São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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FOTOGRAFIA

Mostra em Londres traz imagens inéditas do mito feitas pela amiga

Eve Arnold desconstrói a Marilyn que ajudou a criar

Eve Arnold/Magnum Photos
Marilyn Monroe, em baile de gala nos anos 50, na primeira foto dela feita por Eve Arnold


ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Marilyn Monroe foi o maior mito sexual do século 20. Assim a atriz era vista pelo mundo no auge do seu estrelato, entre as décadas de 50 e 60, assim sua imagem se perpetuou em fotos que ressaltavam seu rosto sensual, nos filmes que fez e nas histórias contadas sobre ela. Mas Marilyn era mais do que isso. Nos bastidores, havia a atriz com grande dificuldade para decorar suas falas, a mulher madura, a estrela exausta após longas horas de filmagem.
Os dois lados de Marilyn foram captados durante dez anos pelas lentes da fotógrafa Eve Arnold, mas o menos conhecido, como não interessava às revistas e aos jornais da época, permanecia anônimo, passados mais de 40 anos desde a morte da atriz. Até que Michael Haines, diretor da editora Halcyon Book Publishing, procurou Arnold, 93, há quatro anos e lhe propôs atualizarem um livro dela sobre a atriz.
O acervo de Arnold, principalmente as fotos inéditas de Marilyn, causou tanto impacto em Haines que a idéia cresceu e, além de livro, virou uma mostra, inaugurada quinta-feira em Londres. O projeto trouxe a público 28 imagens de Marilyn nunca vistas anteriormente. Algumas estão na exposição, todas foram incluídas no livro que traz pouco mais de cem fotos, além de histórias que Arnold conta sobre a amiga.
"Esta é minha homenagem a essa mulher [Arnold]. Eu sempre admirei o trabalho dela, por muitos e muitos anos e foi uma alegria encontrá-la e dar a ela, a esta idade, uma razão para se sentir dinâmica e sentir que há muitas pessoas ainda fascinadas pelo trabalho dela", disse Haines à Folha.
Nas paredes da mostra, Marilyn era revelada nas suas mais diferentes facetas. Dormindo durante um intervalo da filmagem de "Os Desajustados", sem maquiagem visível; com o tradicional batom vermelho e o corpo nu coberto por lençóis brancos; tentando passar entre repórteres, de vestido de veludo preto e mãos na cintura, para uma entrevista coletiva para a qual chegara duas horas atrasada.
As fotos inéditas captavam olhares demorados do público. "É verdade que ela tinha dificuldade para decorar suas falas?", perguntava uma mulher elegante, enquanto apreciava uma foto grande em preto-e-branco de Marilyn, vestida de calça jeans e um casaco de lã, mão direita na cabeça, script na outra e expressão dramática, enquanto ensaiava sozinha.
Mal sabia a visitante -e a reportagem da Folha que ouvira a pergunta- que a poucos metros dali, na próxima sala da galeria, a melhor pessoa para tirar a dúvida estava sentada em sua cadeira de rodas. Mesmo doente, Eve Arnold havia decidido comparecer à abertura de sua exposição.
Ela -que ficou famosa por fazer retratos de gente ilustre como Malcolm X, a rainha Elizabeth 2ª e Clark Gable- encarnou, na quinta-feira, o papel da imagem: a orgulhosa fotógrafa sentada no meio de uma sala, rodeada em todas as paredes pelo mito que ajudou a criar e que, agora, de certa forma, ajuda a desconstruir.
Aos visitantes que se aproximaram, respondeu vagarosamente, a algumas perguntas. Confirmou, por exemplo, a dificuldade de Marilyn em memorizar seus papéis: "Ela tinha de fazer ensaios profundos", disse Eve.
Questionada pela Folha se preferia alguma foto que tirou de Marilyn, afirmou que gostava muito de uma imagem da atriz no meio do deserto, compenetrada, tentando relembrar suas falas. Confirmou a outra visitante que Marilyn gostava mesmo de andar com uma sola de sapato mais baixa do que a outra para dar uma rebolada extra em suas caminhadas. Arnold disse que a amiga tinha até uma frase pronta sobre o tema, que ela não conseguia lembrar, mas que seria algo do tipo "o modo de andar é mais importante do que qualquer outra coisa".


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