São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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"ESQUEMA NOVO"

Atento às invenções, J.T. Meirelles renova seu som histórico

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

João Theodoro Meirelles tinha apenas 23 anos quando fez para o primeiro disco do então Jorge Ben, "Samba Esquema Novo", alguns arranjos, entre eles o de "Mas que Nada", uma das músicas brasileiras mais gravadas no mundo. Hoje, 42 anos depois, ele lança o CD "Esquema Novo" para evocar o momento histórico e, como o título deixa claro, mostrar que está sempre se renovando.
"É diferente daquela época porque agora existem outros ritmos, outros instrumentos, o piano elétrico, e eu utilizo tudo isso", diz J.T. Meirelles, saxofonista, flautista, compositor e um dos criadores do samba jazz. Sua capacidade de avançar sem deixar de ser fiel às invenções de quatro décadas atrás fica clara na faixa-título, em que dá uma roupagem funk à famosa introdução de "Mas que Nada".
O mesmo pode-se dizer de "Aboio", "Solo", "Neurótico", "Quintessência", temas seus que ele já tinha gravado ou que constam de discos de parceiros de samba jazz, como o baterista Edison Machado e o pianista Sérgio Mendes, que em 1964 registrou "Neurótico" ao lado do Bossa Rio.
"Esse disco [de Mendes] tem aquele famoso subtítulo: "Você ainda não ouviu nada!". E não dá para ouvir nada mesmo, porque o Sérgio, como queria tocar em rádio, só deixou os músicos fazerem uns solos curtos", afirma ele, que em todas as 12 faixas abre espaço para improvisações.
Meirelles é muito sincero no jeito de falar, talvez por não ter muito a perder. Com os arranjos que fez nos anos 60 e os discos "O Som" (64) e "O Novo Som" (65), poderia ter se consagrado. Mas acabou ficando em segundo plano na história da bossa nova.
Em 2001, foi redescoberto tocando na loja de discos Modern Sound, no Rio, e reengrenou a carreira. A Dubas relançou em CD seus dois discos clássicos e gravou um novo "Samba Jazz!!" (2002). "Resolvi assumir minha porção de músico instrumental brasileiro e botar meu time em campo, senão ia ficar tocando em barzinho por dez merrecas. Em relação ao que era, minha profissão acabou", diz ele, que toca este fim de semana no Sesc Pompéia.
Mas as palavras enganam. Meirelles gosta muito de fazer shows, e muito dos arranjos que executa em "Esquema Novo" são frutos de suas apresentações, como os de "Vera Cruz" (Milton Nascimento) e "Casa Forte" (Edu Lobo). Recriou "Naima", de John Coltrane, acrescentando trompete e mais leveza à versão original.
Sua constante renovação também está nos músicos que o acompanham. Por trás da marca Copa 5, como sempre batizou seu conjunto, hoje estão artistas bem mais jovens que ele. O grande som de Meirelles é sempre um novo som.


Esquema Novo
    
Artista: J.T. Meirelles
Gravadora: Dubas
Quanto: R$ 32, em média


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