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LITERATURA
Em livro lançado pela editora Rocco, Jason Webster descreve sua experiência com a música e a dança espanhola
Flamenco dá o tom e os passos de um ritual de passagem
LUCIANA ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando a Folha perguntou a Jason Webster, 35, até que ponto
seu livro "Flamenco", lançado pela Rocco, relata experiências reais
vividas por ele na Espanha, a resposta não foi muito específica.
"É um livro que descreve um ritual de passagem, o processo de
tentar amadurecer emocionalmente depois de anos de treinamento intelectual", conta o autor,
nascido nos EUA e criado entre a
Alemanha e a Inglaterra, onde,
neste último país, formou-se na
Universidade de Oxford.
"Quando recebi meu diploma,
me senti desinformado, imaginando que precisaria aprender
muito para poder me considerar
um adulto. Chegar à Espanha e
aprender flamenco foi parte dessa
experiência", destaca Webster.
Diante dessa resposta, é possível
ler o conteúdo de "Flamenco" como uma metáfora da descoberta
do "eu" de um anglo-saxão por
meio do encontro com a música e
a dança espanhola, mas não é
bem isso, como ficou claro em
resposta a outra pergunta: A história de um estrangeiro que chega
à Espanha para aprender a tocar
flamenco e se apaixona por uma
dançarina não é clichê? "Vou contar para minha mulher. Embora
eu não tenha certeza se ela vai gostar de ter nossa relação descrita
como clichê", retruca Webster.
Enfim, apesar de o autor não
deixar claro o que é ou não é real
em seu livro, uma coisa é certa,
quando o assunto une flamenco e
esse autor, uma leitura apenas ficcional ou uma avaliação de seus
valores literários pode ser equivocada. Então, vamos aos "fatos".
Em "Flamenco", Webster narra
sua ida à Espanha em busca do
flamenco. Primeiro ele chega à cidade de Alicante. Nesse lugar, ele
assiste a uma apresentação de flamenco e experimenta uma espécie de estado de espírito provocado pelo ritmo musical e pelos movimentos do corpo da dançarina:
"Duende". A "sensação", entretanto, é descrita de formas variadas no livro. "Não defini "duende"
precisamente porque não acho
que seja algo que possa ser descrito, tem de ser sentido, e pessoas
diferentes sentirão de formas diferentes", explica o escritor.
Em Alicante, o protagonista
aprende a tocar violão e tem um
caso com Lola, dançarina casada
com o dono da escola de inglês
onde ele dá aulas. A repulsa do
marido traído pelo flamenco e a
paixão pelas armas fazem com
que o amante estrangeiro deixe a
cidade rumo a Madri. Lá, ele conhece um grupo de ciganos, com
o qual passa a tocar em turnês,
além de consumir cocaína e participar de roubos de carros.
Entre uma aventura e outra,
Webster traz à tona histórias do
próprio flamenco e de seus ícones, como sua origem inexata, entre influências ciganas e mouras e
nomes como o do músico Paco de
Lucía e a dançarina La Argentinita, musa nas décadas de 20 e 30.
Atualmente, os ídolos de Webster são o cantor Enrique Morente,
"por ele ter um equilíbrio entre
tradição e inovação", e a dançarina Eva la Yerbabuena. "A única
que me faz chorar", confessa.
O livro reafirma muito da paixão e sensualidade flamenca mas
também mostra facetas menos sedutoras, refletindo a experiência
vivida pelo autor, que de fato tornou-se músico, casou-se com
uma dançarina e hoje mora em
Valência. "Fiquei desencantado
algumas vezes. Mas alguma coisa
sempre deixa você apaixonado
novamente. Como quando se ouve um cigano cantando sob sua janela", descreve Webster.
Flamenco
Autor: Jason Webster
Tradução: Waldéa Barcellos
Editora: Rocco
Quanto: R$ 42 (318 págs.)
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