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Brasileiro "A Via Láctea" é recebido com aplausos na Semana da Crítica
PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Música e poesia se encontram novamente em "A Via
Láctea", de Lina Chamie, exibido ontem na Semana da Crítica
do Festival de Cannes. Como
em "Tônica Dominante", seu
longa-metragem de estréia, de
2001, a cineasta se faz valer de
um amplo conhecimento musical e literário para sintetizá-los
sob a forma de um filme -dessa
vez, com um domínio muito
mais apurado de linguagem do
que em "Tônica...".
Lina Chamie, o co-produtor
André Klotzel e os atores Marco Ricca e Fernando Alves Pinto, entre outros membros da
equipe, apresentaram a sessão,
que terminou sob fortes aplausos. Depois, eles participaram
de um debate com a platéia.
Uma espectadora perguntou
se os poemas citados (o principal é "Campo de Flores", de
Carlos Drummond de Andrade) eram brasileiros. "Sim",
respondeu, "e a poesia no filme
tem um papel estrutural, é como a espinha dorsal". Lina, que
é filha do poeta Mario Chamie,
explicou também que as filmagens, realizadas nas ruas de São
Paulo, foram quase semidocumentais, feitas com pouco dinheiro e pouco tempo.
São Paulo, aliás, é uma personagem à parte do filme. A própria diretora já definiu "A Via
Láctea" como um "corpo-a-corpo com a cidade". O trânsito
infernal impede Heitor (Marco
Ricca) de chegar até a namorada (Alice Braga), depois de uma
discussão. Arrependido do que
disse pelo telefone, ele sai,
apressado: "Para matar a palavra errada, só um abraço", diz.
O caminho se revela uma turbulenta viagem interior, às vezes brutal e às vezes idílica,
misturando delírio e realidade.
O amplo uso da música também despertou a curiosidade
da platéia. O tema mais recorrente utilizado pela cineasta é o
"Réquiem", de Mozart. "Quando fazemos um filme assim,
não-linear, a música tem um
papel mais importante. As coisas acontecem segundo uma
ordem interior, sentimental, e
por isso a música não está ali
apenas para acompanhar a cena. Ela é a melhor forma de expressar um sentimento", diz.
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