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ARTES PLÁSTICAS
Mostra enfoca as fases sombria e radiante do pintor espanhol
Berlim vê os dois mundos de Goya
DA ASSOCIATED PRESS, DE BERLIM
Francisco de Goya pintou dois
mundos, um deles sombrio e escuro, outro radiante de luz e cor.
Ambos estão à mostra desde a última quarta-feira, quando foi
inaugurada no Alte Nationalgalerie de Berlim uma grande exposição da obra do pintor espanhol.
Os estados de espírito de Goya
(1746-1828) estão expostos em telas ensolaradas como "O Guarda-Sol", em que um homem protege
do sol uma mulher de corpete
azul brilhante e vestido amplo em
cor ocre, e também em obras estranhas e grotescas como "Vôo
das Bruxas", na qual as bruxas
voam em círculo num céu negro,
além das telas em que Goya retratou internos em hospícios.
O percurso do visitante começa
com as telas iluminadas, anteriores, enquanto as salas mais perto
do final contêm os quadros mais
lúgubres, muitos deles produzidos na fase final da vida do artista,
quando ele estava doente e já perdera a audição.
"É fantástico ver como esses
dois mundos podem andar em
paralelo", comentou o curador da
exposição, Moritz Wullen.
O museu levou dez anos para
reunir os 79 quadros, alguns vindos do Museu do Prado, em Madri, mas muitos outros de coleções particulares ou de museus
menores. O resultado é uma visão
ampla e incomum de um artista
cuja obra é considerada precursora da arte moderna.
Entre os tesouros cedidos pelo
Prado está "Tobias e o Anjo", um
trabalho da primeira fase de Goya, descrito por Wullen como
"doce" e "religioso". "Nem sequer
se imaginaria que é Goya", comentou o curador.
O trabalho de que Wullen mais
gosta na mostra é "Lazarilho de
Tormes", outra tela sombria baseada numa cena do romance homônimo do século 16 em que um
velho cego enfia a mão na boca de
um jovem, temendo que este tenha comido seu jantar. "É um tema tão extremo e uma ilustração
tão extrema dele", disse Wullen.
"Nunca antes houve uma imagem
como essa, e nunca mais haverá."
De acordo com o curador, as cenas pintadas do asilo de loucos
são únicas. "Goya não era louco; o
que ele fazia era uma ilustração
moderna. Ele literalmente se sentava entre os loucos, munido de
lápis, e pintava ali mesmo. Isso
nunca tinha sido feito antes", comentou Wullen.
O curador revelou que o museu
teve muito trabalho para conseguir telas como "Canibais" (do
Musée de Ville, na França) e o
"Auto-Retrato" (da Academia em
Madri). Em vista das dificuldades
envolvidas na obtenção de telas
altamente valorizadas de tantos
lugares diferentes, os amantes de
Goya não devem esperar ver outra exposição como esta, disse
Wullen. "Fora o Museu do Prado,
esta é a única e, na realidade, a última chance de vermos Goya em
tal escala", completou.
A exposição "Goya: Profeta do
Moderno" ficará até 3 de outubro
em Berlim. Em seguida a mostra
será transferida para o Kunsthistorisches Museum, em Viena, de
18 de outubro a 8 de janeiro. Mais
informações sobre a exposição estão disponíveis no endereço na
internet www.goyainberlin.org.
Com textos em inglês ou alemão,
o site mostra algumas das obras
em cartaz em Berlim.
Tradução de Clara Allain
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