São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Comentário/"Escrito nas Estrelas"

Novela impressiona com "outro lado" suave

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Será que morrer é assim, um salto no vazio?" A frase dita por Daniel, o jovem que morre logo no início de "Escrito nas Estrelas", parece ecoar do alto da pedra da Gávea, ponto tradicional de salto de asa-delta no Rio.
Diria que o questionamento do jovem, imagem do futuro médico idealista e bom caráter, sintetiza a proposta que a autora Elizabeth Jhin apresenta ao público com a nova novela das seis da TV Globo (livre).
Recheada de passagens com cenas e falas associadas ao espiritismo, "Escrito nas Estrelas" explora comercialmente o momento propício para entrar no ar num ano em que o tema "vida depois da morte" está em alta nas telas do cinema.
Para quem acredita, fazer uma crítica da novela não é tarefa fácil. Primeiro, porque ainda são os primeiros capítulos. Depois, a temática me envolve e encaro sua presença como bom sinal, mesmo sabendo do olhar comercial da emissora.
Para quem não assiste a novelas com assiduidade, "Escrito nas Estrelas" me impressionou pela qualidade das cenas -como a do acidente em que Daniel (Jayme Matarazzo) morre ou da fuga com ares de realidade de Vivianne (Nathalia Dill) pelas vielas de uma favela.
Do lado transcendental, a novela também impressiona os familiarizados com o tema pela forma suave que apresenta o "outro lado da vida". Um tom que ficou um pouco ausente no excelente filme "Chico Xavier", de Daniel Filho, carregado de sombras e sensação de sofrimento na descrição da vida do médium de Uberaba.
Muito provavelmente por conta do meio, o diretor Rogério Gomes dá, nesse início, toques nas gravações na busca de reforçar a mensagem de que não se cai no vazio após a morte. A claridade prevalece no encontro entre Daniel e sua mãe já morta, Francisca (Cássia Kiss), vestida de branco e irradiando luz.
Tom presente também quando Breno, o amigo de Daniel, encontra a vidente Madame Gilda na rua. Ali, novo questionamento: o da reencarnação -será que, depois da morte, o espírito volta ao plano espiritual e reencarna? "Seu amigo vai voltar antes do que você imagina", diz ela.
Enfoques que, se agradam aos que creem, serão vistos com boa dose de reservas pelos que vão encarar a trama como uma simples ficção, que força a barra no tom emocional para levar sua mensagem.
Aí, por sinal, o grande desafio da autora. Evitar cair numa fantasia carregada de caricaturas. Se bem que, para quem não crê, assim será. Aí, vale repetir a adaptação da frase de Shakespeare dita nos primeiros capítulos da novela: há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que podemos imaginar.


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