Grife abriu SPFW com desfile inspirado na chuva, aliando lirismo e design

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Raras vezes os desfiles de moda conseguem atingir uma intensidade lírica como a que se viu ontem na apresentação da Osklen, que abriu a temporada do verão 2008/09 da São Paulo Fashion Week.
Inspirada num dia de chuva e nos efeitos prismáticos da água, a coleção da grife carioca conseguiu aliar inventividade com um lirismo comovente, embora comedido e calculado.
A mescla de texturas e de cores, os detalhes que se referem aos reflexos da água, os efeitos de luminosidade e transparência -tudo isso autoriza a dizer que, além de uma moda de alto nível, a Osklen desta vez foi também capaz de criar uma poética para as roupas.
O mais interessante, porém, é que essa combinação entre design criativo e força estética seja feita por uma grife de grande alcance no mercado.
O desfile tem vários tempos. No início, é solar, depois aproxima-se da luz do crepúsculo e, por fim, deixa a noite invadir as roupas. Começa com aplicações delicadas que lembram gotas finas e prateadas, penduradas em cascata sobre vestidos fluidos. Nos vestidos de noite, as aplicações surgem em cor preta, como se uma chuva escura tombasse sobre as roupas.
As referências são ricas, com forte evocação do estilo japonista. Os pulls, em belos tricôs resinados, despedaçam-se em abas e são recompostos por amarrações. Os acabamentos esfarrapados de algumas peças não impedem de sentir o "feeling" de sofisticação que domina o conjunto, revelando um planejamento cuidadoso de cortes, cores e estampas.
O plástico criou efeitos furta-cor, como os de vidros transparentes ou de manchas de óleo no asfalto molhado. O material também apareceu nas sandálias, nas alças superlargas e num vestido inteiriço.
Trata-se de um desfile revelador. Mostra que a Osklen está empenhada em buscar ainda mais sofisticação em design e idéias -talvez por demanda do mercado externo, onde a grife tenta agora buscar o sucesso.


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