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Crítica/Budapest Festival Orchestra
Iván Fischer mostra segurança natural em sua ótima regência
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
A música começou vários
segundos antes do primeiro som. Foi um silêncio e tanto, enquanto o
maestro Iván Fischer mantinha a batuta erguida e perscrutava o vazio, de olhos fechados.
Até que, afinal, teve início o tremulando dos violinos e a portentosa "Sétima Sinfonia" de
Bruckner (1824-96) começou
seu percurso por céus e infernos, encarnados com gosto pela
Budapest Festival Orchestra.
Antes disso, na primeira parte de seu concerto de anteontem, na Sala São Paulo, inaugurando a 95ª temporada da Sociedade de Cultura Artística, os
húngaros tinham feito uma
versão irretocável da pouco tocada "Sinfonia Concertante",
para oboé, clarinete, trompa,
fagote e orquestra, de Mozart
(1756-91). A rocambolesca história da partitura -desaparecida antes da estréia, em Paris,
em 1778; redescoberta muito
tempo depois, já no século 19-
faz parte do fabulário mozartiano. Mas a instrumentação
incomum não favorece a execução freqüente, o que é pena.
Só o que fez o oboísta Dudu
Carmel já valia o ingresso: gingando e dançando, no compasso de sua própria inspiração,
ele coreografava em gestos
simples o que não tinha nada de
simples na dança dos sons. É
um oboísta de oboístas; e veio
muito bem acompanhado pelos
impronunciáveis solistas da orquestra, Szöke (trompa), Ács
(clarinete) e Benkócs (fagote).
Outro quarteto notável, mais
tarde, foram os intérpretes das
tubas wagnerianas, que Bruckner emprega explicitamente
em homenagem a Wagner. A
BFO é uma orquestra que faz
música de câmara no meio da
tempestade e tempestades na
delicadeza. E o maestro Fischer, de sua parte, faz render o
jogo de timbres tanto quanto os
labirintos temáticos do mestre
austríaco. Tubas wagnerianas
são insubstituíveis.
Quando esteve aqui pela última vez, em 2003, a BFO tocou
uma sinfonia de Schubert
(1707-1828) com flautas, clarinetes e oboés à frente das cordas. Dessa vez, Fischer dispôs,
no Mozart, os três contrabaixos
distantes um do outro, espalhados no fundo do palco; e, no
Bruckner, o naipe inteiro dos
contrabaixos ao fundo também, em linha. O efeito, nos
dois casos, reforçava dramaticamente os sons graves.
Ele rege com segurança total
e intensidade natural. A orquestra responde inteira e naturalmente. No bis, "Dança
Folclórica" de Bartók (1881-1945), que nos deixou com saudade do século 20.
BUDAPEST FESTIVAL ORCHESTRA
Avaliação: Ótimo
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