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Madonna adia a decadência
Divulgação
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A cantora Madonna, 44, que lança mundialmente na terça-feira seu novo álbum, "American Life" |
Produtor Mirwais, que divide com a popstar a criação de "American Life", fala
com exclusividade à Folha
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CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
Tal como sua música, o produtor dos dois últimos discos de Madonna, Mirwais (pronuncia-se
"mirvai"), 42, é um híbrido. Filho
de pai suíço e mãe afegã, vive na
França desde criança. O mix se repete nas criações. Começou com
o punk dance no grupo Taxi Girl,
migrou para o folk pop no Juliette
et les Independants e se converteu
à eletrônica nos anos 90.
Em "American Life", fez Madonna percorrer um território
minado no qual se cruzam o rap e
o folk, a eletrônica e o pop grudento dos primeiros tempos. Poderia ter dado errado, mas é o primeiro álbum desde "Erotica"
(1992) a soar surpreendente.
No último dia 9, quando as tropas americanas derrubavam estátuas de Saddam Hussein em Bagdá, Mirwais falou com exclusividade à Folha, por telefone, de Paris. Além das escolhas musicais de
Madonna em seu novo CD, ele explica por que, em sua nova configuração, a popstar colocou na cabeça a boina de Che Guevara e
quis fazer discurso político.
Folha - Madonna quis fazer um
disco político?
Mirwais - Sim. Hoje existe muita
gente incomodada com os efeitos
do "estilo de vida americano". No
show business, há espaço para críticas. Basta ver o grau de agressividade de Eminem, por exemplo.
Madonna quis fazer a crítica dela,
porque ela não se interessa por
discursos como o de Eminem.
Folha - Mas tentar ser ousada como no clipe de "American Life" e
depois proibi-lo não é apenas mais
um golpe de marketing?
Mirwais - Do ponto de vista americano, eu entendo e respeito a decisão. Em relação ao resto do
mundo, não vejo problemas porque não se trata de um clipe antiguerra, mas de um clipe que fala do sonho americano. As imagens
que vemos hoje são muito mais
agressivas. Não me refiro apenas
às imagens do Iraque, mas as que
vemos pelo mundo, como o massacre de mais de 1 milhão de pessoas em Ruanda. Isso incomoda
as pessoas, e é preciso ser mostrado. Vejo a decisão como um respeito ao sentimento patriótico, de
não ferir ainda mais aqueles que
perderam familiares na guerra.
Folha - Sendo filho de afegã, como vê a intervenção do governo
Bush no Afeganistão e no Iraque?
Mirwais - Preferiria não ter de
ver essa situação em pleno século
21. Acho que controlar o Iraque e
o Afeganistão não é uma maneira
de acabar com o terrorismo, como alegam os americanos. Na lógica deles, é uma guerra estratégica. Entendo que era preciso derrubar o regime de terror de Saddam, mas não é esse, obviamente,
o interesse dos EUA na região.
Folha - Qual é a diferença entre
"Music" (2000) e "American Life"?
Mirwais - O novo disco tem mais
unidade porque houve menos intervenção de vários produtores.
Buscamos obter sonoridades
mais puras, menos eletrônicas, no
sentido pop e dance. Quando começamos a trabalhar em "Music",
queríamos fazer algumas experimentações que afastassem Madonna do reinado exclusivo da dance. Mas tivemos que concluir
o trabalho rapidamente porque
Madonna estava grávida. Agora,
fomos bem mais longe.
Folha - Mas a impressão é que
"American Life" é mais eletrônico
que "Music", não menos.
Mirwais - Muita gente vai estranhar porque não fizemos um disco eletrônico no sentido pop. Outros vão até acreditar que houve
uma volta ao passado porque podem achar que há menos tecnologia quando, na verdade, há mais.
Quando se escuta com atenção as
faixas, percebe-se que apenas na
aparência elas são menos eletrônicas. Até as acústicas foram retrabalhadas em computador. Só na aparência elas são simples.
Folha - E por que vocês quiseram
se afastar da dance music?
Mirwais - Porque a dance music
se tornou uma coisa muito chata.
Pelo menos desde 99, não foi feito
nada que merecesse a atenção que
se dá à música eletrônica. Apenas
a repetição de fórmulas que já
existem há mais de dez ou 20
anos, como no caso do electro.
Folha - Vocês intencionalmente
evitaram a sonoridade electro?
Mirwais - Sim. Acho que o electro é uma música que não funcionava. Só se tornou popular após virar trilha de desfiles de moda.
Folha - E por que se interessou em
fazer Madonna cantar rap?
Mirwais - Porque queríamos
provocar reações. É ingênuo pensar que ela tenha feito isso por
inexperiência. Ela pensou: "Tenho 44 anos, sou mulher, branca,
não sou rapper e portanto vou
cantar rap como nenhum negro
americano faria" [risos". Isso que
é interessante fazer: trabalhar
contra as doutrinas.
Folha - Com a popularidade de artistas como Britney Spears e Cristina Aguilera, qual espaço você acha
que Madonna preservou?
Mirwais - Essa é uma falsa questão. Ela pode ter menos fãs hoje
do que teve há 20 anos, mas não é
possível comparar a música para
adolescentes que Britney e Aguilera fazem com o trabalho de Madonna. Afinal, ela tem 44 anos.
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