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MÔNICA BERGAMO
Ana Ottoni/Folha Imagem
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João Doria Jr., que organizou o evento, com a mulher, Beatriz |
Uma ilha e mil fantasias
"Bom-dia!", diz o empresário João Doria Jr. ao
microfone do hotel Caesar Park do aeroporto
de Guarulhos. "Bom-dia!", responde a platéia, distribuída em mesas para o café da manhã.
"Tá fraco. Bom-diaaaaaa!", insiste Doria. "Bom-diaaaaaaa!", gritam os convidados. Doria então
aciona um apito para que todos se calem.
"Priiiiiii!". Num clima de excursão de adolescente, 300 dos maiores empresários do país, com as
esposas e maridos, partiram na quinta-feira para
um encontro na ilha de Comandatuba, na Bahia, o
Fórum Empresarial, organizado por Doria.
A coisa funciona assim: Doria
reúne cerca de cem empresas.
De cada uma delas, consegue
um patrocínio que varia de R$
140 mil a R$ 350 mil. Arrecada
entre R$ 8 milhões e R$ 15 milhões, de acordo com os próprios empresários (ele não gosta
de falar de números), freta quatro aviões, dois Airbus e dois
Boeings, coloca todo mundo
dentro e os leva para quatro dias
de diversão na Bahia. Os homens (e algumas pouquíssimas
executivas) estreitam relações.
As mulheres se divertem e fazem compras.
A distribuicão de brindes é
farta. No café damanhã do Caesar, onde todos se encontraram
para o embarque,
por exemplo, a Claro
distribuiu celulares.
Marcio Cypriano, do
Bradesco, enfrentou
longa fila e pegou o
seu. Daniel Feffer, sócio do grupo Suzano,
também. "Obrigado
pelas malas, são lindas", agradeceu
Johnny Saad, dono
da TV Bandeirantes,
a Elcio de Lucca, presidente da Serasa,
que enviou à casa dos
700 convidados malas da Samsonite.
Logo na chegada ao
hotel as pessoas recebiam cartões verdes,
vermelhos, amarelos
e azuis. Cada cor correspondia a um
avião. Cartão de embarque na mão, os
convidados eram encaminhados a uma
sala da revista "Caras" para uma foto.
"Dá para escrever
um livro disso aqui!",
espantava-se o publicitário Eduardo Fischer, da Fischer
América. Ao microfone, Doria, apito na
mão, anunciava a
partida "do grupo
verde", "do vermelho", e os felizardos que haviam sido "sorteados" para embarcar no Legacy,
jato executivo da Embraer. Incrível: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi sorteado, além de Cypriano, do
Bradesco, e Francisco Padinha,
da Vivo.
Alguns foram com seu próprio jato, como Fernando de
Arruda Botelho, vice-presidente da Camargo Corrêa e marido
de Rosana Camargo, uma das
herdeiras do empreiteiro Sebastião Camargo. Ele pousou em
Comandatuba com o Falcon 50
da família.
Por volta das 14h, todos já haviam desembarcado, acomodado malas nos quartos, recebido
mais e mais brindes, e já estavam nas mesas para um almoco
cuja estrela foi Fernando Henrique Cardoso -que cobrou US$
50 mil para dar uma palestra, no
dia seguinte, sobre eficiência e
ética.
"Que saudade!", gritou Karina
Kieffer, mulher de Vincent Kieffer, presidente da Helibras, de
helicópteros, puxando os aplausos. FHC, que estava numa mesa com o presidente da Microsoft, Emílio Umeoka, e da SAP,
José Antunes, levantou e, sorridente, deu tchauzinho.
Na mesa, FHC explicou como
vai funcionar o instituto que ele
vai inaugurar em maio. "Preciso
de uns R$ 30 milhões", dizia. Ele
já tem R$ 16 milhões. "O Bill
Clinton me disse que tem US$
90 milhões para o instituto dele
e que precisa de mais US$ 90
milhões."
Um dia antes, FHC
havia encontrado
Marta Suplicy na casa
do banqueiro Fernão
Bracher. "Ela está animada, quer brigar",
contava ele. "Falou para mim: como é, o Serra vem ou não vem
[disputar a Prefeitura
de São Paulo]?". FHC
diz achar que Serra não
entra na disputa. O ex-presidente jantou também, na semana passada, com Olavo Setubal,
do Itaú, no Fasano. E o
banqueiro, tem saudade da era
FHC? "Não sou candidato",
desconversa o ex-presidente.
Jornalistas têm "saudade" de
seu governo. Empresários também. FHC resiste às provocacões. "Não sou candidato", repete. "Nós ralamos para convencer nossas matrizes, no exterior, de que devem investir no
Brasil. Eles falam: "Ah, que boa
idéia. Já conversou com algum
ministro [do governo do PT]?
Ficamos com a cara no chão'",
contava o presidente da SAP a
FHC. Que sorria, entre um gole
e outro de Passito di Pantelleria
Nuova Agricoltura 99, vinho de
sobremesa da Sicília . "Acho que
o pessoal não deixa o Lula falar
com os jornalistas com medo
que diga besteira. Mas é bobagem, o Lula é inteligente", opinava o ex-presidente. Ele se reelege? "O Lula ainda pode se recuperar. Não é carta fora do baralho, não."
O almoço acaba, o ex-presidente sai de fininho. "E aí, ele falou como vai ser o terceiro turno
[eleitoral]?", pergunta Pedro
Melone, do BankBoston, a Emílio, da Microsoft. "Para mim,
não."
Depois de uma cantoria da
apresentadora Hebe Camargo
("Para que/ maltratarmos o
amooooor/ o amor não se maltrata não"), alguns vão
voar no dirigível da
Goodyear; outros vão
caminhar na praia e algumas mulheres vão às
compras.
Margarida Avelar, mulher de Luis Avelar, vice-presidente da Vivo,
compra um relógio de
R$ 12 mil, da Breitling,
para o marido, que faz
aniversário. Purificación
Carpinteyro, vice-presidente da Embratel, gasta
R$ 932 na Swarovski e
R$ 4.200 num anel da
Bulgari, que vendeu ainda a outras clientes dois
relógios por algo como
R$ 18 mil. Uma sandália
de dedo Dior não saia
por menos de R$ 760.
As mulheres "sofriam" também por
causa das roupas. Para o
jantar da quinta-feira,
com show de Daniela
Mercury, por exemplo,
era obrigatório o uso de
top vermelho. Pior era a
noite africana. Quem
tem no armário roupa
de oncinha e zebra? Lucília Diniz tem, da Dior.
Betty Arbaitman, da Maringá
Turismo, reuniu seis amigas, e
todas fizeram roupas na Lourdinha Noyama. Kátia Grubisich,
mulher de José Carlos Grubisich, da Braskem, correu para o
ateliê de Rogério Figueiredo.
"As mulheres adoram esse
evento, a minha me obrigou a
vir. É a oportunidade que elas
têm de se encontrar, trocar figurinhas", dizia Sergio Haberfeld,
da Amcham (Câmara Americana de Comércio) e dono da Dixie Toga, de embalagens.
Os homens também fazem suas comprinhas. O
próprio Haberfeld recebeu pedido de encomenda do dono de uma fábrica de máquinas de café.
No evento do ano passado, a Embraer vendeu um
Legacy para Pedro Moreira Salles, do Unibanco,
por R$ 20 milhões.
bergamo@folhasp.com.br
COM CLEO GUIMARÃES
e ALVARO LEME
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