São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

ROCK

Grupo de Jeff Tweedy lança sucessor do aclamado "Yankee Hotel Foxtrot"

Líder do Wilco inicia viagem interna em "A Ghost Is Born"

KEVIN HARLEY
DO "INDEPENDENT"

É animador encontrar o líder do Wilco, Jeff Tweedy, tão entusiasmado durante o festival Primavera Sound, de Barcelona. Ele sofre de um certo jet lag, mas está mais loquaz do que se poderia supor, dados os problemas que vem enfrentando recentemente.
Quando o lançamento do quinto álbum da banda, "A Ghost Is Born", foi adiado, dois meses atrás (mas que chega na próxima terça-feira às lojas de EUA e Europa), a decisão se devia à internação do cantor em uma clínica de reabilitação para tentar se livrar de seu vício de analgésicos, que ele consumia em grandes quantidades contra as enxaquecas que o afligem há muito tempo. Questionado sobre as dificuldades de gravar o álbum naquelas circunstâncias, ele ri nervosamente: "Em termos de dinâmica da banda, foi fácil", diz. "Mas tive dificuldades pessoais tão grandes que a sensação foi a de um banho de sangue."
Não é a primeira ocasião em que um disco do Wilco traz como brinde um grande drama, se bem que o caso anterior tenha terminado de maneira feliz. Em 2001, "Yankee Hotel Foxtrot" teve seu lançamento adiado em um ano depois que a gravadora Reprise os dispensou ao ouvir o disco.
Mas o Wilco não se deixou derrotar: a banda divulgou o álbum em seu site, atraiu mais de 300 mil downloads e logo conquistou a atenção de que precisava. Após assinar com a Nonesuch (uma divisão da Warner, como a Reprise, o que quer dizer que a AOL Time Warner pagou duas vezes pelo disco), eles lançaram em 2002 o álbum que se tornaria seu maior sucesso de vendas.
Mas a virada de maré não se refletiu nas enxaquecas de Tweedy. "Passei pelo pior período da minha vida", diz ele. "Lutei contra enxaquecas, depressão, síndrome do pânico por muito tempo. Em fevereiro, tive tempo para cuidar da saúde porque não queria iniciar o ano, com o lançamento do disco e de uma turnê, dependente da química."
É difícil não perceber parte dessa experiência no contexto de "A Ghost Is Born". Até certo ponto, o disco anterior explorava o senso de ansiedade que toma os americanos. Mas o novo trabalho é uma viagem interna. "O que escrevo vem do meu inconsciente", diz.
Enquanto "Yankee Hotel Foxtrot" era, nas palavras de Tweedy, "uma reflexão sobre tentar sair de si mesmo", "A Ghost Is Born" é uma reação a isso. "O disco trata da idéia de que talvez o certo seja tentar entrar em si mesmo", afirma. "Talvez não seja possível saber o que estou tentando dizer até que eu compreenda quem sou. E acho que o novo disco chega a uma conclusão melhor do que "Yankee Hotel Foxtrot". É como se dissesse que eu não sou o que penso ser, e não saber não faz mal, de modo que o importante é estar presente em minha vida e aceitar que ela está mudando."
"Não acho que o disco anterior fosse uma tentativa de me fazer inacessível", diz. "E o novo é só um disco de rock, sabe? Estou orgulhoso de que exponha tudo. Adoro discos que criam um universo próprio e acho que o fiz melhor nos dois últimos do que nos três discos anteriores."
Ele parte deixando uma imagem esclarecedora: "Foi como em "A Fantástica Fábrica de Chocolate", quando você imagina que aparência Willy Wonka terá. E ele caminha pela pista, as crianças preocupadas..., mas ele dá aquela cambalhota, e é como dissesse que está de volta como novo".


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