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TEATRO
Para comemorar seu centenário, reestréia em abril no Rio o maior sucesso do ator, dirigido por sua filha Bibi Ferreira
Nova 'Deus lhe Pague' para o velho Procópio
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Demorou, mas já tem data o início das comemorações dos 100
anos do ator Procópio Ferreira
(1898-1979). O centenário foi em 8
de julho de 98, mas a estréia da remontagem de "Deus lhe Pague",
seu maior sucesso, é dia 7 de abril,
no teatro Villa-Lobos, no Rio.
O Mendigo, que Procópio interpretou durante quase quatro décadas, será feito -se as negociações
caminharem bem- por Chico
Anysio. A direção é de uma das filhas de Procópio, a atriz Bibi Ferreira, que encabeça o extenso programa de homenagens.
Os patrocinadores também estão
definidos: Telefônica, que retoma
o investimento que a Telesp fazia
regularmente em teatro, e Eletrobrás. A peça estréia em São Paulo
no dia 2 de junho, no teatro Sérgio
Cardoso, também para curta temporada de dois meses, e parte depois em turnê pelo país.
Além de Procópio, a remontagem de "Deus lhe Pague", peça que
estreou sua primeira produção em
30 de dezembro de 32 e teria sido
representada pelo ator mais de
3.000 vezes, homenageia o autor
Joracy Camargo, também nascido
em 1898, em 18 de outubro.
Camargo, que vinha da companhia modernista de Álvaro Moreyra, o Teatro de Brinquedo, teve
seus grandes êxitos comerciais representados por Procópio, como
"Anastácio" (36). Escreveu "Deus
lhe Pague" especialmente para o
ator, de quem era amigo.
As apresentações da remontagem serão precedidas por breve
documentário sobre o ator, o autor
e o ano de 32. A nova encenação,
cujo projeto inicial previa reproduzir estritamente a original, será
atualizada, inclusive no texto.
Para a decisão, a produção se
apóia nas próprias remontagens finais de Procópio, como em 68,
quando modernizou o mais possível a linguagem do texto. Foi Procópio, por sinal, quem deu o título
definitivo à peça, que em seu início
de temporada, em 32, era intitulada "Deus lhe Favoreça".
A diretora Bibi Ferreira prevê
também recuperar alguns dos lendários "cacos" (improvisações)
acrescentados pelo protagonista
ao longo das inúmeras remontagens de "Deus lhe Pague".
Biografia
Além de "Deus lhe Pague", as homenagens passam pelo lançamento, em outubro, de três livros. Um
deles é a reedição pela Funarte de
"O Ator Vasques", que Procópio
escreveu em 39 sobre o ator cômico Francisco Correia Vasques
(1839-1892), que considerava superior ao trágico João Caetano, no
teatro carioca do século 19.
Dois lançamentos são inéditos.
"Depoimentos para o Teatro Brasileiro", que Bibi Ferreira reencontrou entre objetos pessoais deixados por Procópio, traz textos escritos pelo ator no final da vida, sobre
sua carreira, família e o teatro brasileiro, incluindo experiências e
várias passagens curiosas.
A biografia "Procópio Ferreira, o
Atleta da Palavra" (ed. Record), de
Jalusa Barcellos, é o trabalho mais
aguardado. Atriz e jornalista, ela
descreve em detalhes momentos
como o do convite do ator francês
Louis Jouvet a Procópio, para que
este representasse a seu lado o
"Don Juan" de Molière, em Paris,
no papel de Sganarelo.
Também retrata o final da vida
de Procópio. "É quando tentam
rotulá-lo como ator superado, que
reage à figura do diretor", diz a autora. "Mas ele precisava trabalhar e
procurou se ajustar. Vai até o fim
da vida trabalhando. Fez 467 ou
462 peças e jamais recebeu um prêmio em teatro. O único prêmio foi
pelo último filme que ele fez."
Ela se refere a "Em Família", um
dos 14 filmes em que Procópio
atuou e que estão sendo reunidos,
para mostras que acompanhariam
as apresentações de "Deus Lhe Pague". As homenagens incluiriam
ainda uma exposição de fotos.
São Procópio
O carioca João Álvaro de Jesus
Quental Ferreira, que adotou ao
iniciar a carreira de ator o nome
Procópio em função de seu nascimento no dia de São Procópio, era
filho de portugueses. Estreou no
palco no dia 22 de março de 1917,
na peça "Amigo, Mulher e Marido", de Flers e Caillavet, no teatro
Carlos Gomes, no Rio.
Atuou em diversas companhias
de teatro musical e melodrama, até
alcançar maior destaque aos 21
anos, no papel de Zé Fogueteiro,
em "Juriti", peça de Viriato Correa
musicada por Chiquinha Gonzaga.
Ao longo das décadas seguintes,
dividiu com Jaime Costa, Itália
Fausta e Dulcina, entre outros, o
cenário de companhias dominadas por grandes atores.
Encenou novos autores brasileiros como Armando Gonzaga ("Cala a Boca, Etelvina"), Oduvaldo
Vianna ("Feitiço"), Raimundo
Magalhães Jr. ("Essa Mulher É Minha"), Guilherme Figueiredo ("A
Raposa e as Uvas"), Pedro Bloch
("Essa Noite Choveu Prata"), além
de clássicos como Martins Pena
("O Juiz de Paz na Roça") e Artur
Azevedo ("A Capital Federal").
Entre os textos estrangeiros, privilegiou montagens de Molière,
como "O Avarento", "Georges
Dandin", "O Burguês Fidalgo", "A
Escola de Maridos" e "O Médico à
Força", mas encenou outros clássicos, como "La Locandiera", de
Goldoni, traduzido como "O Inimigo das Mulheres", espetáculo
que lançou Bibi Ferreira.
Com a criação de companhias
como Os Comediantes e depois o
TBC, no fim dos anos 40, passou a
ser muito questionado por críticos
como Álvaro Lins e Décio de Almeida Prado, por privilegiar a comédia de costumes e desrespeitar
textos, perdendo pouco a pouco o
posto de maior ator brasileiro.
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