São Paulo, Quinta-feira, 18 de Março de 1999
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MP3 a indústria contra-ataca


Gravadoras dão o primeiro passo para criar um novo meio de distribuição de música na Internet


MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Revolução é pouco para definir o impacto de duas letras e um número na indústria fonográfica mundial. Pela primeira vez na história, o formato da música não é ditado pelas gravadoras -ao contrário: elas correm contra o tempo para criar um novo formato, que, acreditam, irá substituir o MP3.
As maiores corporações mundiais fundaram uma entidade no final de 98, a SDMI (sigla em inglês para Iniciativa de Música Digital Segura), para unir esforços com um único objetivo: achar um meio de distribuição de música na Internet que possibilite a cobrança de direitos autorais.
A mais recente investida da SDMI foi sugerida pela Sony, que propõe um formato de distribuição de música digital de modo que os direitos autorais sejam cobrados. Com os programas "MagicGate" e "OpenMG", que a Sony desenvolveu, o arquivo de música poderia ser apenas movido -e não copiado, como o MP3-, prevenindo cópias, transmissão e reprodução não autorizadas.
Mas não é o produto final, é mais uma proposta de um dos integrantes do grupo, que é formado pelas cinco maiores gravadoras (BMG, Warner, EMI, Universal e Sony), o RIAA (Associação da Indústria Fonográfica dos EUA), America On Line, maior servidor de Internet do mundo, IBM, AT&T, Microsoft, Toshiba, entre outros.
O MP3 é um tipo de arquivo de som que comprime a música em cerca de dez vezes o seu tamanho original, com pouca perda de qualidade, próxima à de CD, facilitando o download e transmissão na Internet. Com o MP3 é possível copiar e distribuir infinitas vezes a mesma música -de graça. Ou seja, a música digital tem um suporte que a executa e a distribui ao mesmo tempo -fato inédito.
"Esse é um momento delicado para a indústria, um divisor de águas. Temos que tomar uma decisão", disse Yves Degen, 29, responsável pelo marketing estratégico e novas tecnologias da Sony brasileira. "A indústria fonográfica não tem interesse em acabar com o comércio eletrônico, e sim fazer parte dele, mas com critérios de remuneração da propriedade intelectual. A questão está sendo tratado pela alta cúpula das empresas."
Segundo ele, a Sony foi a primeira empresa a fazer uma proposta que agrade à indústria e aos consumidores. "Por enquanto agrada apenas aos consumidores", disse, referindo-se ao MP3, o segundo termo mais procurado na Internet.
A expectativa do SDMI é que esse novo formato seja criado até o final do ano, para aproveitar as vendas de Natal. "Uma vez definida essa nova tecnologia, todas as indústrias envolvidas no processo (de software, telecomunicações, gravadoras etc.) darão o aval a esse formato. Nenhuma empresa que desenvolve aplicativos deixará de optar por esse suporte da indústria fonográfica", acredita Degen.
Com esse aval, "a indústria acabaria pondo os demais formatos de forma marginal da rede".
Reprodução sem limites aliada à alta qualidade da música e sem nenhum custo é tudo o que os piratas on line jamais sonharam.
Não há dados oficiais do prejuízo causado pelo MP3 -que, em si, não é ilegal, é apenas um arquivo de som. Há inúmeros sites com milhares de músicas em MP3 na Internet, muitos deles piratas. "Já fechamos alguns sites brasileiros que vendiam um CD a R$ 18 com 150 músicas em MP3", afirmou.
Ele salienta a importância da cobrança do direito autoral: "Se não há remuneração do produto, acabam as opções da empresa de investir no artista -e em outros-, na sua divulgação e distribuição".
O enigma que o SDMI tenta solucionar é como combater algo já extremamente disseminado e que é de graça. A cobrança de músicas on line ainda não está definida, mas, segundo Degen, "o consumidor não se importa em pagar por música, porque ele sempre fez isso". Revolução é mesmo pouco.


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