São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra enfoca as fases sombria e radiante do pintor espanhol

Berlim vê os dois mundos de Goya

DA ASSOCIATED PRESS, DE BERLIM

Francisco de Goya pintou dois mundos, um deles sombrio e escuro, outro radiante de luz e cor. Ambos estão à mostra desde a última quarta-feira, quando foi inaugurada no Alte Nationalgalerie de Berlim uma grande exposição da obra do pintor espanhol.
Os estados de espírito de Goya (1746-1828) estão expostos em telas ensolaradas como "O Guarda-Sol", em que um homem protege do sol uma mulher de corpete azul brilhante e vestido amplo em cor ocre, e também em obras estranhas e grotescas como "Vôo das Bruxas", na qual as bruxas voam em círculo num céu negro, além das telas em que Goya retratou internos em hospícios.
O percurso do visitante começa com as telas iluminadas, anteriores, enquanto as salas mais perto do final contêm os quadros mais lúgubres, muitos deles produzidos na fase final da vida do artista, quando ele estava doente e já perdera a audição.
"É fantástico ver como esses dois mundos podem andar em paralelo", comentou o curador da exposição, Moritz Wullen.
O museu levou dez anos para reunir os 79 quadros, alguns vindos do Museu do Prado, em Madri, mas muitos outros de coleções particulares ou de museus menores. O resultado é uma visão ampla e incomum de um artista cuja obra é considerada precursora da arte moderna.
Entre os tesouros cedidos pelo Prado está "Tobias e o Anjo", um trabalho da primeira fase de Goya, descrito por Wullen como "doce" e "religioso". "Nem sequer se imaginaria que é Goya", comentou o curador.
O trabalho de que Wullen mais gosta na mostra é "Lazarilho de Tormes", outra tela sombria baseada numa cena do romance homônimo do século 16 em que um velho cego enfia a mão na boca de um jovem, temendo que este tenha comido seu jantar. "É um tema tão extremo e uma ilustração tão extrema dele", disse Wullen. "Nunca antes houve uma imagem como essa, e nunca mais haverá."
De acordo com o curador, as cenas pintadas do asilo de loucos são únicas. "Goya não era louco; o que ele fazia era uma ilustração moderna. Ele literalmente se sentava entre os loucos, munido de lápis, e pintava ali mesmo. Isso nunca tinha sido feito antes", comentou Wullen.
O curador revelou que o museu teve muito trabalho para conseguir telas como "Canibais" (do Musée de Ville, na França) e o "Auto-Retrato" (da Academia em Madri). Em vista das dificuldades envolvidas na obtenção de telas altamente valorizadas de tantos lugares diferentes, os amantes de Goya não devem esperar ver outra exposição como esta, disse Wullen. "Fora o Museu do Prado, esta é a única e, na realidade, a última chance de vermos Goya em tal escala", completou.
A exposição "Goya: Profeta do Moderno" ficará até 3 de outubro em Berlim. Em seguida a mostra será transferida para o Kunsthistorisches Museum, em Viena, de 18 de outubro a 8 de janeiro. Mais informações sobre a exposição estão disponíveis no endereço na internet www.goyainberlin.org. Com textos em inglês ou alemão, o site mostra algumas das obras em cartaz em Berlim.


Tradução de Clara Allain

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