São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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Brasileiro "A Via Láctea" é recebido com aplausos na Semana da Crítica

PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Música e poesia se encontram novamente em "A Via Láctea", de Lina Chamie, exibido ontem na Semana da Crítica do Festival de Cannes. Como em "Tônica Dominante", seu longa-metragem de estréia, de 2001, a cineasta se faz valer de um amplo conhecimento musical e literário para sintetizá-los sob a forma de um filme -dessa vez, com um domínio muito mais apurado de linguagem do que em "Tônica...".
Lina Chamie, o co-produtor André Klotzel e os atores Marco Ricca e Fernando Alves Pinto, entre outros membros da equipe, apresentaram a sessão, que terminou sob fortes aplausos. Depois, eles participaram de um debate com a platéia.
Uma espectadora perguntou se os poemas citados (o principal é "Campo de Flores", de Carlos Drummond de Andrade) eram brasileiros. "Sim", respondeu, "e a poesia no filme tem um papel estrutural, é como a espinha dorsal". Lina, que é filha do poeta Mario Chamie, explicou também que as filmagens, realizadas nas ruas de São Paulo, foram quase semidocumentais, feitas com pouco dinheiro e pouco tempo.
São Paulo, aliás, é uma personagem à parte do filme. A própria diretora já definiu "A Via Láctea" como um "corpo-a-corpo com a cidade". O trânsito infernal impede Heitor (Marco Ricca) de chegar até a namorada (Alice Braga), depois de uma discussão. Arrependido do que disse pelo telefone, ele sai, apressado: "Para matar a palavra errada, só um abraço", diz. O caminho se revela uma turbulenta viagem interior, às vezes brutal e às vezes idílica, misturando delírio e realidade.
O amplo uso da música também despertou a curiosidade da platéia. O tema mais recorrente utilizado pela cineasta é o "Réquiem", de Mozart. "Quando fazemos um filme assim, não-linear, a música tem um papel mais importante. As coisas acontecem segundo uma ordem interior, sentimental, e por isso a música não está ali apenas para acompanhar a cena. Ela é a melhor forma de expressar um sentimento", diz.


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