Obras recentes de Darnton tratam do ambiente cultural revolucionário

Autor pesquisa música de rua na França do século 18; e trabalho sobre blasfêmia é lançado nos EUA

DA EDITORA DA ILUSTRADA

O século 18 é inesgotável diante da curiosidade de Robert Darnton. Tanto que ele segue fuçando os arquivos que o ajudaram a compor as obras que o fizeram célebre. Um de seus preferidos é o da polícia francesa da época.
"Eles eram muito eficientes na coleta e no armazenamento de informações. Poderia ser ruim para os franceses daquele tempo, mas certamente é ótimo para os historiadores de hoje."
Dessa fonte resultam dois trabalhos que vêm por aí. Um deles sairá nos EUA até o fim do ano e tratará das canções de rua na França na época da Revolução. Será um estudo de músicas populares que tinham conteúdo contestatório. O historiador conseguiu remontar as letras e até mesmo as melodias das mesmas.
O outro saiu recentemente lá fora e foi comprado pela Companhia das Letras, que ainda não tem data para lançá-lo. É "The Devil and the Holy Water" (o demônio e a água sagrada), estudo de publicações políticas cujo alvo eram figuras públicas.
Nesses libelos, falava-se da vida pessoal de poderosos em geral, que eram humilhados ao ter intimidade exposta e reputação ameaçada.
Por meio do estudo desses panfletos, Darnton faz uma análise do papel da blasfêmia na cultura política urbana revolucionária da época.
Algumas das ilustrações das publicações estão no livro e permitem entender melhor os paralelos traçados pelo historiador.
O livro começa contando a história dos autores refugiados franceses que viviam em Londres e de lá publicavam ataques a figuras públicas de Versalhes e dos agentes secretos enviados pela França para contê-los. Depois, segue analisando o impacto dessas publicações nos governos e na dinâmica política do país.

CAMPEÕES DE VENDAS
Darnton relata como esse grupo de escritores conseguiu inundar o mercado com essas edições. "Muitos chegaram a vender mais do que algumas das obras mais importantes do iluminismo.
Não é uma produção que possamos ignorar", diz. Assim, o historiador conclui também que não eram apenas políticas as motivações dos "libelistes". Muitos estavam no negócio para ganhar dinheiro.
Se, por um lado, a obra permite obter uma outra perspectiva sobre as origens e as consequências da Revolução Francesa, por outro dá espaço para uma reflexão sobre a liberdade de expressão e a circulação de informações até os dias de hoje.
(SYLVIA COLOMBO)