São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

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LITERATURA

Em livro lançado pela editora Rocco, Jason Webster descreve sua experiência com a música e a dança espanhola

Flamenco dá o tom e os passos de um ritual de passagem

LUCIANA ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando a Folha perguntou a Jason Webster, 35, até que ponto seu livro "Flamenco", lançado pela Rocco, relata experiências reais vividas por ele na Espanha, a resposta não foi muito específica.
"É um livro que descreve um ritual de passagem, o processo de tentar amadurecer emocionalmente depois de anos de treinamento intelectual", conta o autor, nascido nos EUA e criado entre a Alemanha e a Inglaterra, onde, neste último país, formou-se na Universidade de Oxford.
"Quando recebi meu diploma, me senti desinformado, imaginando que precisaria aprender muito para poder me considerar um adulto. Chegar à Espanha e aprender flamenco foi parte dessa experiência", destaca Webster.
Diante dessa resposta, é possível ler o conteúdo de "Flamenco" como uma metáfora da descoberta do "eu" de um anglo-saxão por meio do encontro com a música e a dança espanhola, mas não é bem isso, como ficou claro em resposta a outra pergunta: A história de um estrangeiro que chega à Espanha para aprender a tocar flamenco e se apaixona por uma dançarina não é clichê? "Vou contar para minha mulher. Embora eu não tenha certeza se ela vai gostar de ter nossa relação descrita como clichê", retruca Webster.
Enfim, apesar de o autor não deixar claro o que é ou não é real em seu livro, uma coisa é certa, quando o assunto une flamenco e esse autor, uma leitura apenas ficcional ou uma avaliação de seus valores literários pode ser equivocada. Então, vamos aos "fatos".
Em "Flamenco", Webster narra sua ida à Espanha em busca do flamenco. Primeiro ele chega à cidade de Alicante. Nesse lugar, ele assiste a uma apresentação de flamenco e experimenta uma espécie de estado de espírito provocado pelo ritmo musical e pelos movimentos do corpo da dançarina: "Duende". A "sensação", entretanto, é descrita de formas variadas no livro. "Não defini "duende" precisamente porque não acho que seja algo que possa ser descrito, tem de ser sentido, e pessoas diferentes sentirão de formas diferentes", explica o escritor.
Em Alicante, o protagonista aprende a tocar violão e tem um caso com Lola, dançarina casada com o dono da escola de inglês onde ele dá aulas. A repulsa do marido traído pelo flamenco e a paixão pelas armas fazem com que o amante estrangeiro deixe a cidade rumo a Madri. Lá, ele conhece um grupo de ciganos, com o qual passa a tocar em turnês, além de consumir cocaína e participar de roubos de carros.
Entre uma aventura e outra, Webster traz à tona histórias do próprio flamenco e de seus ícones, como sua origem inexata, entre influências ciganas e mouras e nomes como o do músico Paco de Lucía e a dançarina La Argentinita, musa nas décadas de 20 e 30.
Atualmente, os ídolos de Webster são o cantor Enrique Morente, "por ele ter um equilíbrio entre tradição e inovação", e a dançarina Eva la Yerbabuena. "A única que me faz chorar", confessa.
O livro reafirma muito da paixão e sensualidade flamenca mas também mostra facetas menos sedutoras, refletindo a experiência vivida pelo autor, que de fato tornou-se músico, casou-se com uma dançarina e hoje mora em Valência. "Fiquei desencantado algumas vezes. Mas alguma coisa sempre deixa você apaixonado novamente. Como quando se ouve um cigano cantando sob sua janela", descreve Webster.


Flamenco
Autor: Jason Webster
Tradução: Waldéa Barcellos
Editora: Rocco
Quanto: R$ 42 (318 págs.)


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