|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livro devassa bastidores da Globo
Paulo Cesar Ferreira, ex-sócio de Roberto Marinho, lança"Pilares Via Satélite - Da Rádio Nacional à Rede Globo',obra que descreve o que acontecia fora do ar durante operíodo de ascensão da maior emissora de TV brasileira
MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local
Paulo Cesar Ferreira foi funcionário da direção da Globo por 21
anos e sócio de Roberto Marinho
na Net do Rio até 1996, quando
vendeu sua parte por US$ 25 milhões. Subserviência seria tudo
que poderia se esperar de um livro
dele sobre a Globo.
Ledo engano. Sob a aparência de
um despretensioso livro de memórias, Ferreira devassa os bastidores da Globo, com revelações
espocando aqui e ali como bombas. Quer ver três delas?
Ele sugere que a Globo contrabandeou equipamentos nos
anos 70 para enviar seus sinais para o interior de São Paulo;
Diz que, em 1969, Roberto
Marinho contou com a ajuda do
então ministro da Fazenda, Delfim
Netto, para obter os US$ 3,85 milhões com os quais compraria a
participação da Time-Life na Globo. A versão contraria a do presidente das Organizações Globo,
que nega ter recebido ajuda dos
governos militares para construir
a rede de televisão;
Segundo Ferreira, o Padrão
Globo de Qualidade, orgulho máximo da emissora, foi imposto pelos militares depois que a rede exagerou nas baixarias que colocava
no ar no início da década de 70.
Roberto Irineu Marinho, vice-presidente de operações da
Globo, José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho (Boni), vice-presidente
da emissora até o ano passado e
consultor atualmente, e o deputado Delfim Netto (PPB-SP) têm outras versões para esses três episódios (leia texto à pág. 5-5).
"Pilares Via Satélite - Da Rádio
Nacional à Rede Globo", livro de
Ferreira que está chegando esta semana às livrarias, narra a ascensão
de um garoto que nasceu numa
casa com teto de zinco e piso de
terra no subúrbio do Rio e chegou
a sócio de Marinho.
O pulo do office-boy a radialista,
do radialista a jornalista e do jornalista a executivo da Globo, porém, é o que menos interessa. O
que atrai no livro é a visão de Ferreira sobre os bastidores da Globo,
na qual a imagem do império
triunfal é substituída pelo caos.
O cortiço
Sala para trabalhar? João Araújo
sequer tinha uma quando foi encarregado de criar a Som Livre, o
braço musical da Globo. Tinha de
trabalhar no refeitório, no intervalo das refeições.
Banheiro para gravações externas também não havia. Tanto que
a atriz Glória Menezes quase foi
picada por uma cobra quando fazia xixi no mato durante a gravação de uma novela.
Antes do Carnaval, figurinos da
Globo eram pilhados por funcionários e transformados em fantasias. Segundo Ferreira, entrava
quem queria na emissora. Sobre a
sede da Globo nos anos 70, ele diz:
"Estava à beira do colapso. O tal
prédio de três andares, aclamado
como o edifício do ano 2000 dez
anos antes, parecia um cortiço".
Ferreira parte dessas miudezas
para avançar sobre o núcleo do
poder na Globo e suas relações
com o regime militar (1964-1985).
Delfim Netto, ministro da Fazenda do governo Costa e Silva
(1967-1969), é apresentado no livro como um interlocutor frequente de Roberto Marinho.
É a ele que Marinho teria recorrido em 1969, quando o acordo
com a Time-Life tornou-se insustentável por ser irregular e o empresário decidiu comprar a parte
dos americanos na emissora. O
acordo era irregular porque a lei
vetava o capital estrangeiro em
meios de comunicação.
Delfim Netto teria intercedido
junto ao Banco do Estado da Guanabara para Marinho conseguir a
verba, segundo o autor.
Delfim também teria ajudado
Roberto Irineu Marinho, diretor
da Rio Gráfica na década de 70,
num momento de dificuldade.
Ferreira conta no livro que Irineu Marinho procurou Delfim em
1969 para que a impressão de formulários do Imposto de Renda,
um monopólio da Editora Bloch à
época, também fossem impressos
pela gráfica da Globo.
Delfim Netto confirma o encontro, mas diz que a Rio Gráfica venceu uma concorrência para imprimir os formulários junto com a
Bloch e a Editora Abril, versão
idêntica à de Irineu Marinho.
A intimidade dos militares com
a Globo era tanta que havia dentro
da emissora no Rio um "assessor
militar", conta Ferreira, chamado
Edgardo Manoel Erichsen.
Era ele quem cuidava do patrocínio dos programas que bajulavam
os militares, como "Amaral Neto,
o Repórter", Olimpíadas do Exército e festas da Independência.
Livro: Pilares Via Satélite - Da Rádio
Nacional à Rede Globo
Autor: Paulo Cesar Ferreira
Lançamento: Rocco
Quanto: R$ 25 (248 págs.)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|