São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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O céu é o limite

Record consolida segundo lugar em audiência e oferece fortunas para exibir eventos esportivos e contratar Fernanda Montenegro

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Você liga a TV e vê Fernanda Montenegro na novela. Depois, começa a transmissão da Olimpíada. Globo? Não, Record.
Após chegar ao segundo lugar de audiência, estar a um passo de "roubar" os Jogos Olímpicos de 2012 da Globo e fazer uma proposta tentadora à maior atriz do país, onde a Record vai parar?
Se na Globo esta é uma dúvida cruel, na emissora ligada à Igreja Universal, um novo e imodesto bordão não esconde a fé na conquista maior: "A caminho da liderança".
A rede, que bate a Globo em alguns momentos, como no matutino "Hoje em Dia", apresentado por Ana Hickmann, quer alcançar a rival em três anos. Não será fácil. A distância ainda é grande, em audiência e faturamento (leia à pág. E6). Mas há um "detalhe": dinheiro não parece ser um problema para o bispo Edir Macedo.
A fim de adquirir o Campeonato Brasileiro de 2009, a emissora acaba de oferecer R$ 500 milhões aos organizadores, mais do que a Globo paga.
Também foi superior a oferta feita pelos direitos dos Jogos Olímpicos de 2012. Com isso, e com o compromisso de dar mais espaço às competições do que a Globo costuma conceder, a Record está levando a melhor. O contrato não foi assinado, mas já houve o aperto de mãos.
Além das investidas em grandes eventos esportivos, a Record amplia sua força nos campeonatos regionais. Já são dela o Baiano e o Catarinense, cujos jogos às vezes batem a Globo nos Estados. Na última semana, fechou a compra da rede Guaíba, do Rio Grande do Sul, com jornal, rádio e TV. Dessa forma, levou o Campeonato Gaúcho.
Também não há economia na hora de assediar globais. Fora a corrida por grandes estrelas da dramaturgia, como Fernanda Montenegro e Antonio Fagundes, a emissora abre o cofre para o jornalismo.
Chega a oferecer até cinco vezes o salário de repórteres "grifes" para convencê-los a trocar de canal. Os investimentos alcançam também emissoras regionais. Algumas, como as de Florianópolis, Belo Horizonte, Brasília e Salvador, receberam recentemente equipes de São Paulo com a missão de levar o "padrão Record de qualidade". Em Minas, por exemplo, foi totalmente reformulado um telejornal -que fazia até merchandising.
A meta agora é diminuir o sensacionalismo de telejornais vespertinos de afiliadas do Nordeste. Embora os filhotes de "Cidade Alerta" rendam altas audiências e até batam a Globo, não trazem anunciantes e prejudicam o projeto de melhorar a imagem da rede.
Com o crescimento em audiência e faturamento, a Record tem conseguido pegar retransmissoras de outras redes, especialmente do SBT, cuja programação mostra-se cada vez mais instável e o ibope, conseqüentemente, mais baixo.
Macedo pretende também ampliar a produção regional de jornalismo e restringir os programas da Igreja Universal às madrugadas, como já fez em São Paulo e agora faz no Rio.
Quanto mais desvinculada estiver a imagem da emissora da religião, melhor para os dois negócios, avalia ele.
Sua mais surpreendente determinação foi a de dar ampla cobertura à visita do papa Bento 16 ao Brasil, em maio.
Até as missas serão em parte transmitidas, a fim de enterrar de vez o fatídico chute que um bispo da Universal desferiu ao vivo em uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1995.
"A decisão de exibir a visita do papa é baseada em estratégia de audiência", afirmou Alexandre Raposo, 36, presidente da rede, em entrevista à Folha.
Um eventual "sim" de Fernanda Montenegro teria forte impacto nesse contexto. À Folha, a agente da atriz disse que a atriz pensará no convite "com carinho".


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