São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Crítica/Budapest Festival Orchestra

Iván Fischer mostra segurança natural em sua ótima regência

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

A música começou vários segundos antes do primeiro som. Foi um silêncio e tanto, enquanto o maestro Iván Fischer mantinha a batuta erguida e perscrutava o vazio, de olhos fechados.
Até que, afinal, teve início o tremulando dos violinos e a portentosa "Sétima Sinfonia" de Bruckner (1824-96) começou seu percurso por céus e infernos, encarnados com gosto pela Budapest Festival Orchestra.
Antes disso, na primeira parte de seu concerto de anteontem, na Sala São Paulo, inaugurando a 95ª temporada da Sociedade de Cultura Artística, os húngaros tinham feito uma versão irretocável da pouco tocada "Sinfonia Concertante", para oboé, clarinete, trompa, fagote e orquestra, de Mozart (1756-91). A rocambolesca história da partitura -desaparecida antes da estréia, em Paris, em 1778; redescoberta muito tempo depois, já no século 19- faz parte do fabulário mozartiano. Mas a instrumentação incomum não favorece a execução freqüente, o que é pena.
Só o que fez o oboísta Dudu Carmel já valia o ingresso: gingando e dançando, no compasso de sua própria inspiração, ele coreografava em gestos simples o que não tinha nada de simples na dança dos sons. É um oboísta de oboístas; e veio muito bem acompanhado pelos impronunciáveis solistas da orquestra, Szöke (trompa), Ács (clarinete) e Benkócs (fagote).
Outro quarteto notável, mais tarde, foram os intérpretes das tubas wagnerianas, que Bruckner emprega explicitamente em homenagem a Wagner. A BFO é uma orquestra que faz música de câmara no meio da tempestade e tempestades na delicadeza. E o maestro Fischer, de sua parte, faz render o jogo de timbres tanto quanto os labirintos temáticos do mestre austríaco. Tubas wagnerianas são insubstituíveis.
Quando esteve aqui pela última vez, em 2003, a BFO tocou uma sinfonia de Schubert (1707-1828) com flautas, clarinetes e oboés à frente das cordas. Dessa vez, Fischer dispôs, no Mozart, os três contrabaixos distantes um do outro, espalhados no fundo do palco; e, no Bruckner, o naipe inteiro dos contrabaixos ao fundo também, em linha. O efeito, nos dois casos, reforçava dramaticamente os sons graves.
Ele rege com segurança total e intensidade natural. A orquestra responde inteira e naturalmente. No bis, "Dança Folclórica" de Bartók (1881-1945), que nos deixou com saudade do século 20.


BUDAPEST FESTIVAL ORCHESTRA
Avaliação:
Ótimo


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