num canto meio escondido do Palais du Cinéma de Cannes, 27 estudantes exibiam CD-ROMs, protótipos de games e sites. Em meio a uma feira sem grandes lançamentos, uma indústria de multimídia em crise de identidade e um frio danado, o New Talent Pavilion (http://www.milia.com/talent/talent.htm) acabou sendo uma fonte de surpresas e encantos.
"Microphone Fiend" dá uma chacoalhada cheia de graça na relação entre usuário e computador. Tota Hasegawa criou uma coleção de 12 gags visuais que o espectador manipula assoprando num microfone -como um Godzilla cuspindo fogo e um fósforo se apagando.
Fiel às origens, Hasegawa (www-crd.rca.ac.uk/tota/) usou imagens de filmes e seriados japoneses, com um resultado bem pop e sem afetação.
"Cyderspace" (www.lessrain.com/apple), de Lars Eberle, também procura reestruturar a interface entre o usuário e o computador.
O aponte-e-clique nunca é o que se espera. Na tela de abertura, os ícones se movem como numa roda-gigante. Em outra, comportam-se como máquinas de pinball -o mouse dispara uma bolinha que pousa sobre três opções do menu.
Patrocinado pela Apple, este site é uma homenagem elegante e cifrada ao Macintosh, que começa na tipologia e trabalha com ícones como a latinha de lixo e a própria maçã, sempre meio modificados.
"Cyderspace" e "Microphone Fiend" desaceleram a percepção do usuário acostumado à navegação utilitária do computador, transformando a comunicação com a máquina numa fonte de surpresa e prazer. Os dois trabalhos dão um tiro certeiro na questão que interessa: a interface.
À medida que CD-ROMs e a Web nos obrigam a lidar com a organização visual de grandes massas de informação, o desenho de interface vai se firmar como uma forma de arte diversa do design puro e simples.
Tem mais semelhança com a arquitetura, pois é preciso resolver como o usuário vai se mover dentro de um determinado espaço -e há inúmeras possibilidades além dos menus convencionais. Como o arquiteto, o desenhista de interface tem que ser um pouco engenheiro e um pouco artista.

E-mail: netvox@uol.com.br



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