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Comentário/"Escrito nas Estrelas"
Novela impressiona com "outro lado" suave
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Será que morrer é assim, um
salto no vazio?" A frase dita por
Daniel, o jovem que morre logo
no início de "Escrito nas Estrelas", parece ecoar do alto da pedra da Gávea, ponto tradicional
de salto de asa-delta no Rio.
Diria que o questionamento
do jovem, imagem do futuro
médico idealista e bom caráter,
sintetiza a proposta que a autora Elizabeth Jhin apresenta ao
público com a nova novela das
seis da TV Globo (livre).
Recheada de passagens com
cenas e falas associadas ao espiritismo, "Escrito nas Estrelas"
explora comercialmente o momento propício para entrar no
ar num ano em que o tema "vida depois da morte" está em alta nas telas do cinema.
Para quem acredita, fazer
uma crítica da novela não é tarefa fácil. Primeiro, porque ainda são os primeiros capítulos.
Depois, a temática me envolve
e encaro sua presença como
bom sinal, mesmo sabendo do
olhar comercial da emissora.
Para quem não assiste a novelas com assiduidade, "Escrito
nas Estrelas" me impressionou
pela qualidade das cenas -como a do acidente em que Daniel
(Jayme Matarazzo) morre ou
da fuga com ares de realidade
de Vivianne (Nathalia Dill) pelas vielas de uma favela.
Do lado transcendental, a novela também impressiona os
familiarizados com o tema pela
forma suave que apresenta o
"outro lado da vida". Um tom
que ficou um pouco ausente no
excelente filme "Chico Xavier",
de Daniel Filho, carregado de
sombras e sensação de sofrimento na descrição da vida do
médium de Uberaba.
Muito provavelmente por
conta do meio, o diretor Rogério Gomes dá, nesse início, toques nas gravações na busca de
reforçar a mensagem de que
não se cai no vazio após a morte. A claridade prevalece no encontro entre Daniel e sua mãe
já morta, Francisca (Cássia
Kiss), vestida de branco e irradiando luz.
Tom presente também quando Breno, o amigo de Daniel,
encontra a vidente Madame
Gilda na rua. Ali, novo questionamento: o da reencarnação
-será que, depois da morte, o
espírito volta ao plano espiritual e reencarna? "Seu amigo
vai voltar antes do que você
imagina", diz ela.
Enfoques que, se agradam
aos que creem, serão vistos
com boa dose de reservas pelos
que vão encarar a trama como
uma simples ficção, que força a
barra no tom emocional para
levar sua mensagem.
Aí, por sinal, o grande desafio
da autora. Evitar cair numa
fantasia carregada de caricaturas. Se bem que, para quem não
crê, assim será. Aí, vale repetir a
adaptação da frase de Shakespeare dita nos primeiros capítulos da novela: há mais mistérios entre o Céu e a Terra do
que podemos imaginar.
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