São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

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Quarteto Maogani se apresenta hoje em projeto instrumental

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A música popular brasileira tem uma grandiosa tradição instrumental em sua história. O violão é, talvez, o instrumento musical mais imediatamente reconhecido como fazendo parte dessa história. Carregando ambas tradições, o Quarteto Maogani é uma das formações mais elogiadas da contemporânea música instrumental brasileira. E eles trazem sua música hoje a São Paulo, para apresentação no teatro Alfa, dentro do projeto Instrumental em Alfa.
O Quarteto Maogani foi formado por Marcus Tardelli, Carlos Chaves, Marcos Alves e Paulo Aragão em 1995, em um curso de harmonia funcional e improvisação do lendário violonista Marco Pereira, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde todos estudaram música. De lá pra cá, foram prêmios, muitos shows e três álbuns. O mais recente, "Água de Beber" -dedicado a Tom Jobim-, lançado no ano passado pela gravadora carioca Biscoito Fino.
Para esse show hoje em São Paulo, o quarteto traz exatamente o repertório desse disco e esta homenagem a Tom Jobim, mas acrescido de alguns choros, de compositores como Ernesto Nazareth, Mauricio Carrilho, Satyro Bilhar e Joaquim Callado. Marcos Alves explica: "Nós estamos começando a estudar projetos para nosso novo disco, para o ano que vem, e uma das idéias que surgiram foi gravar um álbum dedicado ao choro. Então, estamos criando arranjos, experimentando repertório, testando a reação do público".
Ele conta que o grupo já tem uma tradição de gravar discos com uma idéia, mais do que simplesmente compilar músicas. "Eu acho que na arte a idéia é a coisa principal. Sem uma idéia por trás, a arte não se sustenta. Então, para nossos álbuns, primeiro pensamos em uma idéia e depois começamos a pesquisar repertório em cima das coisas que achamos que vão funcionar dentro disso. Testamos essas coisas no show, o público é nosso termômetro. O que funciona bem vai para o disco, que depois funciona como base para o show. É tudo um ciclo."
Uma das principais características do Quarteto Maogani, que vem desde o berço do conjunto, é a ponte que estabelecem naturalmente entre erudito e popular. Seguindo a tradição de músicos como Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos -e Tom Jobim-, o quarteto não coloca limites na sua música, deixando as barreiras entre as duas coisas se tornarem quase inexistentes. Com vivência erudita, mas forte interesse popular, os músicos do quarteto desenvolvem arranjos camerísticos que soam populares e trazem profundidade clássica. "Entre nós, nem usamos mais esses termos. Já se tornaram coisas intrínsecas", diz.
Por sua riqueza de referências, o som do conjunto acaba soando atemporalmente brasileiro. Questionado se considera suas interpretações como algo moderno ou tradicional, o músico demonstra o espírito do quarteto: "O conceito de modernidade é algo muito relativo, tanto para quem faz quanto para quem ouve. Alguns acham que fazer música moderna é encher as composições de polirritmias e dissonâncias. Outros acham que é tocar samba com um DJ. Outros já acham que, se você tocar uma composição do século 19 sem mudar nada, aquilo vai ser muito moderno. São todos conceitos muito diferentes e amplos e válidos. Mas, pra gente, isso é uma coisa meio ambígua. Nós não pensamos muito se o que fazemos é moderno ou não, mas acho que nos encaixamos na tradição e na modernidade juntas. A gente mistura tudo".

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