São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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MÔNICA BERGAMO

Ana Ottoni/Folha Imagem
João Doria Jr., que organizou o evento, com a mulher, Beatriz


Uma ilha e mil fantasias

"Bom-dia!", diz o empresário João Doria Jr. ao microfone do hotel Caesar Park do aeroporto de Guarulhos. "Bom-dia!", responde a platéia, distribuída em mesas para o café da manhã. "Tá fraco. Bom-diaaaaaa!", insiste Doria. "Bom-diaaaaaaa!", gritam os convidados. Doria então aciona um apito para que todos se calem. "Priiiiiii!". Num clima de excursão de adolescente, 300 dos maiores empresários do país, com as esposas e maridos, partiram na quinta-feira para um encontro na ilha de Comandatuba, na Bahia, o Fórum Empresarial, organizado por Doria.

A coisa funciona assim: Doria reúne cerca de cem empresas. De cada uma delas, consegue um patrocínio que varia de R$ 140 mil a R$ 350 mil. Arrecada entre R$ 8 milhões e R$ 15 milhões, de acordo com os próprios empresários (ele não gosta de falar de números), freta quatro aviões, dois Airbus e dois Boeings, coloca todo mundo dentro e os leva para quatro dias de diversão na Bahia. Os homens (e algumas pouquíssimas executivas) estreitam relações. As mulheres se divertem e fazem compras.
 
A distribuicão de brindes é farta. No café damanhã do Caesar, onde todos se encontraram para o embarque, por exemplo, a Claro distribuiu celulares. Marcio Cypriano, do Bradesco, enfrentou longa fila e pegou o seu. Daniel Feffer, sócio do grupo Suzano, também. "Obrigado pelas malas, são lindas", agradeceu Johnny Saad, dono da TV Bandeirantes, a Elcio de Lucca, presidente da Serasa, que enviou à casa dos 700 convidados malas da Samsonite.
 
Logo na chegada ao hotel as pessoas recebiam cartões verdes, vermelhos, amarelos e azuis. Cada cor correspondia a um avião. Cartão de embarque na mão, os convidados eram encaminhados a uma sala da revista "Caras" para uma foto. "Dá para escrever um livro disso aqui!", espantava-se o publicitário Eduardo Fischer, da Fischer América. Ao microfone, Doria, apito na mão, anunciava a partida "do grupo verde", "do vermelho", e os felizardos que haviam sido "sorteados" para embarcar no Legacy, jato executivo da Embraer. Incrível: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi sorteado, além de Cypriano, do Bradesco, e Francisco Padinha, da Vivo.
 
Alguns foram com seu próprio jato, como Fernando de Arruda Botelho, vice-presidente da Camargo Corrêa e marido de Rosana Camargo, uma das herdeiras do empreiteiro Sebastião Camargo. Ele pousou em Comandatuba com o Falcon 50 da família.
 
Por volta das 14h, todos já haviam desembarcado, acomodado malas nos quartos, recebido mais e mais brindes, e já estavam nas mesas para um almoco cuja estrela foi Fernando Henrique Cardoso -que cobrou US$ 50 mil para dar uma palestra, no dia seguinte, sobre eficiência e ética.
 
"Que saudade!", gritou Karina Kieffer, mulher de Vincent Kieffer, presidente da Helibras, de helicópteros, puxando os aplausos. FHC, que estava numa mesa com o presidente da Microsoft, Emílio Umeoka, e da SAP, José Antunes, levantou e, sorridente, deu tchauzinho.
 
Na mesa, FHC explicou como vai funcionar o instituto que ele vai inaugurar em maio. "Preciso de uns R$ 30 milhões", dizia. Ele já tem R$ 16 milhões. "O Bill Clinton me disse que tem US$ 90 milhões para o instituto dele e que precisa de mais US$ 90 milhões."
 
Um dia antes, FHC havia encontrado Marta Suplicy na casa do banqueiro Fernão Bracher. "Ela está animada, quer brigar", contava ele. "Falou para mim: como é, o Serra vem ou não vem [disputar a Prefeitura de São Paulo]?". FHC diz achar que Serra não entra na disputa. O ex-presidente jantou também, na semana passada, com Olavo Setubal, do Itaú, no Fasano. E o banqueiro, tem saudade da era FHC? "Não sou candidato", desconversa o ex-presidente.

Jornalistas têm "saudade" de seu governo. Empresários também. FHC resiste às provocacões. "Não sou candidato", repete. "Nós ralamos para convencer nossas matrizes, no exterior, de que devem investir no Brasil. Eles falam: "Ah, que boa idéia. Já conversou com algum ministro [do governo do PT]? Ficamos com a cara no chão'", contava o presidente da SAP a FHC. Que sorria, entre um gole e outro de Passito di Pantelleria Nuova Agricoltura 99, vinho de sobremesa da Sicília . "Acho que o pessoal não deixa o Lula falar com os jornalistas com medo que diga besteira. Mas é bobagem, o Lula é inteligente", opinava o ex-presidente. Ele se reelege? "O Lula ainda pode se recuperar. Não é carta fora do baralho, não."
 
O almoço acaba, o ex-presidente sai de fininho. "E aí, ele falou como vai ser o terceiro turno [eleitoral]?", pergunta Pedro Melone, do BankBoston, a Emílio, da Microsoft. "Para mim, não."
 
Depois de uma cantoria da apresentadora Hebe Camargo ("Para que/ maltratarmos o amooooor/ o amor não se maltrata não"), alguns vão voar no dirigível da Goodyear; outros vão caminhar na praia e algumas mulheres vão às compras.
 
Margarida Avelar, mulher de Luis Avelar, vice-presidente da Vivo, compra um relógio de R$ 12 mil, da Breitling, para o marido, que faz aniversário. Purificación Carpinteyro, vice-presidente da Embratel, gasta R$ 932 na Swarovski e R$ 4.200 num anel da Bulgari, que vendeu ainda a outras clientes dois relógios por algo como R$ 18 mil. Uma sandália de dedo Dior não saia por menos de R$ 760.
 
As mulheres "sofriam" também por causa das roupas. Para o jantar da quinta-feira, com show de Daniela Mercury, por exemplo, era obrigatório o uso de top vermelho. Pior era a noite africana. Quem tem no armário roupa de oncinha e zebra? Lucília Diniz tem, da Dior. Betty Arbaitman, da Maringá Turismo, reuniu seis amigas, e todas fizeram roupas na Lourdinha Noyama. Kátia Grubisich, mulher de José Carlos Grubisich, da Braskem, correu para o ateliê de Rogério Figueiredo.
 
"As mulheres adoram esse evento, a minha me obrigou a vir. É a oportunidade que elas têm de se encontrar, trocar figurinhas", dizia Sergio Haberfeld, da Amcham (Câmara Americana de Comércio) e dono da Dixie Toga, de embalagens.
 
Os homens também fazem suas comprinhas. O próprio Haberfeld recebeu pedido de encomenda do dono de uma fábrica de máquinas de café. No evento do ano passado, a Embraer vendeu um Legacy para Pedro Moreira Salles, do Unibanco, por R$ 20 milhões.

bergamo@folhasp.com.br

COM CLEO GUIMARÃES e ALVARO LEME


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