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Quarteto Maogani se apresenta hoje em projeto instrumental
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A música popular brasileira tem
uma grandiosa tradição instrumental em sua história. O violão é,
talvez, o instrumento musical
mais imediatamente reconhecido
como fazendo parte dessa história. Carregando ambas tradições,
o Quarteto Maogani é uma das
formações mais elogiadas da contemporânea música instrumental
brasileira. E eles trazem sua música hoje a São Paulo, para apresentação no teatro Alfa, dentro do
projeto Instrumental em Alfa.
O Quarteto Maogani foi formado por Marcus Tardelli, Carlos
Chaves, Marcos Alves e Paulo
Aragão em 1995, em um curso de
harmonia funcional e improvisação do lendário violonista Marco
Pereira, na Universidade Federal
do Rio de Janeiro, onde todos estudaram música. De lá pra cá, foram prêmios, muitos shows e três
álbuns. O mais recente, "Água de
Beber" -dedicado a Tom Jobim-, lançado no ano passado
pela gravadora carioca Biscoito
Fino.
Para esse show hoje em São
Paulo, o quarteto traz exatamente
o repertório desse disco e esta homenagem a Tom Jobim, mas
acrescido de alguns choros, de
compositores como Ernesto Nazareth, Mauricio Carrilho, Satyro
Bilhar e Joaquim Callado. Marcos
Alves explica: "Nós estamos começando a estudar projetos para
nosso novo disco, para o ano que
vem, e uma das idéias que surgiram foi gravar um álbum dedicado ao choro. Então, estamos
criando arranjos, experimentando repertório, testando a reação
do público".
Ele conta que o grupo já tem
uma tradição de gravar discos
com uma idéia, mais do que simplesmente compilar músicas. "Eu
acho que na arte a idéia é a coisa
principal. Sem uma idéia por trás,
a arte não se sustenta. Então, para
nossos álbuns, primeiro pensamos em uma idéia e depois começamos a pesquisar repertório em
cima das coisas que achamos que
vão funcionar dentro disso. Testamos essas coisas no show, o público é nosso termômetro. O que
funciona bem vai para o disco,
que depois funciona como base
para o show. É tudo um ciclo."
Uma das principais características do Quarteto Maogani, que
vem desde o berço do conjunto, é
a ponte que estabelecem naturalmente entre erudito e popular. Seguindo a tradição de músicos como Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos -e Tom Jobim-, o
quarteto não coloca limites na sua
música, deixando as barreiras entre as duas coisas se tornarem
quase inexistentes. Com vivência
erudita, mas forte interesse popular, os músicos do quarteto desenvolvem arranjos camerísticos que
soam populares e trazem profundidade clássica. "Entre nós, nem
usamos mais esses termos. Já se
tornaram coisas intrínsecas", diz.
Por sua riqueza de referências, o
som do conjunto acaba soando
atemporalmente brasileiro. Questionado se considera suas interpretações como algo moderno ou
tradicional, o músico demonstra
o espírito do quarteto: "O conceito de modernidade é algo muito
relativo, tanto para quem faz
quanto para quem ouve. Alguns
acham que fazer música moderna
é encher as composições de polirritmias e dissonâncias. Outros
acham que é tocar samba com um
DJ. Outros já acham que, se você
tocar uma composição do século
19 sem mudar nada, aquilo vai ser
muito moderno. São todos conceitos muito diferentes e amplos e
válidos. Mas, pra gente, isso é uma
coisa meio ambígua. Nós não
pensamos muito se o que fazemos
é moderno ou não, mas acho que
nos encaixamos na tradição e na
modernidade juntas. A gente mistura tudo".
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