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"ESQUEMA NOVO"
Atento às invenções, J.T. Meirelles renova seu som histórico
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
João Theodoro Meirelles tinha
apenas 23 anos quando fez para o
primeiro disco do então Jorge
Ben, "Samba Esquema Novo", alguns arranjos, entre eles o de
"Mas que Nada", uma das músicas brasileiras mais gravadas no
mundo. Hoje, 42 anos depois, ele
lança o CD "Esquema Novo" para
evocar o momento histórico e, como o título deixa claro, mostrar
que está sempre se renovando.
"É diferente daquela época porque agora existem outros ritmos,
outros instrumentos, o piano elétrico, e eu utilizo tudo isso", diz
J.T. Meirelles, saxofonista, flautista, compositor e um dos criadores
do samba jazz. Sua capacidade de
avançar sem deixar de ser fiel às
invenções de quatro décadas atrás
fica clara na faixa-título, em que
dá uma roupagem funk à famosa
introdução de "Mas que Nada".
O mesmo pode-se dizer de
"Aboio", "Solo", "Neurótico",
"Quintessência", temas seus que
ele já tinha gravado ou que constam de discos de parceiros de
samba jazz, como o baterista Edison Machado e o pianista Sérgio
Mendes, que em 1964 registrou
"Neurótico" ao lado do Bossa Rio.
"Esse disco [de Mendes] tem
aquele famoso subtítulo: "Você
ainda não ouviu nada!". E não dá
para ouvir nada mesmo, porque o
Sérgio, como queria tocar em rádio, só deixou os músicos fazerem
uns solos curtos", afirma ele, que
em todas as 12 faixas abre espaço
para improvisações.
Meirelles é muito sincero no jeito de falar, talvez por não ter muito a perder. Com os arranjos que
fez nos anos 60 e os discos "O
Som" (64) e "O Novo Som" (65),
poderia ter se consagrado. Mas
acabou ficando em segundo plano na história da bossa nova.
Em 2001, foi redescoberto tocando na loja de discos Modern
Sound, no Rio, e reengrenou a
carreira. A Dubas relançou em
CD seus dois discos clássicos e
gravou um novo "Samba Jazz!!"
(2002). "Resolvi assumir minha
porção de músico instrumental
brasileiro e botar meu time em
campo, senão ia ficar tocando em
barzinho por dez merrecas. Em
relação ao que era, minha profissão acabou", diz ele, que toca este
fim de semana no Sesc Pompéia.
Mas as palavras enganam. Meirelles gosta muito de fazer shows,
e muito dos arranjos que executa
em "Esquema Novo" são frutos
de suas apresentações, como os
de "Vera Cruz" (Milton Nascimento) e "Casa Forte" (Edu Lobo). Recriou "Naima", de John
Coltrane, acrescentando trompete e mais leveza à versão original.
Sua constante renovação também está nos músicos que o
acompanham. Por trás da marca
Copa 5, como sempre batizou seu
conjunto, hoje estão artistas bem
mais jovens que ele. O grande
som de Meirelles é sempre um
novo som.
Esquema Novo
Artista: J.T. Meirelles
Gravadora: Dubas
Quanto: R$ 32, em média
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