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62º Festival de Cannes
Ang Lee revive inocência de Woodstock
Celebrado por "O Segredo de Brokeback Mountain", diretor apresentou seu novo filme anteontem no festival francês
Para o cineasta, "Taking Woodstock" é "uma comédia sem cinismo" sobre o evento que durou três dias em 1969 e reuniu 500 mil pessoas
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
"Os últimos momentos de
inocência de uma geração" é
como o diretor taiwanês radicado nos EUA Ang Lee encara o
festival de Woodstock, que, durante três dias de 1969, reuniu
nos EUA 500 mil pessoas, dispostas a celebrar o rock'n'roll e
o lema "faça amor, não faça
guerra", enquanto o país atacava o Vietnã.
Foi nesse espírito de uma
época que Lee buscou o tema
para filmar "uma comédia sem
cinismo", segundo diz, depois
de abordar tramas trágicas como as de "Desejo e Perigo" (em
cartaz no Brasil) e "O Segredo
de Brokeback Mountain".
"Taking Woodstock" (cujo
sentido em inglês é "acolhendo
woodstock" e ainda sem título
definido para a estreia no Brasil, em 18/9) compete pela Palma de Ouro do 62º Festival de
Cannes, que lhe reservou a cobiçada noite do último sábado
para a projeção oficial.
Antes, o filme foi exibido à
imprensa, a quem Lee confessou estar "ansioso" quanto à
reação da plateia na sessão de
gala, mas procurou afastar a expectativa de prêmios.
"Não sei se eles têm alguma
coisa de ouro neste festival para
uma comédia", disse, depois
que uma jornalista chinesa citou sua coleção de Leões de Ouro em Veneza (dois), Ursos de
Ouro em Berlim (dois) e Oscar
(de direção, por "O Segredo de
Brokeback Mountain").
O tom cômico de "Taking
Woodstock" é dado pelas peripécias de seu protagonista,
Elliot Tiber, autor do livro homônimo no qual o filme se baseia, mas, sobretudo, pela personagem de sua mãe, fabulosamente vivida por Imelda
Staunton. O comediante Demetri Martin faz o papel de
Elliot, que, na tentativa de salvar da falência o hotel de seus
pais, acaba atraindo para lá o
festival de Woodstock.
Lee contou que escolheu Eric
Gautier para ser o diretor de fotografia do filme, depois de ver
seu trabalho em "Diários de
Motocicleta", de Walter Salles,
e "Na Natureza Selvagem", de
Sean Penn. "Eu precisava de alguém capaz de filmar velozmente e com espírito livre."
Um repórter do programa de
TV brasileiro "CQC" fez uma
pergunta jocosa sobre a abordagem da homossexualidade
nos filmes de Lee. O diretor
soube encontrar uma resposta
elegante. Disse que procura retratar seus personagens com a
complexidade própria dos seres humanos, sem rotulá-los.
"Sempre fui um estrangeiro,
em todo lugar, mesmo em Taiwan. Detesto ser categorizado.
Quero me ver como sou, como
um indivíduo, em sua complexidade e em sua simplicidade".
Em "Taking Woodstock",
Elliot pergunta a um personagem de sexualidade ambígua se
seus pais "sabem". Ele(a) responde: "Eu sei o que sou. Você
não acha que isso torna as coisas mais fáceis?".
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